Misty Fest. Dia 1: Piers Faccini e o mundo
De que é feito um músico talentoso? Dizem que pode ser um bom escritor, um compositor, um estudioso, um performer, isto é, alguém que possa encarnar utopias e ideias de várias gerações.
De que é feito um músico talentoso?
Dizem que pode ser um bom escritor, um compositor, um estudioso, um performer, isto é, alguém que possa encarnar utopias e ideias de várias gerações, com a capacidade de fascinar uma plateia, de a tocar e de a fazer arrepiar.
E aconteceu assim, à flor da pele, com o concerto de Piers Faccini na abertura da 7ª edição do Misty Fest no Cinema São Jorge. Um concerto transbordante em energia, com um calor que irradiava do Norte de África, mas que se fazia acompanhar daquela brisa do Mediterrâneo. Piers é filho de mãe inglesa, pai italiano, os avós de várias nacionalidades e, por isso, assume-se como um escritor de canções provenientes de muitas culturas e línguas, cruzando influências que vão desde a folk britânica até outros estilos musicais, mais a oriente.
E foi neste ambiente aconchegante, com uma doçura irresistível, que assistimos à sua atuação. Piers Faccini tocou canções do seu mais recente álbum “I Dreamed an Island”, sem esquecer o seu antigo repertório. Foi nesta ambiguidade de estilos, sons e referências que o artista se posicionou, mostrando-nos que todos cabemos neste sonho de uma ilha. Sem intervalos, conduziu o público numa espécie de viagem pelo mundo e pelas suas músicas, sem barreiras geográficas, numa atmosfera carregada de significados, abraçando uma grandiosa riqueza de sons e uma mescla de línguas. Mayra Andrade, a cantora cabo-verdiana, surge no palco para um dueto improvável e soberbo com Piers.
Artista e plateia em comunhão plena de emoções
O entendimento entre o artista e a plateia foi mágico, havendo espaço para breves diálogos, partilha de emoções, com direito até a comentários sobre as próximas eleições presidenciais norte-americanas. Um concerto único, que ficará na memória de quem lá esteve. Defini-lo seria impossível. Este espetáculo não cabe num formato, mas servirá, certamente, para nos aproximarmos do projeto musical de Piers Faccini. O público viveu este fascínio, num resultado algures entre o sonho e a realidade, numa encruzilhada de emoções, mas aberta à reflexão. De que é feito um músico talentoso? É aquele que nos faz querer embrenhar no caminho da utopia, isto é, na ilha de Piers Faccini.
Selma Pereira Rocha para XpressingMusic
Fotografia: Rita Delille
Misty Fest 2016 | De 1 a 13 novembro
Festival de caráter diferenciado e único, em época de sweet november, com ampla e qualificada programação que explora dimensões menos exploradas noutros festivais, e se retrata por várias cidades do nosso país.
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