Música e Educação Musical nas escolas? | O que assusta políticos e governantes? | Opinião

A arte é “perigosa”! Pelo menos é assim que devem pensar alguns políticos e governantes por este mundo fora. Tudo o que possibilite mais do que uma interpretação ou que faça pensar o povo é muitas vezes considerado dispensável. A música não foge à regra.

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Ao debruçarmo-nos sobre o pensamento de Terigi sobre a arte, arriscámo-nos a fazer algumas analogias para situações concretas com as quais nos debatemos nos mais variados cenários, incluindo o cenário "escola".

Atentemos às questões que nos deixa Terigi (1998) na obra "Artes y Escuela":
- Por que razão incluir ou excluir as artes nos currículos escolares?
- Serão as Expressões Artísticas um luxo?
- Um apoio ao desenvolvimento cognitivo geral?
- Um campo da experiência humana ao qual os alunos deverão ter oportunidade de acesso?
- Uma forma de ensino fundamental que deve ter o seu lugar na educação?

Quem se dedica ao desenvolvimento de currículos escolares, certamente que já passou por estas questões. Pensamos que, em pleno século XXI, poucos seriam os que teriam coragem de assumir publicamente que as artes são um saber inútil. Pensamos mesmo que ninguém seria capaz de pedir que estas fossem suprimidas em detrimento de outras consideradas mais importantes.

Não menos intrigante é o facto de, independentemente destas constatações, ainda hoje, muitas decisões serem tomadas tendo como base o peso relativo das diferentes áreas.

Assim, se por um lado fica clara a presença das disciplinas artísticas, por outro, estas nunca, ou raramente, assumem um papel equiparado ao das restantes disciplinas. Este problema é resumido por Terigi assim: "Es difícil que las artes no estén presentes en el curriculum; es difícil que estén en igualdad de possibilidades que las disciplinas consideradas «principales»".

A música, enquanto arte, não foge a este problema transversal a todas as áreas artísticas. Por mais justificações teóricas, teses académicas, ou palestras informadas sobre a pertinência de considerar a música parte igual num currículo que contribua para a formação integral das crianças e dos jovens, parece que não é fácil afastar para sempre a questão "Porquê a música nos currículos escolares?"

- Porque ocupa um lugar na história da humanidade.
- Porque é um produto e uma criação do homem, que possibilita a transcendência do mesmo.
- Porque na música está a história dos povos, as suas crenças, os seus rituais e seus costumes.
- Porque com as suas vozes e os seus instrumentos nos fala das diferentes épocas.
- Porque é memória e viagem pelo tempo reforçando a presença, renovando e revigorando...
- Porque é variada a sua gama de diferenças e semelhanças
- Porque expressa e comunica.
- Porque emociona e ensina.
- Porque, em comunicação com o corpo, possibilita gestos, movimentos, jogos e a materialização de sonhos.
- Porque, aliada ao texto, canta versos, conta histórias... (Akoschky)

Se a educação artística, em geral, e a música, em particular, são detentoras de tão rico potencial educativo, formativo e performativo, por que razão se resiste tanto à sua implementação em "pé de igualdade" com as restantes disciplinas do currículo?

Cada vez fica mais clara a ideia de que tal só acontece porque políticos e governantes têm medo do desenvolvimento da literacia artística do seu povo.

Não são aspetos de ordem financeira ou económica os que demovem muitos políticos de apostar na música pois esta área também gera dividendos.

Não são aspetos ligados à despesa pois muitos políticos ao abrigo do pretexto cultural gastam verdadeiras fortunas patrocinando espetáculos de qualidade musical mais do que duvidosa ou até mesmo enganosa.

Um povo que conhece a arte e os artistas arrisca-se a ser reflexivo, criativo e empreendedor. Características que amedrontam os que governam baseados na esmola e no receio.

O argumento de que "se dá ao povo o que ele gosta", não colhe pois ninguém gosta do que não conhece. Os governantes que não proporcionam aos seus povos cultura digna desse nome não honram o mandato que lhes foi atribuído.

O povo não está isento de culpa pois, não raras vezes se deixa iludir (conscientemente) acabando por dar como moeda de troca a reivindicação que deixa de fazer em detrimento de consumos mais imediatos.

E já agora... Caro leitor teria coragem de defender na escola do seu filho cargas horárias mais equilibradas entre as disciplinas?

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