Trio ClariNord: Beethoven / Frühling / Ness
Trio ClariNord: Beethoven / Frühling / Ness
Trio ClariNord
LAWO Classics
LWC1126
2019 / CD
Um aparato gráfico elegante, um produto sonoro de grande qualidade, música e interpretações surpreendentes. Estes são alguns alguns dos principais atributos de uma das mais recentes edições da LAWO Classics.
O disco de estreia do Trio ClariNord reune três obras do repertório para trio com clarinete que representam três períodos da história da música dos últimos 200 anos: a transição do Classicismo para o Romantismo, com Beethoven; o pós-romantismo e as tendências do modernismo das primeiras décadas do século XX, com Carl Frühling; e a música do nosso século XXI, com Jon Ness.
O Trio em Mi bemol maior Op. 38 de Beethoven (1770-1827) foi publicado pela primeira vez em 1805, correspondendo a uma primeira fase do percurso criativo de Beethoven. Este trio surge a partir de uma composição anterior, o Septeto Op. 20 para três instrumentos de sopro e quatro de arco, com uma estrutura em seis andamentos, que Beethoven compôs em meados de 1799. Um ano após a sua primeira apresentação este septeto seria incluído no programa do concerto de estreia da Primeira Sinfonia (em 1800). O Trio, ou «Grand Trio» como o próprio compositor lhe chama, consiste assim numa adaptação do septeto original, mantendo a parte de clarinete, mas incluindo uma parte para violoncelo independente, ficando o piano com as despesas do resto das partes dos instrumentos suprimidos.
A grande surpresa deste disco é, no entanto, a interpretação do Trio para Clarinete Op. 40 de Carl Frühling (1868-1957), compositor e pianista ucraniano que se estabeleceu em Viena, onde desenvolveu grande parte da sua carreira. A sua obra tem sido alvo de uma maior atenção nos últimos anos, destacando-se aqui a actividade preponderante do violoncelista Steven Isserlis na promoção da música de Frühling, para o que também contribui esta nova gravação do Trio ClariNord. O trio foi publicado pela primeira vez em 1925, e consiste numa composição onde é possível vislumbrar uma forte influência da tradição romântica germânica de Schumann, Mendelssohn e Brahms e, por outro lado, também uma influência notória de César Franck (em especial da sua sonata para violino e piano), sobretudo ao longo do 3º andamento deste trio, bem como das características da escrita modernista do seu tempo.
Por sua vez, Sloughs, de Jon Ness (1968-), obra composta em 2013, e que assenta numa escrita cíclica, com encadeamentos constantes de motivos melódicos ou figuração rítmica a partir dos quais se estruturam diferentes secções. Esta obra consiste num exercício criativo interessante, que coloca algumas exigências menos obvias aos intérpretes do ponto de vista do virtuosismo técnico, mas também da articulação rítmica e dinâmica entre as diferentes “vozes” do trio, ao longo de três partes bem identificáveis numa obra em um único movimento.
O Trio ClariNord, fundado em 2012 por Emilio Borghesan (clarinete), Paula Cuesta Redondo (violoncelista) e Jie Zhang (piano), revela-se neste disco uma grande coesão tanto do ponto de vista técnico como do equilíbrio e som de conjunto, o que facilita belíssimos momentos de perfeita comunhão que ficam preservados neste CD, um deles o segundo andamento do trio de Carl Frühling, autor daquela que é, a meu ver, a grande cartada deste disco.
Entre as recentes edições da LAWO Classics, destaca-se ainda outro disco dedicado a repertório para trio de clarinete, viola e piano, desta feita com interpretações de Leif Arne Pedersen (clarinete), Henninge Landaas (viola) e Gonzalo Moreno (piano). O programa conta com música de Schumann, Bruch e Mozart e é um excelente complemento para fazer companhia à audição do disco do Trio Clarinord.
+ info: http://www.lawo.no
Performance:
Qualidade Sonora / Recording:
Aparato Editorial / Artwork & Texts:
Tiago Manuel da Hora
Produtor e Musicólogo, autor de várias publicações, rubricas e argumentos para espetáculos musicais. Com uma intensa actividade no ramo da produção discográfica, assinando edições nacionais e internacionais, tem sido também responsável pela criação, direcção artística e produção de diversos concertos e espetáculos. É investigador do INET-MD da Universidade Nova de Lisboa, onde dedica as suas atenções ao estudo da produção discográfica.