Schumann: Piano Quintet Op. 44, Piano Quartet Op. 47
Schumann: Piano Quintet Op. 44, Piano Quartet Op. 47
Nils Anders Mortensen; Engegård Quartet
LAWO Classics
LWC1189
2019 / CD
São muitas as boas gravações de música de câmara de Robert Schumann, em muitos casos rivalizando entre si nas escolhas do público melómano em torno de quais as melhores referências para algumas das composições mais tocantes do mestre alemão. Entre essas obras, o Quinteto Op.44 e o Quarteto Op.47, são dois dos principais monumentos do seu repertório camerístico, recentemente gravados pelo pianista norueguês Nils Anders Mortensen e o Engegård Quartet (que já tinha gravado os quartetos de cordas de Schumann para a BIS em 2018).
Com um cardápio tão apetecível, mas também imensamente conhecido e gravado ao longo de décadas, as interpretações registadas neste novo disco da Lawo Classics demonstram um bom entrosamento entre os intérpretes, transversal a praticamente toda a gravação, sobressaindo a forma enérgica e sólida com são executados os movimentos rápidos, por exemplo os scherzi de cada uma das obras gravadas, garantindo um carácter dramático e de constante tensão que está muito perto da perfeição no scherzo do Quarteto Op.47.
Não se trata de uma gravação que garanta, no entanto, uma apreciação consensual ou, pelo menos, não é convencional se considerarmos alguns aspectos interpretativos que são, aqui e ali, explorados. Muitas dessas escolhas prendem-se com questões de tempo, entre as quais talvez a mais desafiante seja o tempo escolhido para o terceiro andamento (andante cantabile) do Quarteto Op.47, que é manifestamente mais vivo e rápido do que habitualmente se pratica, quase transportando o cantabile para uma atmosfera verdadeiramente dançante que marca todo o andamento nesta interpretação.
Por outro lado, a gravação, na Igreja de Sofienberg (Oslo), reflecte um espaço com uma belíssima acústica. No entanto, o resultado final entre captação e mistura é demasiado difuso, com demasiada reverberação para um repertório deste tipo, que poderia privilegiar de uma abordagem com um carácter um pouco mais intimista, uma vez que não são poucas as vezes que ao longo da audição determinadas passagens e interjeições do diálogo entre os diferentes elementos, acabam por não produzir o efeito devido ou passar um pouco ao de leve, perdendo-se o propósito que as mesmas poderiam, ou deveriam, provocar para a tensão e discurso musical.
Em todo o caso, essas escolhas estéticas, tanto do ponto de vista musical como sonoro, têm o mérito de ser concretizadas com um elevado rigor artístico e técnico que marca esta gravação que revisita um repertório sempre deslumbrante e, como fica aqui provado, capaz de questionar o ouvinte sobre diferentes caminhos interpretativos igualmente válidos.
Performance:
Qualidade Sonora / Recording:
Aparato Editorial / Artwork & Texts:
Tiago Manuel da Hora
Produtor e Musicólogo, autor de várias publicações, rubricas e argumentos para espetáculos musicais. Com uma intensa actividade no ramo da produção discográfica, assinando edições nacionais e internacionais, tem sido também responsável pela criação, direcção artística e produção de diversos concertos e espetáculos. É investigador do INET-MD da Universidade Nova de Lisboa, onde dedica as suas atenções ao estudo da produção discográfica.