Ensemble Palhetas Duplas em entrevista ao XpressingMusic
Em vésperas de mais um concerto, desta vez em Coimbra, no Auditório do Conservatório de Música a 11 de novembro, o Ensemble Palhetas Duplas partilha com os nossos leitores algumas curiosidades e fala-nos do seu percurso. Este projeto musical foi criado em finais de 2004 por iniciativa de Francisco Luís Vieira, tendo feito a sua primeira apresentação em público em Março de 2005 e reúne oboístas e fagotistas diplomados por várias escolas. Para responder às nossas questões temos hoje connosco o próprio Francisco Luís Vieira.
XpressingMusic (XM) – Agradecemos desde já ter aceite o nosso convite para esta entrevista. Pode falar-nos um pouco da história do Ensemble Palhetas Duplas? O que têm feito de 2004 até aos dias de hoje?
Francisco Luís Vieira (F.L.V.) – Antes de responder às perguntas, não posso deixar de expressar a minha satisfação e agradecer, em nome do Ensemble Palhetas Duplas, pelo vosso interesse demonstrado.
Respondendo à primeira pergunta colocada, começo por dizer que tive a iniciativa de fundar o Ensemble Palhetas Duplas depois de ter ouvido uma formação semelhante de um conjunto instrumental argentino e outro francês. Pensei… “No nosso país nunca existiu esta formação instrumental e tendo em conta a crescente quantidade e qualidade de jovens oboístas e fagotistas, porque não criar uma formação instrumental tão curiosa e original?” E assim foi o início: em finais de 2004 juntei jovens instrumentistas oriundos dos vários professores e escolas do país (alguns deles meus ex-alunos) e fizemos a nossa primeira apresentação em Março de 2005 num evento organizado e promovido pela Yamaha e empresa Cardoso & Conceição. A partir daí fomos somando uma quantidade notável de concertos realizados pelas várias salas / palcos importantes do país. Devo dizer que o ensemble foi conseguindo um currículo apreciável, não apenas pelos inúmeros concertos, mas também pelo facto de termos envolvido notáveis personalidades da comunidade de oboístas e fagotistas, nomeadamente Andrew Swinnerton, Hugues Kesteman, Eduardo Sirtori, Ricardo Lopes e Washington Barella, isto para além das dezenas de oboístas e fagotistas que foram integrando este ensemble ao longo destes anos de existência.
Em muitos dos concertos, o ensemble apresentou-se sem maestro. No início era eu próprio que ensaiava o grupo e até dirigi em alguns concertos. Numa determinada altura resolvi convidar um distinto músico, o professor Alejandro Erlich-Oliva, para ser o ensaiador / preparador (como ele próprio quis designar), para um concerto que tínhamos agendado na Sala dos Espelhos do Palácio Foz, onde queríamos apresentar pela primeira vez uma complexa obra: As quatro estações Portenhas, de Astor Piazzolla, com um arranjo / adaptação feito por João Pereira, elemento acabado de ingressar no ensemble. A escolha não podia ter sido melhor: de facto Alejandro Erlich-Oliva foi fascinante e elevou o ensemble a um belíssimo nível, reconhecido por todos os que puderam apreciar. Logo depois, apresentámos este mesmo programa no Festival Hispano-Luso em Zamora, Espanha.
Tivemos outro grande e inesquecível momento, pelas comemorações do 5º Aniversário do ensemble, com dois concertos realizados, um em Lisboa no Palácio Nacional de Queluz e outro no auditório da empresa Cardoso & Conceição, em Santa Maria da Feira, com a direcção musical do prestigiadíssimo maestro convidado Jean-Sébastien Béreau. O programa foi contrastante com música barroca e música do séc. XX de A. Piazzolla e diversificado com obras apenas para a formação do ensemble e outras obras com solistas convidados (de palhetas duplas e outros instrumentos). Depois fomos realizando concertos com diferentes maestros convidados, nomeadamente Pedro Pinto Figueiredo, João Afonso Cerqueira, Omar Zoboli, Francisco Sequeira e Pedro Carneiro.
Alguns dos concertos foram transmitidos pela Antena 2, destacando-se a estreia absoluta de Au Bois de Cise, obra escrita para este ensemble e dirigida pelo próprio compositor Jean-Sébastien Béreau, em Abril de 2012.
