Dom La Nena. Um violoncelo e uma voz.
Dom La Nena não compartimenta as suas competências. A compositora, a cantora e a instrumentista convivem num todo artístico. A este respeito disse-nos: «Tenho mais tendência a ver-me como um «todo» do que divida em “facetas”, na verdade. Mas se tivesse que dividir assim, acho que todas estariam no mesmo nível, não há predomínio: elas não existem uma sem a outra. Eu não seria cantora se não me acompanhasse com o violoncelo e se não fosse compositora, por exemplo...» Relativamente aos concertos que vai fazer em Portugal afirmou que tem vindo a apresentaro seu segundo disco, “Soyo”. No entanto o espetáculo também terá canções do “Ela”. «É um show muito intimista, no qual estou sozinha no palco, rodeada de instrumentos: meu violoncelo, minha guitarra, bateria, percussões, ukulelê, teclado, etc. Gosto de construir as músicas ao vivo, da mesma maneira que as construo em estúdio, quando gravo, e para isso utilizo um sistema de gravação ao vivo, com pedais de loops».
Dom, muito obrigado por responder às nossas perguntas. Quando iniciou a sua formação musical? O violoncelo foi o primeiro instrumento que aprendeu?
Comecei no Brasil, aos 4 anos, primeiro com aulas de «musicalização», um trabalho muito bonito que desperta os sentidos musicais das crianças bem pequenas. Com cinco anos comecei a estudar piano e alguns anos depois, com 8 anos, comecei com o violoncelo.
O que dizem os seus versos? A sua poesia é autobiográfica?
Acho que minhas músicas falam mais dos meus sentimentos (o amor, a saudade, o medo, as dúvidas...) do que de mim - e são sentimentos que todos nós sentimos, por isso acredito que deixa a música mais interessante, menos individualista.
O violoncelo tem para si um significado tão grande que faz com que não se sinta sozinha em palco?
Sim, acho que com ele estou sempre bem acompanhada. Minha cumplicidade com o instrumento é mesmo muito forte. Estar somente eu e ele no palco me tranquiliza de alguma maneira, pois sei que o conheço suficientemente bem para não me perder.
Aposta numa sonoridade muito “crua” no sentido de não vestir a sua música com tecnologia. Sente-se influenciada por alguns músicos que apostem nestes formatos?
Em termos de arranjos, realmente tenho procurado um som bastante «orgânico», tentando guardar o som mais puro de cada instrumento - trabalhando basicamente com instrumentos «reais», acústicos - nada artificial. Mas uso muito a tecnologia, principalmente no palco. Gosto de combinar esse «orgânico» dos instrumentos com a tecnologia, passando por efeitos como pedais de «loop», que me permitem por exemplo fazer uma pequena orquestra de violoncelos sozinha, gravando cada uma das vozes do violoncelo ao vivo. A argentina Juana Molina também tem um trabalho muito legal onde combina sons acústicos/orgânicos com a tecnologia.
Qual a música que ouve habitualmente em casa?
Recentemente tenho ouvido bastante o disco da Adriana Calcanhotto cantando Lupicínio Rodrigues, o disco «Refazenda» do Gil, The Do, Cartola, Banda do Mar e Onda Vaga.
O que a fez mudar-se para Paris? Procurava novas inspirações?
Quando criança, morei quatro anos em Paris com meus pais, e foi aqui que comecei a estudar seriamente o violoncelo. Quando voltamos para o Brasil, sempre quis ter a possibilidade de voltar a França para continuar estudando, pois o nível do ensino da música clássica é realmente excelente em Paris. Por isto voltei quando completei 18 anos para continuar meus estudos de violoncelo. Logo depois comecei a trabalhar e com o tempo fui construindo minha vida por aqui.
A Dom La Nena é a junção de três facetas? A cantora, a performer e a compositora? Sente que alguma destas facetas tem predomínio sobre as outras?
Tenho mais tendência a ver-me como um «todo» do que divida em «facetas», na verdade. Mas se tivesse que dividir assim, acho que todas estariam no mesmo nível, não há predomínio: elas não existem uma sem a outra. Eu não seria cantora se não me acompanhasse com o violoncelo e se não fosse compositora, por exemplo...
O seu trabalho tem sido bem recebido em todo o mundo. Há algum país que a tenha impressionado de forma mais marcante?
Acho sempre surpreendente ver meu trabalho ser tão bem recebido em países onde normalmente não se fala português nem espanhol - no Canadá, por exemplo. Vou frequentemente apresentar-me por lá, e é realmente muito exótico para mim, encontrar público para minhas canções em cidades como as do interior profundo do Quebec.
Vai estar em breve em Portugal. Pode revelar aos nossos leitores um pouco daquilo que irá ser o seu espetáculo?
Venho apresentando principalmente meu segundo disco, «Soyo». Mas também há canções do «Ela», meu primeiro trabalho, e sempre faço algum cover. É um «show» muito intimista, no qual estou sozinha no palco, rodeada de instrumentos: meu violoncelo, minha guitarra, bateria, percussões, ukulelê, teclado, etc. Gosto de construir as músicas ao vivo, da mesma maneira que as construo em estúdio, quando gravo, e para isso utilizo um sistema de gravação ao vivo, com pedais de «loops», como referi há pouco.
Muito obrigado por este tempo que nos dedicou. Aprecia a música e os músicos portugueses?
Confesso que não sou grande conhecedora da música portuguesa, mas gosto muitíssimo do que conheço. Sou grande fã do António Zambujo, adoro os Danças Ocultas (com quem toco muito seguido), gosto muito da Carminho e da Luísa Sobral.
Sistema de comentários desenvolvido por CComment