Kate Loder: Piano Music
Uma revelação inesperada


Kate Loder: Piano Music

Kate Loder: Piano Music

Ian Hobson

Toccata Classics
TOCC 0321

2017 / CD


Não são raras as vezes em que uma primeira impressão, um olhar mais leviano, nos pode induzir em erro nas apreciações que tomamos. E se é verdade que  esse é um lugar comum para um vasto leque de situações, a avaliação de um disco não foge a esses desencontros.
Que o diga uma das mais recentes edições da Toccata Classics – se alguma vez uma edição, enquanto objecto, pudesse literalmente falar, além do que já nos transmite através do eminente poder comunicativo da arte.

Kate Loder: Piano Music, gravado pelo pianista inglês Ian Hobson, por pouco não ficou afastado de constituir uma escolha para esta secção de opinião. Na verdade, confesso que se não fosse o facto de as 12 primeiras faixas, que correspondem ao primeiro caderno de Estudos, serem peças curtas e de rapidamente passarmos a um segundo volume de Estudos bem mais consistente, teria deixado de lado a audição deste disco.
Esse primeiro caderno de Estudos está completamente integrado na linha dos estudos mais arrojados de C. H. Hanon, ou na linha dos estudos mais simples de C. Czerny, o que não advoga muito a favor da pertinência do material musical apresentado na sinopse deste disco como "estudos de carácter virtuosístico". São estudos de grande simplicidade, que exploram sobretudo aspectos técnicos de uma forma sistemática e que, no caso da interpretação empolgada de Ian Hobson, não são raras as vezes em que se sente que o pianista procura dar um pendor virtuosístico e expressivo que musicalmente estes Estudos não têm de forma alguma.
No entanto, surpreendentemente, o 12º Estudo desse primeiro caderno desvenda uma escrita musical manifestamente distinta, muito mais na linha entre o virtuosismo e a música de salão de Chopin, que parece marcar uma vaga presença no restante programa do CD.

Este último Estudo do primeiro caderno é já um preâmbulo para um segundo volume de outros 12 Estudos que são de outra natureza criativa. Quando poderíamos pensar que iriamos continuar num registo monótono que faria deste CD uma decepção, eis que encontramos uma escrita bem mais inventiva, com um carácter mais sofisticado, linhas melódicas mais elaboradas, e muitos outros predicados essenciais à verdadeira música virtuosística para piano do século XIX. E esta mudança repentina e salvadora é um elemento que evolui ao longo do restante programa, garantindo um crescendo constante na qualidade da música de Kate Loder, uma amostra interessante do ponto de vista da evolução do carácter criativo e estético da sua composição para piano em diferentes décadas – as primeiras obras em programa foram dadas à estampa em 1852, enquanto que a última Mazurka, que fecha o disco, data de 1899.

Este disco é uma novidade, sem dúvida. Mas é uma novidade sobretudo pelo desvendar de uma compositora praticamente desconhecida do público melómano. No que diz respeito à música para piano aqui pela primeira vez gravada sobressaem as peças de carácter - Pensée Fugitive e Voyage Joyeux – e as duas Mazurkas, de uma fase mais tardia (1895 e 1899) do que boa parte do restante programa gravado (da década de 1850).

Hobson apresenta uma interpretação tecnicamente imaculada, não faltando aqui e ali um toque de expressividade que esta música exige.

Kate Loder (1825-1904) pertence a uma famosa família de músicos originária de Bath (Inglaterra) com um nome sonante no seio da alta sociedade do período Victoriano. Loder foi uma das primeiras estudantes da Royal Academy of Music de Londres – por onde passam actualmente inúmeros alunos de todo o mundo, e por onde já passaram alguns dos grandes nomes da música portuguesa dos nossos dias, como o compositor Luís Tinoco ou o violoncelista Filipe Quaresma.
Apesar da grande apetência de Loder como intérprete, grande virtuose segundo rezam alguns testemunhos, a sua carreira como pianista seria cedo aniquilada, sendo proibida pela seu marido de se apresentar em público. Daí que tenha desenvolvido a sua actividade musical sobretudo como professora e compositora. E diga-se que, ao contrário do que inicialmente fazia prever, Loder foi uma compositora com uma obra apreciável no seio da música para piano do seu tempo.

Performance:

Qualidade Sonora / Recording:

Aparato Editorial / Artwork & Texts:

Tiago Manuel da Hora

Tiago Manuel da Hora

Produtor e Musicólogo, autor de várias publicações, rubricas e argumentos para espetáculos musicais. Com uma intensa actividade no ramo da produção discográfica, assinando edições nacionais e internacionais, tem sido também responsável pela criação, direcção artística e produção de diversos concertos e espetáculos. É investigador do INET-MD da Universidade Nova de Lisboa, onde dedica as suas atenções ao estudo da produção discográfica.

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