Esta é a resumida história do Ensemble Palhetas Duplas, mas aproveito desde já para um agradecimento muito especial a todos os que têm colaborado e contribuído para enriquecer este ensemble, incluindo a instituição Banda Sinfónica da Guarda Nacional Republicana, que nos cede as suas instalações como nosso principal local de ensaios.
XM – Francisco, quando ouvimos falar destes instrumentos de palheta dupla, vêm-nos à cabeça sonoridades próximas da música clássica mas, no caso do Ensemble Palhetas Duplas isto não corresponde bem à realidade pois o vosso reportório é bastante versátil e diversificado. Pode falar-nos um pouco das vossas opções ao nível do reportório e dos géneros musicais que abordam?
F.L.V. – De facto a verdadeira e significativa originalidade está precisamente na versatilidade e diversificação do repertório/géneros musicais. É que os poucos conjuntos instrumentais semelhantes, existentes em alguns países, baseiam-se praticamente apenas nas sonoridades da música barroca (tal como continha na pergunta: “vêm-nos logo à cabeça sonoridades próximas da música clássica…”). Pois o nosso ensemble ousou ir bem mais longe abordando todo o tipo de repertório e géneros: antigo, contemporâneo, clássico, ligeiro…!
A grande curiosidade e novidade foi a de introduzirmos outros instrumentos solistas, que não de palheta dupla, designadamente: trompete (Jorge Almeida e Filipe Coelho), tuba (Daniel Marques), clarinete (Paulo Gaspar, António Menino e Joaquim Ribeiro), flauta (João Pereira Coutinho), trompa (António Augusto Rodrigues), saxofone (João Pedro Silva), violino (Marcos Lázaro e Romeu Madeira), violeta (Paul Wakabayashi), violoncelo (Nelson Ferreira), marimba (João Pacheco) e piano (Ana Telles). Tivemos também, por várias vezes, a colaboração do cravista João Paulo Janeiro e do percussionista Marco Fernandes.
XM – Sabemos que brevemente estarão na zona centro no âmbito do Festival de Música de Coimbra. Pode apresentar-nos a formação do Ensemble Palhetas Duplas para este concerto?
Ao que sabemos, vão ter dois convidados muito especiais… É uma prática comum, convidarem outros músicos para os vossos concertos?
F.L.V. – O Festival de Música de Coimbra, dedicado ao piano, abriu com António Pinho Vargas encerrando o ciclo com o Ensemble Palhetas Duplas no dia 11 de Novembro, pelas 18H30, no Grande Auditório do Conservatório de Música de Coimbra. Na 1ªparte apresenta-se apenas a formação do Ensemble Palhetas Duplas com uma obra de E. Grieg. Sendo o piano o tema do festival , a 2ª parte é preenchida com o ensemble a acompanhar a pianista Margarida Prates, com obras de Carlos Seixas, Mozart e Saint-Säens. Todo este programa é apresentado pela primeira vez. A direção musical deste repertório está a cargo do maestro convidado, Alberto Roque. Como é evidenciado na pergunta, são de facto dois convidados muito especiais, pelos seus méritos já bem demonstrados e conhecidos. Seremos 17 músicos em palco: 6 no oboé, 4 em corne inglês, 4 no fagote, 1 no contrafagote, a solista em piano e o maestro.
Respondendo à parte final da pergunta, verifica-se que é mesmo nossa prática comum convidarmos outros músicos para os nossos concertos. Exemplo disso, veja-se que no dia anterior ao concerto do Festival de Coimbra, no dia 10 de Novembro, o ensemble atua em Cantanhede, com um programa completamente diferente: uma 1ª parte dedicada à música barroca e uma 2ª parte com composições do séc. XX, com outros dois solistas convidados: soprano, Ângela Silva e violoncelo, Nelson Ferreira.
Estes dois concertos foram a convite da Associação António Fragoso, uma prestigiada entidade com quem estamos a realizar uma parceria nas áreas de agenciamento, promoção e divulgação do Ensemble Palhetas Duplas.
XM – A par da originalidade da vossa formação, vislumbramos ainda a riqueza do conteúdo musical. Para além destas premissas inerentes ao vosso ensemble, o vosso conjunto instrumental está ligado a um ideal pedagógico e didáctico. Pode falar-nos um pouco desta vertente no vosso projeto?
