Myrica Faya e a recriação da música dos Açores
Os Myrica Faya lançaram o disco “do cerne” e nós quisemos saber um pouco mais sobre este projeto que nos chega dos Açores. Nos dois últimos anos o grupo tem tocado bastante e, fruto de várias e diversificadas vivências apresentam agora o sucessor de “Vir’ó Balho” que foi considerado um dos 10 melhores discos da área tradicional/folk editados em Portugal no ano de 2014. «Somos relativamente novos nesta vertente musical, no entanto pelo que vamos percebendo, há um público bastante fiel. Numa época em que as pessoas parecem voltar-se mais para o seu país e para o que de melhor nele se faz, os projetos de world music têm tudo para se afirmarem e serem bem-sucedidos».
Os Myrica Faya tiveram origem na ilha Terceira, nos Açores. Como surgiu a ideia de se juntarem para trabalhar sobre a música de cariz tradicional?
Os Myrica Faya surgem no seio de um grupo de amigos que havia feito um arranjo para um tema tradicional dos Açores. Após esse primeiro arranjo ficou a vontade de procurar “desvendar” toda a potencialidade musical da música açoriana através de novas sonoridades. Como resultado apareceram os Myrica Faya.
Todos os músicos têm a mesma formação musical e as mesmas influências?
Todos os elementos dos Myrica Faya têm diversas influências e origens musicais. Apenas dois dos elementos frequentaram o conservatório, enquanto local de ensino formal. Os restantes foram aprendendo “aqui e ali”. Há elementos de origem ligada mais à música tradicional “pura”, outros à música clássica, tunas e pop.
Essas influências fazem com que não se limitem a reproduzir os temas tradicionais e lhe confiram um caráter muito próprio?
A sonoridade dos Myrica Faya é precisamente o resultado da miscelânea de influências de cada um dos cinco elementos. A base é sempre a música tradicional dos Açores, mas a sonoridade final reflete as “vivências musicais” dos seus elementos.
Podem falar-nos um pouco do processo de recolha e recriação dos temas?
Normalmente é proposto um tema e depois de se ouvir o “original”, seja através de gravações antigas ou de grupos de folclore, começam a surgir ideias relativamente à reconstrução do tema. Muitas das vezes é o próprio tema que escolhe o caminho até chegarmos ao resultado final. Acontece tudo de forma muito informal, sem “data e hora marcada”.
Em 2014 lançaram o vosso primeiro disco “Vir’ó Balho”. Como foi recebido este trabalho pela crítica e pelo público?
O “Vir’ó Balho” excedeu as expectativas que nós tínhamos. Abriu-nos muitas portas, tanto ao nível dos Açores como no todo nacional. Foi incluído na lista dos 10 melhores discos da área tradicional/folk editados em Portugal no ano de 2014 e talvez por ter havido toda esta aceitação, surge agora o novo disco.
Vocês têm tido muitos concertos e têm igualmente participado em muitos festivais de folk/world music. O palco também tem sido um bom conselheiro no vosso processo de arranjos dos temas? Há ideias que surjam nos espetáculos ao vivo e que depois sejam transpostas para o estúdio?
O palco é sem dúvida um bom conselheiro. É com o público e com músicos que nos vamos cruzando, que vamos encontrando formas diferentes de trabalhar. O nosso novo álbum “do Cerne” é um exemplo flagrante de toda esta influência. Ao contrário do primeiro álbum, neste novo trabalho é bem percetível toda a influência que fomos recebendo ao longo dos últimos 2 anos. Como foi referido há pouco, o nosso processo de trabalho é bastante informal e assim sendo, são muitas as ideias que também vão surgindo nos espetáculos ao vivo e que depois acabam por ser concretizadas em estúdio.
Chega agora o álbum “do Cerne”. Falem-nos um pouco deste trabalho e do seu processo de criação.
O “do Cerne” é um álbum que conta com temas açorianos menos conhecidos do público em geral. A somar a este facto, nota-se a tal influência que aqui já foi falada. Mantêm-se o cerne que é a música açoriana, mas procuram-se fazer interpretação um pouco mais arrojadas, um pouco à imagem de um concerto ao ar livre.
O que o distingue de “Vir’ó Balho”?
Como disse, enquanto no “Vir’ó Balho” foram gravados os “clássicos” da música tradicional açoriana, no “do Cerne” os temas são menos conhecidos e a sonoridade é mais “cheia” contribuindo para isso uma maior presença das percussões.
Já estão marcadas muitas datas para apresentar este “do Cerne”?
O “do Cerne” foi apresentado no dia 14 de maio na ilha Terceira, após ter sido feito um pré-lançamento em Lisboa. Seguem-se concertos em algumas ilhas dos Açores, Portugal Continental e Espanha.
Sentem que vivemos um momento propício para a afirmação de projetos ligados à world music?
Somos relativamente novos nesta vertente musical, no entanto pelo que vamos percebendo, há um público bastante fiel. Numa época em que as pessoas parecem voltar-se mais para o seu país e para o que de melhor nele se faz, os projetos de world music têm tudo para se afirmarem e serem bem-sucedidos.
Muito obrigado por nos terem possibilitado sabermos um pouco mais sobre este projeto. Apresentem-nos então a equipa que sobe ao palco neste projeto?
Os Myrica Faya são Bruno Bettencourt (viola-da-terra e voz), Cláudio Oliveira (contrabaixo, acordeão e voz), Emílio Leal (piano, bouzouki, cavaquinho brasileiro e voz), Pedro Machado (guitarra, flauta e voz) e Ricardo Mourão (guitarra, percussões e voz).
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