Nuno Norte. A música, os concertos e o disco “Sabe a Sal”
Nuno Norte recebeu-nos em Aveiro para uma conversa sobre o seu último disco “Sabe a Sal” e sobre o seu percurso musical até aos dias de hoje. Da sua passagem pelo programa da SIC, “Ídolos”, abordando a sua experiência na Filarmónica Gil e culminando no seu último trabalho a solo que será apresentado na Casa da Música no dia 2 de novembro, de tudo se falou um pouco. «Como sempre estive ligado à música, naturalmente iria chegar a algum lado. É óbvio que com a minha participação nos Ídolos, tudo ficou mais fácil, pois o programa deu-me uma projeção a nível nacional. Sendo conhecido a nível nacional, tudo se tornou mais simples».
Começaremos por falar deste novo disco que se chama “Sabe a Sal”. Como caracterizas este disco?
Quando comecei a escrever as músicas para este disco imaginei-o como um disco de veraneio. Quase todas as músicas falam de praia... É um disco com influências pop e, essencialmente, reggae. A ideia era fazer um disco alegre com ritmos, pop, reggae e até com um pouco de ritmos africanos. Penso que é um disco bom para ouvires a caminho da praia (risos).
Tu identificas-te com esses géneros musicais ou abdicaste um pouco do teu gosto para chegar mais facilmente ao público?
Eu identifico-me com esses géneros musicais. No entanto, sou uma pessoa ligada ao rock e é por aí que sou mais conhecido. Mas ouço todos os tipos de música. Em casa ouço, jazz, música clássica, rock...
Eu sou uma pessoa que gosta de desafios e, como nunca tinha feito nada assim deste género, achei que ia ser interessante.
Os temas deste “Sabe a Sal” são todos da tua autoria?
Sim. Todos à exceção do “Dou-te um doce” do Luís Pedro da Fonseca, tema que ficou na memória de todos, pela voz da Lena D’Água.
Houve alguma razão especial para a inclusão desse tema neste disco?
(Risos) Quando eu era mais novinho era um grande fã da Lena D’Água. Lembro-me perfeitamente desta música e do “Sempre que o amor me quiser”. Estive até indeciso entre um tema e outro, mas como o disco é dentro do pop/reggae, pensei que se adequava mais. E depois há também outro fator que se prende com a letra: “Dou-te um doce em troca de um beijo salgado”, que se enquadra perfeitamente no título do disco “Sabe a Sal”.
Os músicos que te acompanharam neste disco já trabalhavam contigo, ou juntaram-se somente para este CD?
Foram vários os músicos que participaram na gravação deste disco. Ele nasce de um projeto que eu tinha com o ator José Carlos Pereira. Há até uma música, que é o Raio de Sol, que já tínhamos gravado há 5 anos e que tem um videoclip. O projeto chamava-se “Sal”, daí este disco se chamar “Sabe a Sal”. O título original até era “Também sabe a Sal”. Como o José Carlos Pereira estava com pouco tempo por causa das novelas e restante trabalho, decidi abraçar o projeto em meu nome pois já tinha as músicas e já tinha começado a gravar, logo, não fazia sentido deixar o projeto na gaveta.
Voltando à questão dos músicos... Na fase dos Sal, aquela de que acabámos de falar, tinha a tocar comigo o André Antunes e o Valter Antunes. Eles e o baterista Paulo Norte, andaram comigo aproximadamente meio ano a fazer singles em estúdio com o José Carlos Pereira. Entretanto, quando se dissolveu o projeto, a banda também se desmembrou. Nessa altura fui buscar outros músicos como o Carlos Massa no baixo...
Quando saltam para o palco, a banda é esta que gravou o Sabe a Sal?
Não (risos). Isto já passou por tantos processos... Entretanto vim viver para Aveiro, logo como a banda que gravou o disco é de Lisboa, tive qua arranjar outros músicos por aqui. Estou rodeado de músicos jovens. Muitos deles são os futuros grandes músicos de Portugal.