F.L.V. – Sim, pode falar-se em ideal pedagógico e didático sendo que fomos desenvolvendo e participando em atividades, masterclasses, resultando em apresentações de concerto, em várias instituições de ensino musical por todo o país, nomeadamente na ESMAE - Porto, Escola de Artes do Norte Alentejano - Portalegre, Escola de Música Nª Sª do Cabo - Linda-a-Velha, SAMP - Leiria e Metropolitana - Lisboa. O Ensemble Palhetas Duplas já promoveu eventos de relevante interesse como por exemplo masterclasses de oboé, e exposições de instrumentos e acessórios de palhetas duplas, na sede da Metropolitana de Lisboa, com grandes figuras do oboé como Omar Zoboli e Washington Barella, registando-se um grande sucesso a ver pela elevada participação de alunos vindos das várias escolas de todo o país.
XM – Para quando um CD do Ensemble Palhetas Duplas?
F.L.V. – Bem, sobre a edição do CD… essa ideia já existe desde o início, mas fomos sempre adiando e esperando pelo momento ideal, em termos de maturidade enquanto grupo, para esse objetivo (se é que existe um momento ideal). Pois sempre achei que a edição de um CD é um assunto muito sério e de muita responsabilidade. Pensamos que pelo nosso percurso realizado, já merecemos e estaremos em condições para assumir tão grande responsabilidade. Neste contexto temos preparado um projeto que consiste numa homenagem à música do compositor Astor Piazzolla, em memória do 20º aniversário sobre a sua morte. Pela singularidade, interesse cultural e musical de dimensão internacional, e sobretudo pela celebração de Piazzolla, este projeto já conta com o apoio da Embaixada da Argentina. A totalidade dos arranjos musicais das obras a incluir no CD são de João Pereira. O projeto tem também o privilégio de contar com Alejandro Erlich-Oliva como responsável pela direção e coordenação musical, para além de se apresentar como solista em contrabaixo numa das obras, assim como a violetista Ana Bela Chaves, o violinista Aníbal Lima e o violoncelista Nelson Ferreira.
Vamos ver se conseguimos apoio financeiro de alguma ou algumas instituições, para levar a cabo este ambicioso projeto.
Devo salientar que tenho tido a preciosa colaboração de Ana Paula Meneses, que recentemente se associou ao Ensemble Palhetas Duplas, como assessora / relações públicas para os vários projetos e atividades em curso. Para o secretariado do ensemble também se juntou Sara Reinaldo, que nos vai ajudar na logística dos concertos, assim como na organização do nosso imenso arquivo.
XM – Agradecemos mais uma vez a vossa gentileza ao aceitar o convite do XpressingMusic. Querem partilhar com os nossos leitores projetos futuros? Quais os próximos concertos? O vosso 8º aniversário está a chegar. Vão assinalar esta data de alguma forma especial?
F.L.V. – Sobre projetos futuros, para além do referido CD, temos convites para a nossa participação em festivais no Brasil, França e Espanha. Temos já alguns concertos agendados, depois destes de Cantanhede e Coimbra sendo o primeiro no dia 24 de Novembro, na abertura de um evento no Museu Nacional de Arte Antiga, onde voltamos à música barroca (com a direção musical do oboísta Ricardo Lopes).
Pretendemos também promover um concerto especial com um repertório apenas de compositores portugueses, com obras escritas especificamente para este ensemble, e quem sabe, um dia gravarmos um trabalho só de música portuguesa.
O nosso 8º aniversário está a chegar e muito gostaria de assinalar o evento com uma ideia sugerida por um amigo e excelente oboísta brasileiro, Isaac Duarte (que vive e trabalha na Suíça), que consiste num concerto luso-brasileiro, com um programa dedicado à música portuguesa e brasileira, onde participariam conceituadíssimos instrumentistas como Isaac Duarte, Israel Silas Moniz, Washington Barella e Alex Klein, mas para isso teríamos que ter o envolvimento de entidades como por exemplo as embaixadas de Portugal e Brasil, o que fazia todo o sentido, sendo que em 2013 celebra-se o ano do Brasil em Portugal.
Iniciativas de projetos, atividades e eventos não nos faltam, o problema é que nos vamos sempre deparar com a difícil conjuntura atual e com as dificuldades financeiras.
Na qualidade de fundador e diretor artístico do Ensemble Palhetas Duplas, fico muito grato pelo vosso apoio e interesse ao me dirigirem o convite para esta entrevista do Xpressingmusic.
Felicitações ao Xpressingmusic pelo notável contributo na divulgação e promoção de artistas e acontecimentos do panorama musical.
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