Georg Friedrich Handel: Messiah
Uma nova luz sobre os Messias de Hãndel


Georg Friedrich Handel: Messiah

Georg Friedrich Handel: Messiah

R. Redmond, D. Guillon, N. Mulroy, M. Winckhler; La Capella Reial de Catalunya; Le Concert des Nations; J. Savall

Alia Vox
AVSA9936

2019 / 2 CD


Uma gravação do emblemático Messiah, HWV 56, de Georg Friedrich Händel (1685-1759) pode, naturalmente, constituir pouca, ou nenhuma, novidade. É uma obra do grande repertório canónico, que tem sido alvo de largas dezenas de gravações, de diferente estilo e qualidade, pelo que uma nova edição fonográfica desta oratória pode sempre ser vista, apenas, como mais uma, sem um contributo relevante.
A esse perigo se poderia expor Jordi Savall e os seus agrupamentos, La Capella Reial de Catalunya e Le Concert des Nations, não fosse o caso de estarmos perante um maestro que, habitualmente, traz uma nova luz ao repertório que se propõe trabalhar. Por conseguinte, não é de surpreender que o mais recente título da sua discografia, dedicado à gravação integral do Messiah, não seja apenas mais uma gravação, mas antes mais uma excelente gravação da obra, a vários títulos, que permite alargar o leque mais restrito das melhores referências discográficas do Messiah.
Desde os primeiros compassos da abertura há nesta gravação um grande sentido de movimento e de fluxo constante e dinâmico entre todos os intervenientes, de uma grande vivacidade, bem como um equilíbrio muito bem conseguido nos diferentes momentos em que estes tomam parte. Entre os muitos pontos altos, pode-se salientar o coro da primeira parte, For unto us a child is born, cuja excelente dinâmica entre vozes e orquestra é absolutamente brilhante, ou ainda o final da suite (parte dois) com o famosíssimo Hallelujah - a mostrar como uma peça muitas vezes banalizada por um tratamento mainstream e executada repetida e exaustivamente, pode também, através de uma abordagem extremamente cuidada, recuperar um carácter vivo e inesperadamente renovado para o ouvinte – e ainda, a ária I know that my redeemer liveth, que inicia a última parte da oratória, exemplarmente cantada pelo soprano Rachel Redmond que, a par com Damien Guillon (contratenor solista), brinda esta gravação com um toque de excelência em perfeita sintonia com o efectivo instrumental e vocal liderado por Jordi Savall. Por sua vez, um pequeno senão que poderá ser apontado está na interpretação do barítono Matthias Winckhler que, em alguns momentos (poucos), apresenta pontuais fragilidades de afinação no registo mais grave, mas que globalmente acabam por não comprometer em absoluto a sua própria prestação.

Gravado ao vivo, uma vez mais na Chapelle Royale du Château de Versailles, este disco é, sonoramente, um dos que se pode colocar numa primeira linha de referência entre as mais recentes gravações da Alia Vox. A clareza tímbrica e recorte do som dos instrumentos e vozes na captação são irrepreensíveis, e o equilíbrio entre partes é notável, salvo, aqui e ali, um ténue apagar, mais contido, do baixo contínuo, sobretudo o cravo – por sinal, com uma interpretação de Luca Guglielmi extremamente rica em ornamentação, desdobramento de acordes e no colorido que dá ao contínuo.
Esta gravação agora lançada no mercado, em plena época pré-natalícia, sublinha, uma vez mais, a tradicional associação do Messiah de Händel ao Natal, e é ainda brindada com dois textos incluídos no booklet que iluminam o ouvinte melómano tanto no conhecimento histórico do desenvolvimento da obra em si, como no que toca à sua circulação desde a sua estreia em 1742, em Dublin, até aos nossos dias.
Se o Messiah é a grande obra, tardia e culminante, na produção de Händel (composta em 1741), é interessante constactar o facto de só agora, já num período de grande maturidade, de uma carreira de grande intensidade ao longo das últimas cinco décadas, Jordi Savall decidir gravar (2017) para publicação em disco (2019) esta obra de um repertório que tão bem conhece e que marcou uma presença habitual ao longo da sua carreira – na sua discografia, de Händel destacam-se excelentes gravações do Dixit Dominus, da Water Music Music for the Royal Fireworks. Valeu bem a pena a espera por este Messiah, pois o resultado é realmente brilhante.

 

Performance:

Qualidade Sonora / Recording:

Aparato Editorial / Artwork & Texts:

Tiago Manuel da Hora

Tiago Manuel da Hora

Produtor e Musicólogo, autor de várias publicações, rubricas e argumentos para espetáculos musicais. Com uma intensa actividade no ramo da produção discográfica, assinando edições nacionais e internacionais, tem sido também responsável pela criação, direcção artística e produção de diversos concertos e espetáculos. É investigador do INET-MD da Universidade Nova de Lisboa, onde dedica as suas atenções ao estudo da produção discográfica.

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