Pina Napolitano, nostálgica revelação!


Pina Napolitano, nostálgica revelação!

Elegy

Schoenberg; Bartók; Krenek

Pina Napolitano; Liepaja Symphony Orchestra; Atvars Lakstigala (dir.)

Odradek Records
ODRCD339

2016 / CD


Ainda na ressaca do final de 2016, pois há muita coisa boa para ouvir em inúmeras excelentes edições das últimas semanas do ano que agora finda, eis mais um disco que vale a pena conhecer – Elegy, com música de Arnold Schoenberg (1874-1951), Ernst Krenek (1900-1991), Béla Bartók (1881-1945).
Uma edição da Odradek Records, com interpretações de Pina Napolitano (piano) e a Liepaja Symphony Orchestra dirigida por Atvars Lakstigala.

O programa escolhido é arrojado, começando desde logo pelo Concerto para piano e orquestra, op.42, de Schoenberg e Begleitungsmusik zu einer Lichtspielszene, op.34, do mesmo compositor. Segue-se a Elegia sinfónica para orquestra de cordas, op.105 de Krenek, e o Concerto n.º3 para piano de Bartók - uma das últimas obras do compositor húngaro, escrita no seu último ano de vida. Num álbum que tem como ponto de partida temático a nostalgia, a elegia, esta escolha tem a interessante particularidade de reunir música de três compositores oriundos de nações do antigo Império Austro-Húngaro, que se estabeleceram nos Estados Unidos da América e aí desenvolveram as suas carreiras até ao final dos seus dias.
Entre os três, o menos conhecido será Ernst Krenek que, depois de um início de carreira em que se destacou sobretudo por uma escrita musical com marcadas influências jazzísticas – o exemplo mais significativo é Jonny spielt auf, de 1925 – viria posteriormente a focar-se na composição de música serial, fruto de profícuos contactos com Alban Berg e Anton Webern, ainda antes de emigrar para os EUA, em 1938. A sua Elegia, composta em 1946, resulta como uma homenagem a Webern, morto no ano anterior.

A pianista italiana, Pina Napolitano, apresenta uma grande naturalidade e sensibilidade dentro de um repertório de grande profundidade que exige um alargado conhecimento por parte de quem se aventura a querer fazê-lo bem. E aí, não será desapropriado lembrar que esta pianista estreou-se no mercado discográfico em 2012 com um CD precisamente dedicado à obra para piano de Arnold Schoenberg. Uma edição discográfica que teve uma boa repercussão pela mais avisada crítica internacional.
Curiosamente, além da absoluta intimidade idiomática que Pina Napolitano demonstra com a música de Schoenberg no Concerto para piano, op.42, é no Concerto n.º3 de Béla Bartók que encontramos o melhor, mais revelador, deste disco, com uma grande destreza e um balanço exemplar entre solidez técnica e abordagem emocional, pessoal, que Pina Napolitano transmite através da sua interpretação. Os 2 concertos são obras distintas, e a pianista consegue precisamente marcar essas diferenças, valorizando, quase sempre com lucidez, o melhor de cada uma.
A Liepaja Symphony Orchestra apresenta grande coesão e unidade em todas as obras. A abordagem do maestro Atvars Lakstigala em Begleitungsmusik zu einer Lichtspielszene de Schoenberg e na Elegia Sinfónica de Krenek é sólida, mas estas interpretações acabam por carecer da intensidade que encontramos nos dois concertos para piano. São estas as obras que, acima de tudo, fazem brilhar de forma distintiva este disco, com uma confortável atmosfera entre a orquestra e a pianista, que resulta num produto artístico de grande valor, potenciado por um trabalho de som de grande qualidade.

Gravada no “Great Amber”, em Liepaja (Letónia), Elegy é uma edição de grande qualidade artística e editorial (apanágio do catálogo da Odradek), que conta com interessantes e pertinentes notas à margem da autoria do compositor inglês Hugh Collins Rice.

Um disco que vale muito a pena!

Performance:

Qualidade Sonora / Recording:

Aparato Editorial / Artwork & Texts:

Tiago Manuel da Hora

Tiago Manuel da Hora

Produtor e Musicólogo, autor de várias publicações, rubricas e argumentos para espetáculos musicais. Com uma intensa actividade no ramo da produção discográfica, assinando edições nacionais e internacionais, tem sido também responsável pela criação, direcção artística e produção de diversos concertos e espetáculos. É investigador do INET-MD da Universidade Nova de Lisboa, onde dedica as suas atenções ao estudo da produção discográfica.

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