REPORTAGEM: Museu de Cordofones de Domingos Machado

Visitámos o Museu de Cordofones de Domingos Machado e, na companhia do próprio, ficámos a conhecer melhor este espaço e a sua oficina onde, na companhia do seu filho Alfredo Machado, são construídas verdadeiras obras-primas do som.

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Eram mais ou menos 10 horas da manhã quando chegámos a Tebosa, uma pequena localidade do concelho de Braga, para visitarmos o Museu de Cordofones de Domingos Machado. À porta veio uma senhora que nos disse: "Entrem, entrem... Subam por aqui pois eles estão lá para trás na oficina." Assim fizemos e, ao chegar, a receção não poderia ter sido melhor. Deparámo-nos com Domingos Machado e o seu filho Alfredo Machado em plena azáfama para cumprir com a entrega de instrumentos que teriam que ir na semana seguinte para a Suíça e outros para outros países. A conversa iniciou-se sem que dessemos conta das habituais formalidades que antecedem o início de uma entrevista ou reportagem.

Perguntámos se os instrumentos que construíam eram encomendas ou se, por outro lado, construíam também para stock. Prontamente nos informaram que, embora fosse por encomenda, o cliente não era obrigado a ficar com o instrumento se não estivesse de acordo com o que tinha imaginado. Caso o cliente não gostasse ou não o viesse buscar no prazo combinado, este seria colocado à venda. Habitualmente não acontece mas quando sucede, rapidamente se vende.

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Após esta breve conversa seguimos então para a visita ao Museu. Pelo curto caminho que nos separava deste, fomos conversando e alimentando as habituais curiosidades. Domingos Machado, de forma simples e humilde, foi-nos dizendo que herdou esta arte de seu pai, tal como Alfredo, com quem tínhamos acabado de estar, também a tinha herdado dele. Falou-nos também que o seu Museu era visitado ao longo de todo o ano por particulares, instituições de ensino e não só.

Eis que se abre a porta e nos dirigimos para a sala principal, se é assim que se pode chamar. Aqui estavam expostas inúmeras guitarras e violas oriundas dos mais variados países e culturas.

Não seguindo uma ordem rígida relativamente ao percurso da nossa visita, iremos passar a enumerar os instrumentos observados. Esta reportagem não anseia de forma alguma substituir uma visita a este Museu. O que se pretende é "aguçar o apetite" para que, assim que possa, o nosso leitor se dirija a este ponto de passagem obrigatória para músicos e melómanos em geral. Estamos limitados ao habitual espaço despendido para as reportagens no nosso Portal do Conhecimento Musical, o que nos impede de descrever pormenorizadamente cada um dos instrumentos. Essa descrição foi-nos gentilmente ministrada ao longo da visita pelo Mestre Domingos Machado que, à paragem em cada uma das vitrinas, nos caracterizava cada um dos cordofones expostos.

As Guitarras de Lisboa e de Coimbra marcam presença nesta sala principal acompanhadas pelos Guitarrilhos de Senhora do Porto e de Lisboa e pelas Guitarras, modelo de Coimbra e do Porto. No contexto das Guitarras ainda marcam aqui presença a Guitarra de Duas Bocas, outrora usada em Coimbra e a cópia de uma das primeiras guitarras que surgiu em Portugal.

Passando para outra vitrina foram-nos apresentados vários Bandolins, tais como o Bandolim de 12 cordas, Bandolim normal, Bandolins dos finais do Século XIX, Bandolim Requinto, Bandola, Bandoleta, Bandolim de modelo Austríaco e Bandoloncelo.

Durante toda a visita apercebemo-nos do carinho com que Domingos Machado falava de cada um daqueles instrumentos como que de crianças se tratassem, mesmo daqueles que não tinham sido construídos por ele. Cada um tinha uma história. No Museu podem ser apreciados instrumentos como o Cavaquinho de boca em cruz, o Cavaquinho de Luxo, o Cavaquinho Requinto, o Cavaquinho Primitivo, o Cavaquinho de Braço de Guitarra e o Cavaquinho de seis cordas. A Braguinha da Madeira, o Cavaquinho de Lisboa, o Cavaquinho do Brasil, o Rajão de Madeira, (estes dois últimos que descendem do Cavaquinho de Braga), o Quatro (Venezuela) e o Cavaquinho de Cabo Verde (com origem no nosso cavaquinho) são outros instrumentos que fazem parte deste rico espólio.