Este é o teu 4º disco. O primeiro disco foi o que resultou da tua passagem pelo programa “Ídolos” da SIC. Como caracterizas essa experiência? Foi mesmo importante a tua passagem pelo programa, ou tu já vinhas a fazer um percurso que viria a desembocar aqui de qualquer maneira?
Naturalmente eu viria acabar aqui de qualquer maneira. Desde os meus 15 anos que faço concertos, festivais... Durante muito tempo tive uma banda que, na altura, era uma das duas melhores bandas do Porto. Falo dos Parkinson. Em 1996, quando se falava em bandas de rock no Porto, os nomes que surgiam era o dos Pankinson e o dos Blind Zero. Como sempre estive ligado à música, naturalmente iria chegar a algum lado. É óbvio que com a minha participação nos Ídolos, tudo ficou mais fácil, pois o programa deu-me uma projeção a nível nacional. Sendo conhecido a nível nacional, tudo se tornou mais simples.
Participaste nos Ídolos, que é um formato mais atual, mas também já participaste em dois Festivais da Canção. Tu que viveste estas duas experiências distintas consegues-nos dizer se em ambos os casos se alcança o objetivo de colocar o artista cá para fora?
É óbvio que o Festival da Canção já não tem o mesmo peso que tinha há uns anos atrás, mas, desde miúdo que sonhava representar o meu país no Festival da Eurovisão. Eu já disse uma vez numa entrevista, e hoje digo outra vez, que o músico que disser que não gostava de representar o seu país no Festival da Eurovisão está a mentir.
O Ídolos é um programa com maior visibilidade, tendo como espetadores um público mais jovem.
Para além da visibilidade que dá um programa como o Ídolos, há ainda o prémio que consiste em gravar um disco. Nesse processo acabaste por não ter a promoção esperada devido à falência da editora, não foi?
O disco demorou mais do que deveria a sair. Nos Estados Unidos, por exemplo, quando se chega à fase de 3 finalistas, eles já têm músicas preparadas para os três. Logo que acabam o programa, gravam e sai imediatamente um CD para que aquilo não “arrefeça”, até porque depois vem outra série do programa e não se pode deixar cair o vencedor do anterior no esquecimento.
Cá tivemos o problema da BMG, que na altura se estava a fundir com a Sony. Eram os espanhóis que estavam a tomar conta do catálogo e acabaram logo com metade do catálogo em português.
Houve muita coisa à volta desse meu primeiro disco, o que fez com que ele fosse basicamente um “flop”.
Depois acabas por integrar o projeto do João Gil, a Filarmónica Gil, com o qual gravaste dois discos. Foi uma experiência importante para ti?
Muito importante. Aprendi muito com o João Gil. Eu cantava muito pouco em português e, com o João Gil, aprendi a apreciar e a valorizar a música feita na nossa língua. Foi um gosto enorme trabalhar em palco e em estúdio com um profissional como ele.
Andaram bastante tempo com a Filarmónica Gil na estrada?
Andámos uns cinco anos com dois discos pelo meio. Tocámos muito por todo o país. O primeiro disco foi disco de ouro e teve uma projeção enorme. Fizemos os festivais todos... Até ao Sudoeste fomos tocar (risos).
Para além do concerto que terão no dia 2 de novembro na Casa da Música, já há outras datas?
Sim, mas saberão em breve mais pormenores sobre datas e os locais. Este concerto da Casa da Música servirá para mostrar como será este “Sabe a Sal” em palco.
Este concerto acontece já no formato que levarão para a estrada?
Sim. É um concerto com 9 músicos em palco mais convidados.
Parece ser uma logística pesada... Portugal tem mercado para estes concertos com 9 músicos em palco...?
Mercado tem, dinheiro é que, se calhar, não (risos). Mas agora a sério. Tem. Vemos por aí inúmeras bandas com muitos músicos em palco. Um exemplo são os HMB. Temos é que avaliar onde poderemos atuar. Têm que ser locais com palcos grandes. Mas iremos ter também um formato mais pequeno para recintos como auditórios para onde seremos mais requisitados no inverno, por exemplo.
Desde aquela altura em que começaste a cantar até aos dias de hoje notas alguma evolução positiva?
