Bruno Borralhinho. A carreira do violoncelista português e o novo CD.

No dia 26 de Maio pelas 19 horas, Bruno Borralhinho irá apresentar o CD “Portuguese Music for Cello and Orchestra”, com edição da NAXOS, no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian. Antes disso quisemos entrevista-lo e descobrir mais sobre a sua relação com o violoncelo e com a música. «Neste novo CD - um trabalho inédito por ser o primeiro inteiramente dedicado à música portuguesa para violoncelo e orquestra e gravado para um dos maiores selos discográficos do mundo - tenho o prazer de ser acompanhado pela Orquestra Gulbenkian dirigida pelo maestro Pedro Neves. O que, por si só, também é especial, uma vez que não é assim tão comum ver e ouvir por aí uma gravação exclusivamente dedicada à música portuguesa, com um solista português, uma orquestra portuguesa e um maestro português».
Bruno Borralhinho, é uma honra entrevista-lo em vésperas de apresentar um trabalho tão importante para a divulgação da música portuguesa. Quando e como surgiu esta ideia de gravar o disco "Portuguese Music for Cello and Orchestra"? Foi uma forma de continuar o trabalho "Página Esquecida" gravado em 2009?
Precisamente. Em 2009 gravei o CD duplo “Página Esquecida” com a pianista Luísa Tender, um trabalho inteiramente dedicado à música portuguesa que teve um impacto e um sucesso fantásticos, e que reúne o essencial da música portuguesa para violoncelo a solo e com piano. Claro que poderíamos sempre incluir mais uma ou outra obra, mas o trabalho é muito representativo e abrange um arco temporal muito alargado, com obras de compositores nascidos no final do século XIX como Luís de Freitas Branco ou Luiz Costa, passando por Armando José Fernandes, Frederico de Freitas, Fernando Lopes-Graça, Joly Braga Santos ou Cláudio Carneyro, até à modernidade de Jorge Peixinho ou à contemporaneidade de António Victorino de Almeida. O objetivo de divulgar a música portuguesa foi e continua a ser cumprido com esse trabalho, e desde essa altura que tinha a ideia de dar seguimento ao projeto com outra gravação, mas com música portuguesa para violoncelo e orquestra.
Pode descrever este registo, falando-nos dos elementos que participaram na gravação, e das obras que o compõem?
Neste novo CD - um trabalho inédito por ser o primeiro inteiramente dedicado à música portuguesa para violoncelo e orquestra e gravado para um dos maiores selos discográficos do mundo - tenho o prazer de ser acompanhado pela Orquestra Gulbenkian dirigida pelo maestro Pedro Neves. O que, por si só, também é especial, uma vez que não é assim tão comum ver e ouvir por aí uma gravação exclusivamente dedicada à música portuguesa, com um solista português, uma orquestra portuguesa e um maestro português. Este perfil era uma prioridade para mim. Aliás, acordado também desde o início com a NAXOS, e estou naturalmente muito satisfeito por ver agora o trabalho concluído com êxito e com base nessas características. Em relação às obras, o CD inclui uma orquestração fantástica do Pedro Faria Gomes do Poema de Luiz Costa (da qual só existia um rascunho de uma versão para violoncelo e piano), a Cena Lírica de Luís de Freitas Branco, ambas em estreia mundial absoluta em CD, e também duas obras essenciais deste repertório: o Concerto de Joly Braga Santos e o Concerto da Camera Col Violoncello Obligatto de Fernando Lopes-Graça dedicado pelo compositor a Mstislav Rostropovich, que aliás estreou a obra em Moscovo em 1967.
No dia 26 de maio pelas 19 horas irá apresentar este CD com edição da NAXOS no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian. Como será este espetáculo? Há convidados especiais?
Para a apresentação e lançamento do CD “Portuguese Music for Cello and Orchestra” (Naxos) no próximo dia 26 de maio idealizei um evento variado e informativo porque o objetivo principal é a divulgação da música portuguesa. Os artistas e intervenientes diretos na gravação vão estar naturalmente representados com a presença do Dr. Miguel Sobral Cid (Fundação Calouste Gulbenkian), do Pierre Lavoix (supervisor técnico de toda a gravação), do maestro Pedro Neves e comigo, mas também achei interessante ver representados os próprios compositores. Teremos nesse sentido intervenções do compositor Sérgio Azevedo (discípulo de Lopes-Graça), do Prof. Henrique Luís Gomes de Araújo (neto de Luiz Costa), da Ana Telles Béreau (biógrafa de Luís de Freitas Branco) e da Leonor Braga Santos (filha de Joly Braga Santos), que inclusivamente gravou também este CD como membro da Orquestra Gulbenkian. Por outro lado, vamos ter dois momentos musicais ao vivo nos quais serei acompanhado pelo pianista Yan Mikirtoumov e também será possível ouvir e trocar ideias com o público sobre excertos da própria gravação. Finalmente, e porque achámos que seria importante para que estas obras sejam mais tocadas e divulgadas, serão apresentadas as versões para violoncelo e piano (realizadas por mim e pelo Yan Mikirtoumov e editadas pela AVA - Musical Editions) das obras que gravámos de Freitas Branco, Braga Santos e Lopes-Graça. Ou seja, não faltarão motivos de interesse no evento do dia 26, que será gravado pela RTP – Antena 2.