Também as violas típicas ali marcam uma forte presença. Assim, pudemos vislumbrar violas braguesas como a Requintinha, a Requinta e a Normal. O Minho é evidenciado mais uma vez com a presença da Viola Amarantina mas, Coimbra volta também a ser lembrada através da Viola Toeira de Coimbra. Das violas Açorianas, ficam-nos na retina a Viola da Ilha Terceira de 15 cordas e a Viola de São Miguel onde também estão presentes os corações tal como na Amarantina. As Violas Beiroas (a requinta e a normal) despertam a atenção dos visitantes pelas duas cordas que não passam pela escala não podendo ser então pisadas. Estas duas cordas são tocadas soltas. Ainda no âmbito destas violas típicas temos a Viola de Cordas de Arame da Ilha da Madeira e a Campaniça do Alentejo.

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As Violas Clássicas são um regalo para a vista de quem passa pelo Museu de Cordofones de Domingos Machado. Podem ser aqui apreciadas a Viola Baixo, a Viola de Ritmo de 12 Cordas, a Viola de Fado, a Viola Clássica, Violas de Rock, Violas do Princípio do Século XX e Réplicas de violas dos Séculos XVII e XVIII.

Pudemos ainda apreciar os Banjos. Assim, na exposição encontram-se exemplares de Banjo Trompete, Banjo, Banjo Viola e Banjo Banjola.

O Museu conta ainda com um espaço dedicado a cordofones oferecidos. Estes são os únicos que não são tocados nem construídos por Domingos Machado. Aqui figuram a Kora (África), o Saltério (típico da idade média), a Cítara, o Dulcimer, a Viola de Arco, entre outros.

À saída da sala principal, ninguém fica indiferente ao Violão Contrabaixo que se encontra numa sala onde, para além das violas típicas já enumeradas, se encontra um enorme espólio de documentação em suporte de papel e digital. Dissertações de mestrado e teses de doutoramento, CD's onde podem ser ouvidas violas construídas por Domingos Machado e muitos outros documentos ali estão guardados e são prova do valor e relevância do trabalho levado a cabo por este grande mestre.

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No final da reportagem voltámos à oficina de onde saem para todo o mundo instrumentos únicos com uma inconfundível marca tímbrica que resulta do cuidado na construção e da escolha dos melhores materiais. O cheiro a madeira é característico e a mescla da sua diversidade torna-se marcante para quem ocupa aquele espaço, nem que seja por breves instantes.

Deixar este espaço faz-nos sentir saudade imediata pois este é enigmático. Por aqui passaram nomes como, por exemplo, Amália Rodrigues, Oliver Serrano, Donovan, António Chaínho e Rão Kiao. Os seus instrumentos aparecem em CD's de artistas e músicos conceituados de todo o mundo. Por cá, e mais uma vez a título de exemplo, são nomes como Pedro Barroso, Janita Salomé, Júlio Pereira, José Mário Branco e grupos como Brigada Victor Jara, Maio Moço, Ronda dos Quatro Caminhos, e muitos, muitos mais que fazem com que a arte de Domingos Machado se perpetue.

Oliver Serrano, primeiro produtor dos Beatles tem alguns instrumentos fabricados por Domingos Machado e mantém uma relação de amizade com este. Também George Harrison (ex-Beatles) possuía uma guitarra produzida pelo artesão.

Domingos Machado começou desde cedo a ver os seus instrumentos serem manuseados por grandes nomes da música em diversos programas de televisão e de rádio, mas tal não fez que mudasse a sua genuína maneira de ser. Homem com H Grande, recebe todos os que a ele se dirigem com a mesma dedicação e humildade própria daqueles que crescem sabendo que todos os dias podem ainda aprender algo. Domingos Machado partilha com os que o visitam a sapiência de que é detentor tal como fez com o seu filho Alfredo Machado, também ele já um reputado e requisitado construtor de guitarras.

O portal do conhecimento musical XpressingMusic agradece a amabilidade e prontidão com que Domingos Machado nos recebeu na sua Casa e no seu Museu de Cordofones e aconselha todos aqueles que ainda não conhecem este espaço de contemplação e aprendizagem a programarem uma passagem por lá. Para isso bastará ligarem para o número 253673855 marcando a visita. O Museu de Cordofones de Domingos Machado é em Tebosa, junto à Estrada Nacional Braga-Porto.

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Comentários (1)

  • Maria Matos

    Maria Matos

    20 agosto 2014 às 23:07 | #

    Este trabalho para além de demonstrar o apreço pelo museu e pelo artesão, demonstra tb quem ama a música e os instrumentos que a produzem!

    responder

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