Penso que hoje é mais fácil ficar famoso. Quando participei nos Ídolos, a internet não tinha a implantação que tem agora, com FaceBook, Instagram, Youtube... Se fosse hoje, estou convencido de que teria uma projeção ainda maior. Se me perguntas se a música está hoje melhor ou pior, não sei.
Fala-nos agora sobre a edição deste disco. Qual é a editora?
Quem investiu neste disco, fui eu e o Sr. José Silva. A distribuição é da DistriRecords e a edição é da Xiuu records!. O processo de gravação já estava concluído, portanto o que precisávamos era basicamente da distribuição, ou seja, quem nos metesse os discos nas lojas.
O processo de gravação também é hoje muito mais simples do que há uns anos atrás... Hoje, quem não é de Lisboa, não precisa de lá ir para gravar um disco...
Sim. Hoje temos bons estúdios espalhados por todo o país e, mais importante do que isso, temos muita gente a saber trabalhar bem com o material que se encontra nesses estúdios. Até em casa já conseguimos fazer alguma coisa, embora eu aconselhe ir sempre a um estúdio. No entanto, se tiveres bom material em casa, já podes levar para o estúdio algumas pistas gravadas. Eu, por exemplo, faço a pré-produção toda em casa. Quando chego ao estúdio tudo se torna mais fácil e poupa-se muito tempo.
Há pouco estávamos a falar do teu percurso no Ídolos mas acabámos por não falar do que precedeu essa fase. Como foi a tua aprendizagem musical? Frequentaste alguma escola, és autodidata?...
Eu nasci numa família de gente muito ligada à música. Tenho tios que tocam e cantam... Sempre estive muito ligado à música indo vê-los tocar. Lembro-me das festas de Natal em família em que se montava palco e tudo e eu ia para lá cantar com eles... Aos sete anos comecei a cantar fado, aos 14 anos comecei a tocar guitarra aprendendo sozinho. Via nas revistas as tablaturas e aqueles esquemas que nos mostravam onde colocar os dedos (risos). Ia perguntando como se fazia esta e aquela malha pois não tinha muita paciência para estudar. Por outro lado, verifico ainda que hoje que, algumas pessoas que estudaram música ficaram muito limitadas ao nível da criatividade, com a preocupação de não desobedecer a esta e àquela “lei” da música. Reconheço, no entanto que se tivesse estudado música, muitas coisas seriam hoje mais fáceis para mim. Falo principalmente do aspeto comunicacional entre músicos. Se eu tivesse estudado música seria mais fácil comunicar as minhas ideias em estúdio e na sala de ensaio.
Muito obrigado por esta partilha que hoje nos proporcionaste aqui em Aveiro. Para terminarmos, gostaríamos que deixasses aqui uma mensagem àqueles jovens que se preparam hoje para iniciar um percurso musical.
Em primeiro lugar, julgo que o mais importante se prende com o gosto pela música. Depois é importante que sejamos verdadeiros connosco mesmos. Temos que ter consciência das nossas limitações e trabalhar de acordo com as mesmas, não querendo ir além destas. Devemos saber ouvir aqueles que já andam cá há mais tempo e que têm algo para nos transmitir. Temos que trabalhar com os pés bem assentes na terra pois o percurso para subir é muito mais penoso e demorado do que por vezes a “queda”. Não há muitos músicos que tenham saído de programas de televisão que estejam hoje a trabalhar ativamente. Isto acontece porque não tiveram alguém que os acompanhasse e aconselhasse. Temos que ter bem presente que enquanto estamos num programa de televisão, somos “levados ao colo” mas, quando o programa acaba, eles já estão a pensar nos próximos concorrentes. Muitas carreiras não vingam por causa deste fator, ou seja, por pensarem que a partir dali continuarão “à boleia” da televisão.
Sentiste alguma dificuldade em entrar programas de outros canais de televisão?
Durante os primeiros tempos, sim. Afinal eu era um produto SIC. Mas, com o tempo, tudo isso se diluiu e hoje sou muito bem recebido em todo o lado. Aliás, depois de trabalhar com o João Gil fui reconhecido definitivamente como músico (risos).
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