Primitive Reason. Uma aventura musical com 20 anos.

Primitive ReasonGuillermo de Llera aceitou o nosso desafio para uma entrevista sobre a caminhada de 20 anos dos Primitive Reason. Não deixámos de falar também dos seus projetos pessoais. «Há muita coisa ainda por dizer. Não só artisticamente, mas também a nível académico, onde me encontro a acabar o mestrado de Etnomusicologia, o que me está a dar imenso prazer. Muitas das reivindicações que fazemos musicalmente nos Primitive Reason podem também ser feitas na literatura e também na arte. No fundo parece-me que estou sempre a dizer a mesma “coisa” mas em linguagens diferentes». Agora lançam a coletânea “WALK INSIDE: The Singles Collection” editado pela Kaminari Records e distribuído pela Sony Music Portugal. Segundo o nosso entrevistado este trabalho é «um presente; um fechar de ciclo; um toque para algo que virá de novo».

Guillermo de Llera, já lá vão 20 anos mas ainda se recordam certamente de como toda esta aventura começou. Como nasceram os Primitive Reason?
Nos inícios dos anos 90, o Jorge - primeiro baterista dos Primitive reason e amigo de infância - tinha em mente ser músico, e após ter sido expulso de uma banda de covers pelo seu carácter intempestivo, perguntou-me se eu estaria interessado em formar uma banda com ele e com o Brian Jackson que tinha saído com o Jorge da mesma banda de covers. No início resisti porque eu queria era ser skateboarder profissional, mas quando pus as mãos num baixo e consegui tocar duas notas de seguida fiquei imediatamente apanhado pela música. Os três formámos os Primitive Reason e, depois de muita discussão sobre que tipo de música devíamos tocar, decidimos tocá-las todas e não discutir mais.

O facto de haver músicos oriundos de origens tão diversificadas, tais como Portugal, Espanha, Reino Unido, EUA, Suíça... é, de certa forma responsável por alguma polivalência estética da banda?
Quando entraram o Mikas e o Mark para a banda, vieram para esta estética do “vale tudo” e acrescentaram vocabulário à nossa discórdia musical, o que enriqueceu a banda. As nossas variadas origens têm muito a ver com as diferentes influências musicais que encontram voz na banda, mas eu penso que tem mais a ver com uma atitude de contestação social que era mais comum na altura. Os membros que constituíram a formação original, todos tínhamos isso em comum e a nossa polivalência era um “statement”.

Recordam-se dos primeiros temas a entrar para as playlists das rádios e dos primeiros prémios alcançados? Quais aqueles que tiveram mais impacto no seio da banda?
Claro que sim. O “Seven Fingered Friend” e o “Hipócrita” são um bom reflexo da nossa natureza e de uma dicotomia interna que ainda prevalece no grupo onde forças opostas são vistas como parte de um todo e não como fins separados. No entanto, as músicas desse tempo que mais gozo sempre deram à banda tocar ao vivo, nas suas várias encarnações, são canções como o "Born From Fear", "Sold Out" ou "So You Say".

A vossa música cai muito bem em festivais ao ar livre. Consideram que a vossa música também pode ter lugar nos auditórios que foram nascendo em Portugal nestes últimos 20 anos?
Eu, pessoalmente, acho que sim, mas o repertório teria que refletir a sala. Faço-me entender com uma lembrança de um concerto em 2004 no teatro de Santa Maria da Feira, para a Quinta dos Portugueses - Antena 3 - onde as pessoas simplesmente não conseguiam ficar sentadas. Uns puseram-se em pé nas cadeiras, outros dançaram e “mosharam” entre filas, e todos se divertiram à grande. Todos, menos os responsáveis da sala que viam a casa quase vir abaixo e dando-lhe prejuízo. Com isto digo que, após tantos anos de música, acho que temos repertório para todo o tipo de sala, mas como disseste, em festivais ao ar livre é onde melhor se ouve e vive Primitive Reason.

Primitive Reason

O que vos fez a uma certa altura tomar a atitude de partir para Nova Iorque? Quais as principais mudanças advindas dessa decisão?
O sucesso a velocidade de relâmpago da banda fez com que existisse uma certa fragmentação em tudo o que envolvia a banda. Todos sentimos que precisávamos de um novo desafio para voltar a fazer a estrada como o fazíamos no início, conquistando as pessoas pelo nosso empenho musical e entrega no palco, e não como fenómeno comercial. Ocorreram muitas coisas e a banda acabou por se fragmentar à mesma, partindo o Brian para a Flórida, o Mikas ficando em Portugal, e o Mark Cain voltando para cá após uns tempos em Nova Iorque. Como eu já fazia bastantes vozes na banda passei para vocalista e entre o Jorge e eu reconstruimos a banda com músicos locais.

Mais tarde, a partida de diferentes elementos da banda para igualmente diferentes partes do mundo também deu os seus frutos... Para onde foi cada um dos músicos especificamente?
O Jorge foi para Londres, o James e o Abel para os Estados Unidos e eu para o Japão.

Os Primitive Reason foram nomeados para Melhor Artista Português nos MTV European Music Awards em 2003. Nesta altura foi importante um reconhecimento como este? Fez a banda sentir que trilhava o caminho certo?
Sim, de certa forma sentimos que foi um reconhecimento importante, e deu-nos muita satisfação ser valorizados dessa forma, mas o nosso caminho nunca foi determinado pelos resultados.

A saída inesperada de Jorge Felizardo, que se mudou para Londres também em 2003 foi um choque para a banda?
Foi um grande choque, particularmente para mim que perdia um irmão. O Jorge e eu somos amigos de infância, e desde os nove anos que nunca tínhamos deixado de fazer coisas juntos, seja música, copos, viagens, o que for. Foi um grande choque ver um grande amigo emigrar e não fazer o mesmo.

Guillermo Llera acaba por escrever um livro. Sentia que a música por vezes pode não chegar? Havia algo ainda por dizer?
Há muita coisa ainda por dizer. Não só artisticamente, mas também a nível académico, onde me encontro a acabar o mestrado de Etnomusicologia, o que me está a dar imenso prazer. Muitas das reivindicações que fazemos musicalmente nos Primitive Reason podem também ser feitas na literatura e também na arte. No fundo parece-me que estou sempre a dizer a mesma “coisa” mas em linguagens diferentes.

Tocar ao lado de bandas como Tool, System of a Down, Placebo, Prodigy, Deftones e Incubus funcionava como um estímulo para a banda?
Nem mais. Sempre foi uma grande honra partilhar palco com grandes nomes. Uma honra e uma grande lição de humildade.

Lembram-se de outros momentos marcantes?
Cada um terá os seus, mas para mim fico com “tocar a última nota de um concerto, dar meia volta e ver o David Bowie atentamente a observar o concerto com um sorriso na boca”.

Agora nasce a coletânea WALK INSIDE: The Singles Collection editado pela Kaminari Records e distribuído pela Sony Music Portugal. É um presente para aquele público que sempre vos acompanhou? Como define este último trabalho?
É isso mesmo, um presente; um fechar de ciclo; um toque para algo que virá de novo.

O que sonham para os próximos 20 anos?
Idealmente, continuar a fazer música e passar a mensagem acompanhando os tempos que mudam; cada vez mais conseguindo gerir a nossa independência e conquistar o nosso lugar ao sol.

Muito obrigado por este tempo que dedicaram aos nossos leitores. Há datas novas para concertos? Onde vos poderemos ver e ouvir em breve?
Em breve terão “notícias grandes”.

Primitive Reason. Uma aventura musical com 20 anos.

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