Claudio Monteverdi: Messa a quattro você et salmi of 1650, Vol. II

Claudio Monteverdi: Messa a quattro você et salmi of 1650, Vol. II
The Sixteen, Harry Christophers (dir.).
CORO
COR16160
2018 / CD
Ao longo dos últimos anos Harry Christophers e os The Sixteen têm mantido uma intensa actividade na gravação de inúmeros programas, assentes em diversas linhas que o grupo tem estabelecido em simultâneo – a interpretação de repertório contemporâneo (como a primeira gravação do Stabat Mater de James MacMillan, em 2017), séries dedicadas a música de Giovanni Palestrina ou Henry Purcell, ou ainda obras sacras de Claudio Monteverdi (1567-1643), sob o título “Messa a quatro você et salmi of 1650”. Depois de um primeiro volume publicado em 2017, surge agora a segunda parte deste projecto, concretizando desta forma a gravação de uma compilação de música sacra composta por Monteverdi enquanto Mestre de Capela de São Marcos (Veneza), e compilada numa publicação póstuma, no ano de 1650
O programa deste segundo volume reúne, além da Messa a quattro voci SV190, uma selecção de seis salmos. Entre estes últimos, que vão sendo articulados com o resto do programa num alinhamento muito equilibrado, destacam-se o Dixit Dominus SV192 e o Nisi Dominus SV201 que abrem e fecham, respectivamente, este novo CD. Pelo meio, um Salve Regina extraído do tomo Musiche Sacre (1656) de Francesco Cavalli (1602-1676) - compositor que já marcou presença no volume I -, e ainda uma Ciaccona em Sol Maior da autoria de Alessandro Piccinini (1566-c.1638), pertencente à sua Intavolatura di liuto, et di chitarrone, publicada em Bolonha em 1623.
Na verdade, a Messa a quatro voci já tinha sido gravada em 1986 pelo The Sixteen (no catálogo da Hyperion), mas esta nova interpretação ganha uma outra profundidade, ao mesmo tempo que permite uma comparação muito interessante entre diferentes momentos do grupo, e onde são visíveis as marcas do tempo, plasmadas na estética interpretativa e sonora de cada uma das gravações. Neste disco, um dos melhores momentos surge precisamente a meio da Messa a quattro, onde Harry Christophers optou por introduzir um “intermezzo”, com o salmo Laudate Dominum a due bassi, numa interpretação soberba de Smart Young e Jimmy Holliday. Aos The Sixteen, em excelente forma, junta-se um efectivo instrumental composto por dois violinos, violoncelo, chitarrone, harpa, cravo e órgão, em perfeita sintonia com a qualidade artística global deste disco.
O produto sonoro segue o grau de alto nível da intepretação, com um bom equilíbrio entre vozes, e entre as formações vocal e instrumental, exceptuando no salmo Confitebor tibi Domine, para soprano, dois violinos e contínuo, em que a voz solista de Elin Manahan Thomas surge, aqui e ali, demasiado proeminente, o que leva a que fiquem expostas algumas fragilidades pontuais.
As notas ao programa, da autoria de John Whenham, carimbam um selo de grande qualidade a esta edição. No entanto, seria de esperar algo mais do ponto de vista do aparato iconográfico, que se limitam à imagem que serve de capa ao CD, com um pormenor de um fresco da segunda metade do século XV, da autoria de Melozzo da Forli, retratando um anjo a tocar viola. Em todo o caso, entre música, interpretação e produto final, estamos perante mais um belíssimo contributo que sedimenta o alto calibre de qualidade do trabalho que Harry Christophers e do The Sixteen têm levado a cabo ao longo das últimas quatro décadas.
Performance:
Qualidade Sonora / Recording:
Aparato Editorial / Artwork & Texts:

Tiago Manuel da Hora
Produtor e Musicólogo, autor de várias publicações, rubricas e argumentos para espetáculos musicais. Com uma intensa actividade no ramo da produção discográfica, assinando edições nacionais e internacionais, tem sido também responsável pela criação, direcção artística e produção de diversos concertos e espetáculos. É investigador do INET-MD da Universidade Nova de Lisboa, onde dedica as suas atenções ao estudo da produção discográfica.