Cristina Branco. A carreira e o disco “Menina”
Numa entrevista que passou muito pelo seu último trabalho discográfico, Menina, Cristina Branco falou-nos também da sua carreira e de um percurso que teve início inspirado em Amália Rodrigues. Neste sentido refere que decidiu enveredar por uma carreira musical «Aos 18 anos com a chegada de um primeiro disco de Amália Rodrigues, e a sua comovente forma de se agarrar às palavras fazendo-as suas, e quando, aos 23 anos, experimento cantar em público e faço dos palcos a minha terapia». Sobre a apresentação do álbum “Menina” ao vivo disse-nos: «Fiz uma apresentação prévia no festival Bons Sons e a Menina sai à rua definitivamente a partir da Festa do Avante seguida de várias salas portuguesas».
Cristina Branco, muito obrigado por este tempo dedicado aos nossos leitores. O novo trabalho “Menina” junta universos tão distintos como os de Filho da Mãe e André Henriques (Linda Martini), Cachupa Psicadélica, Mário Laginha e António Lobo Antunes. Qual é o fio condutor e o ponto comum neste trabalho para além da intérprete?
O que guia todos os textos para uma certa homogeneidade é a essência de feminino. As diversas etapas, adversidades, controvérsias, mistérios, estão presentes, daí o título Menina. São muitas meninas, muitas mulheres onde nos revemos ou de quem nos distanciamos mas espero que nunca nos deixem indiferentes.
Musicalmente o fio que conduz e une tudo é a toada lânguida, menor, mas sobretudo nova, um som fresco vindo de gente que está preocupada em mostrar o que faz (e bem!) e que se interessa por conhecer os caminhos que me trouxeram até aqui, até eles, para que não houvesse disparidades. São autores com outra escola, vindos de uma realidade diferente da minha mas cujo ponto comum é um certo dramatismo, a ironia latente ao falar dessa nostalgia.
Ricardo Cruz é o produtor deste disco e a formação que a acompanha é composta por Bernardo Moreira no contrabaixo, Luís Figueiredo ao piano e Bernardo Couto na guitarra portuguesa. Esta formação é aquela com que se sente mais confortável em palco? Considera que um piano, um contrabaixo e uma guitarra portuguesa criam a textura sonora ideal para acomodar as suas linhas melódicas?
O som, esses três instrumentos não são uma novidade na minha música. O piano existe desde o disco Ulisses (o meu quarto disco), o contrabaixo desde o disco Abril e definitivamente desde o "não há só tangos em Paris" e a guitarra acústica sai no Alegria. Ficou o essencial, está mais depurado mais real, o som como ele é. Ouve-se cada vez mais a voz e estamos todos incrivelmente expostos!
Para além dos nomes que já referimos, entram neste disco, enquanto compositores, outros bem conhecidos do nosso meio cultural/musical nacional. Pode partilhar com os nossos leitores alguns desses nomes que emprestaram as suas criações para este “Menina”?
Posso começar com a Ana Bacalhau, Kalaf Epalanga ou Jorge Cruz. Todos eles dispensam apresentações.
Quando irá apresentar ao vivo todo este reportório?
Fiz uma apresentação prévia no festival Bons Sons e a Menina sai à rua definitivamente a partir da Festa do Avante seguida de várias salas portuguesas.
Recuando um pouco no tempo gostávamos que nos dissesse quando é que se apercebeu de que a sua vida iria passar pelo mundo da música e, mais especificamente, pelo universo do Fado.
Aos 18 anos, com a chegada de um primeiro disco de Amália Rodrigues, e a sua comovente forma de se agarrar às palavras fazendo-as suas, e quando, aos 23 anos experimento cantar em público e faço dos palcos a minha terapia.
Para além do fado, que outras influências estão presentes naquilo que faz?
Sempre ouvi muita música e toda a música. É difícil traçar uma influência a régua e esquadro. Muitos colegas seus falam do jazz como uma influência, mas foi mais o blues ou o folk, mas outros "ares" também fazem sentido como a música brasileira.
Ter recebido em 1999 o Prix Choc da revista "Le Monde de la Musique" pelo melhor disco de “Música do Mundo” foi um momento certamente inesquecível... O que representou para si nesta altura um prémio com esta dimensão?
Não sabia o que me esperava ou o que isso modificaria a minha vida, tinha 26 anos e estava tudo a começar. Havia uma vontade imensa de cantar, de me descobrir mas era tudo. O que viesse era novidade e recebido com entusiasmo mas sem calcular a distância do que aí vinha.
Mas o prémio repetiu-se em 2000...
Consolidou uma agenda já bastante preenchida e valeu-me um contrato com uma major internacional, a Universal Music.
Desde então até aos nossos dias muitos outros momentos altos têm surgido. Pode destacar alguns desses momentos?
Não sou boa a enumerar prémios, conquistas e marcas memoráveis. Sei que o que me acontece tem um propósito e é fruto de muitíssimo trabalho e um pouco de talento. Desculpe, esta não é para mim, porque tudo o que fiz foi digno de registo e tudo junto formou a cantora que sou hoje, portanto, numa última análise todos os momentos foram marcantes.
Tem uma imensa discografia. Se não estamos em erro, “Menina” será o 14º álbum da Cristina Branco. De todos os discos que gravou até ao momento, destaca algum, ou alguns? Todos foram gravados em momentos muito distintos da sua carreira e tiveram diferentes motivações?
Todos tiveram um fundamento. Falam de coisas que me inquietavam em cada um desses momentos. Acho que a música como arte nasce dessa inquietação, é o que nos permite fugir do óbvio e romper cânones que outros antes podem não ter visto ou sentido o apelo para.
Para além de “Menina” há outros projetos que gostasse de concretizar em breve?
A Menina é uma transição, introduz elementos novos que eu gostaria de consolidar, por isso e num futuro próximo só dá Menina no meu gira-discos mental!
Muito obrigado pelo tempo que nos dedicou. Para terminarmos esta entrevista vamos deixar-lhe seis questões de resposta rápida.
Qual o disco da sua vida?
Rara é Inédita de Amália Rodrigues
O melhor filme que já viu foi...
Isto são tudo perguntas ingratas e difíceis. Tal como nos discos, vou enumerar um mas lembro-me de mais 3 ou 4 que me marcaram... Era uma vez na América ex aequo Citizen Kane
O livro que gostaria de reler é
Cem anos de Solidão, Gabriel Garcia Márquez
Passear... a pé ou de carro?
Depende de onde quero ir. Mas seja qual for o transporte que me leve, para conhecer melhor, tenho que andar a pé.
Prato preferido...
Sushi
A felicidade é...
Estar com os filhos, o marido o cão e a gata, em suma estar em paz nem que dure um instante.
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