Amadeu Magalhães apresenta “O Cavaquinho do Amadeu”
"O Cavaquinho do Amadeu" é o primeiro trabalho a solo de Amadeu Magalhães. Entre os músicos que mais admira encontram-se Júlio Pereira, Pedro Caldeira Cabral e Carlos Paredes. Mas quando perguntamos se a música tradicional portuguesa atravessa um bom momento, a resposta é: "Pessoalmente não acho! A quantidade não é sinónimo de qualidade e, se bem que há muito mais oferta musical hoje em dia devido à facilidade dos recursos tecnológicos para o fazer, a qualidade deixa muito a desejar! Lembro-me de que há uns anos não era qualquer um que poderia gravar um disco, tinha de dar garantias mínimas de qualidade às editoras e havia muita preocupação na qualidade do produto. Hoje em dia é bem diferente, como todos sabemos".
Muito obrigado por ter aceitado este nosso desafio. "O Cavaquinho do Amadeu" é a 1ª edição discográfica do Museu Cavaquinho. Este facto confere ao seu trabalho um prestígio acrescido?
Eu não tinha nenhum trabalho a solo e isto é um marco na minha carreira musical definitivamente. Eu preferia utilizar o termo notoriedade em vez de prestígio. Um trabalho destes, nos dias que correm, é feito mais para mostrar o que se faz do que para ter resultados comerciais, por exemplo.
Pode descrever-nos este trabalho?
É um trabalho focado no cavaquinho português, instrumental, com temas originais e adaptações de música do nosso cancioneiro tradicional. Pretendi com este disco mostrar técnicas de execução que tenho desenvolvido com o instrumento, sem abdicar de um certo gosto musical que pretendi que fosse o mais isento possível para que o cavaquinho fosse o protagonista.
A Associação Museu Cavaquinho não para de crescer e de trabalhar em prol do universo do cavaquinho. Como viu o nascimento de uma associação com estas características e premissas?
A associação tem uma pessoa muito carismática à sua frente, o Júlio Pereira, pessoa que personifica o cavaquinho em Portugal. É uma pessoa determinada e um músico fora de série. Esta associação não poderia ter nascido de outra forma e como eu apoio coisas em que acredito realmente, vi o nascer desta associação como uma mais-valia para a nossa cultura.
Como foi o seu percurso formativo no âmbito da música? Os cordofones foram sempre os seus favoritos?
Eu comecei por tocar clarinete numa banda filarmónica (Banda Filarmónica do Couto de Dornelas) onde aprendi as bases todas do solfejo. Mais tarde fui estudar para Coimbra e tive contacto com os instrumentos tradicionais que comecei a aprender como autodidata, pois em 1988 não havia os recursos, nem coisa que se pareça, que há hoje em dia. Nunca tive um instrumento favorito e todos eles me dão muito prazer, são uma extensão para nos podermos exprimir musicalmente. Gostava de poder tocar mais alguns, mas nem sempre querer é poder.
Quais as suas principais referências musicais? Quais os músicos que mais o influenciaram?
Nos cordofones portugueses foi o Júlio Pereira, sem dúvida. Também aprecio muito o trabalho do Pedro Caldeira Cabral e do Carlos Paredes. Noutros instrumentos poderei nomear o Carlos Nuñez, Davy Spillane e Kathryn Tickell nas gaitas de fole e flautas, Sharon Shannon, Kepa Junkera e John Williams na concertina, Michael Edges, Preston Reed e Paco de Lucia na guitarra.
Para além deste último projeto - "O Cavaquinho do Amadeu" – estará certamente envolvido noutros. Quais os trabalhos que está a desenvolver?
Neste momento as minhas energias estão canalizadas para "O Cavaquinho do Amadeu". Claro que estou constantemente a experimentar musicalmente e tenho algumas ideias, muitas delas não concretizáveis, dada a conjuntura atual. Estar a nomear o que estou a fazer agora... estará desatualizado dentro de poucos dias.
Em sua opinião, a valorização da "world music" a que temos assistido nos últimos tempos favorece o aparecimento de novos instrumentistas ligados a instrumentos como o cavaquinho?
Sem dúvida, a world music veio despertar o interesse pelos instrumentos populares, principalmente as gaitas de foles e percussões, pois são instrumentos relativamente simples de se começar a tocar e fazem muito barulho, está claro. Se bem que, instrumentistas sempre os houve, mas hoje está-se mais exposto com as novas tecnologias.
Portugal vive um bom momento no âmbito da música tradicional portuguesa?
Pessoalmente não acho! A quantidade não é sinónimo de qualidade e, se bem que há muito mais oferta musical hoje em dia devido à facilidade dos recursos tecnológicos para o fazer, a qualidade deixa muito a desejar! Lembro-me de que há uns anos não era qualquer um que poderia gravar um disco, tinha de dar garantias mínimas de qualidade às editoras e havia muita preocupação na qualidade do produto. Hoje em dia é bem diferente, como todos sabemos.
Portugal tem inúmeros construtores de cavaquinhos e isso fará certamente que a qualidade lhe seja proporcional. Os seus cavaquinhos são construídos por um único construtor ou, dependendo das características pretendidas, opta por mais do que um?
Quanto a isso vou ser muito sucinto. Eu só uso instrumentos do Fernando Meireles (construtor de Coimbra) para instrumentos topo e Artimúsica (Celeirós, Braga) para instrumentos com boa relação qualidade-preço.
Muito obrigado, mais uma vez, por nos ter proporcionado esta partilha. Há algum sonho ou projeto que ainda não tenha concretizado e que gostasse de ver realizado em breve?
Sim, um curso académico de música tradicional portuguesa.
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