Músicos portugueses no catálogo KNS Classical
Jovens talentos em expansão


Músicos portugueses no catálogo KNS Classical

Intimate Colours

Elgar; Szymanowsky; Respighi.

Dryads Duo

KNS Classical
KNS A/045

2016 / CD


Há uns dias atrás questionavam-me sobre o estado do ensino da música em Portugal nos últimos anos. Essa é, aliás, uma questão recorrente em entrevistas a músicos, musicólogos, professores e outros agentes do meio musical português da actualidade. E a verdade é que por mais que tenhamos inúmeras razões para sabermos que o estado de desenvolvimento do ensino da música em Portugal é muito aquém do espectável (ou desejável), a verdade é que as opiniões são unânimes em avaliar os últimos 25 anos como um percurso de grande evolução no ensino da música no nosso país, pelo surgimento sucessivo de novos músicos mais e melhor preparados e que vão marcando o seu lugar na esfera nacional e internacional, com maior ou menor visibilidade.

A KNS Classical, editora discográfica espanhola, tem piscado o olho a alguns desses jovens talentos, e lançado no mercado uma série de discos que revelam a vivacidade de uma nova geração.
Um dos mais recentes CD da KNS consiste numa gravação ao cargo do Dryads Duo, formado pela violinista Carla Santos e pelo pianista Saul Picado. Intimate Colours é o título, e consiste em interpretações das sonatas de Edward Elgar (op.82) e de Ottorino Respighi, e “Mythes: Trois Poèmes, op.30” de Karol Szymanowski. São gravações que demonstram distinta maturidade e, em simbiose com o título deste CD, uma grande e profícua empatia entre os dois intérpretes, que garante uma unidade entre o equilíbrio bem conseguido de expressividade e rigor técnico em todo o álbum.
Este é, na minha opinião, um dos melhores discos de entre os 5 títulos que a KNS publicou entre 2014 e 2016, com interpretações de músicos portugueses desta nova geração. portada fernando costa web 450x450A par com esta recente edição, o CD assinado pelo violoncelista Fernando Costa – Aprés un Rêve - editado em 2014, destaca-se dos restantes pela qualidade das interpretações e pelo programa escolhido. É, aliás, o único deste grupo de 5 edições que contempla música de compositores lusitanos - música da melhor e mais requintada do nosso século XX: As Árias I e II para violoncelo e piano de Joly Braga Santos (acompanhando Fernando Costa o seu irmão Luís Costa) e as “Três Inflorescências”, para violoncelo solo, de Fernando Lopes-Graça. A par com a música portuguesa, o violoncelista completa o programa com algum do mais emblemático repertório para violoncelo e piano de Gabriel Fauré e Robert Schumann.
As 4 restantes edições estão a cargo de outros tantos jovens pianistas portugueses da nova geração. No ano passado a KNS lançou Golden Liszt, disco que como o título indica é dedicado a música de Franz Liszt para piano, ao cargo de Vasco Dantas. O pianísta portuense havia já gravado antes para a KNS o CD Promenade, dedicado as "Sonetti di Petrarca" e à "Rapsódia Espanhola" de Liszt e a "Quadros de uma exposição" de Mussorgsky, em 2015. Nesse mesmo ano saiu um outro álbum da KNS assinado por um pianista português, Edgar Cardoso, exclusivamente dedicado a obras para piano de Claude Debussy (o primeiro livro de prelúdios, “L’Isle joyeuse” e a famosíssima “Clair de lune”). Por último, e em retrospectiva, em 2014, o CD Fantasie do já citado Luís Costa compila um programa bem entroncado no cânone do repertório pianístico tradicional, com a Sonata K.208 de Domenico Scarlatti, uma selecção de “polonaises”, e as Kinderszenen op.15 de Robert Schumann.

portada web vasco dantas 450x450    VASCO DANTAS ROCHA 1400x1400 450x450    portada edgar cardoso web 450x450    luis costa web 450x450

No que diz respeito à abordagem editorial, estamos perante edições simples, em que os conteúdos complementares (sobretudo no que toca a notas à margem) deixam um pouco a desejar. No que diz respeito à qualidade sonora global os resultados finais cumprem, mas não são estonteantes.

Acima de tudo, é de salientar o facto de o mercado internacional continuar a interessar-se pela música e músicos portugueses, e não menos importante o facto de se verificar que os músicos portugueses estão a gravar tanto repertório do cânone internacional, como obras de referência da literatura musical portuguesa, repertório esse que acaba por encontrar, a partir desse dualismo, um campo fértil para chegar a mais público e não ficar apenas confinado ao público melómano exclusivamente interessado no repertório menos acessível.

Tiago Manuel da Hora

Tiago Manuel da Hora

Produtor e Musicólogo, autor de várias publicações, rubricas e argumentos para espetáculos musicais. Com uma intensa actividade no ramo da produção discográfica, assinando edições nacionais e internacionais, tem sido também responsável pela criação, direcção artística e produção de diversos concertos e espetáculos. É investigador do INET-MD da Universidade Nova de Lisboa, onde dedica as suas atenções ao estudo da produção discográfica.

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