É então um apaixonado pela música de compositores portugueses...
Sou um apaixonado pela música de compositores portugueses, sim, e continuo aliás a aprender e a recolher informação sobre os mesmos. Agora mesmo, por exemplo, estou mergulhado na interessantíssima obra sinfónica de Luís de Freitas Branco. Dizer que são os meus preferidos seria injusto para todos ou outros que adoro! Embora sinta especial afinidade por determinados tipos de música ou compositores em concreto, como é natural, prefiro não dizer que este ou o outro são os meus favoritos. Existe música tão fantástica e em tanta quantidade, que julgo ser mais inteligente e saudável não restringir os gostos ou as preferências.
Luís Sá Pessoa, Markus Nyikos e Truls Mork são nomes indissociáveis do seu percurso formativo. Há outros nomes que não possa deixar de mencionar neste âmbito?
Os meus professores de violoncelo foram sem dúvida marcantes a vários níveis. O Luís Sá Pessoa, por exemplo, para além de meu professor de violoncelo, é meu amigo. Aprendi com ele imensas coisas, não só relacionadas com o violoncelo mas com a música em geral, são ensinamentos que nunca se esquecem. Muito sinceramente acho que o percurso formativo de um músico não se encerra com a obtenção de um diploma ou título académico. Fora do universo académico, digamos assim, marcaram-me maestros como Claudio Abbado, Daniel Barenboim, Kurt Masur, entre outros. E continuam a marcar-me as pessoas com quem faço música no dia-a-dia, sejam os meus colegas da Orquestra Filarmónica de Dresden, do Ensemble Mediterrain ou tantos outros com quem me vou cruzando. O processo de assimilação de conhecimentos e experiências é um poço sem fundo e podemos aprender muito, tanto de quem adoramos, como de quem odiamos.
De todos os prémios conquistados, há alguns que assumam maior importância para o Bruno Borralhinho?
O Prémio Jovens Músicos foi sem dúvida muito marcante a vários níveis. Não só pelo prémio em si, que na altura foi um instrumento muito bom, mas também pelo impulso que me deu em termos até de motivação pessoal. Mas o mais importante de um concurso acaba por ser a preparação do mesmo e, nesse aspeto, todos os concursos são importantes na medida em que normalmente obrigam o músico a superar-se e a evoluir a uma velocidade superior ao ritmo normal de aprendizagem.
Quais as principais orquestras que já integrou?
Tenho o prazer de ser membro, há quase 10 anos, de uma orquestra com reputação internacional: a Orquestra Filarmónica de Dresden (Michael Sanderling). O nível é fantástico e fazemos imensas viagens ao estrangeiro, com digressões quase bianuais ao Japão e aos Estados Unidos, por exemplo. Antes, toquei dois anos na Staatskapelle de Berlim (Daniel Barenboim), o que me permitiu aprender imenso sobre o repertório e o mundo da ópera, e na Deutsches Symphonie Orchester Berlin (Kent Nagano), orquestras com as quais continuo aliás a manter contacto. Em termos de orquestras jovens, destacaria naturalmente a Orquestra de Jovens Gustav Mahler (2002) e a Orquestra Mundial das Juventudes Musicias (1999-2001): além de se trabalhar a um nível altíssimo, são experiências extremamente enriquecedoras, também pelo contacto com jovens músicos de outras nacionalidades e culturas.
Neste contexto teve oportunidade de trabalhar com maestros conceituados tais como...
Com os já referidos Claudio Abbado, Daniel Barenboim, Kurt Masur, mas também com Herbert Blomstedt, Andris Nelsons, Paavo Järvi, Christoph Eschenbach, Kent Nagano, Frühbeck de Burgos, e tantos outros. E com o Gustavo Dudamel se pudermos considerar apenas um ensaio (risos): na altura ele era completamente desconhecido e um dia o Barenboim reservou os últimos 15 minutos de um ensaio para apresentar à orquestra um jovem venezuelano. Lembro-me perfeitamente de um rapaz baixinho, muito nervoso e transpirado a dirigir o primeiro andamento da 5ª Sinfonia de Beethoven! Entretanto a Staatskapelle de Berlim já tem que transpirar para o conseguir contratar de vez em quando!
Também se tem dedicado à partilha de conhecimento, ministrando algumas masterclasses?
Sempre que posso e o tempo me permite tento alargar a minha atividade profissional, especialmente porque também aprendo muito fazendo outras coisas para além de tocar violoncelo. Estou por exemplo a fazer um Doutoramento em Humanidades na Universidad Carlos III de Madrid, tenho intensificado a minha atividade de direção de orquestra e orientei até ao presente Masterclasses de violoncelo em Portugal, Espanha e Brasil. Foram sempre experiências extremamente enriquecedoras mas dar aulas não é nada fácil, pelo contrário. Não basta saber ou poder tocar a obra em questão, é importante saber ou poder transmitir os ensinamentos de uma forma clara, motivadora e até inspiradora.
Muito obrigado por ter partilhado tantas informações com os nossos leitores. Gostaria que “Portuguese Music for Cello and Orchestra” fosse tocado ao vivo mais vezes?
Claro que sim. Temos esse objetivo e estamos já em contacto com algumas instituições, tanto em Portugal como no estrangeiro, para que tal se concretize.
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