Claus Hessler. A bateria nos diferentes contextos. Pedagogia e Performance.
Aproveitando o pretexto da sua visita a Portugal no contexto do "ACIFAL Dia do Ritmo – Aveiro 2015", desafiámos o baterista Claus Hessler para uma entrevista. Relativamente aos ingredientes necessários para que se atinjam níveis de excelência diz-nos que é fundamental que haja um "trabalho disciplinado, bem refletido, e estruturado de uma certa maneira. Um bom professor, que nos indica o sentido, pode ser uma grande ajuda de várias maneiras. Há 20 anos atrás, parecia ser difícil encontrar determinada informação. Hoje, toda a informação está acessível, mas o desafio é encontrar informação séria, bem estruturada e relevante, e ficar longe de coisas que não levam a lado nenhum, o que não é tão fácil quanto parece. Se eu tivesse que definir uma regra, eu diria: [Não pratiquem tudo todos os dias. Concentrem-se numa escolha de problemas e deixem as outras coisas de parte]".
O facto de escrever artigos educacionais para a revista alemã "drums & percussion " e para a "Modern Drummer" demonstra a credibilidade e seriedade do seu trabalho. Como foi o seu percurso até atingir este estatuto? Começou a estudar bateria muito cedo?
Bem, não comecei a estudar propriamente cedo. Embora tenha começado a tocar bateria por volta dos 4 / 5 anos, as minhas primeiras aulas formais vieram muito mais tarde, quando eu já tinha cerca de 10 anos de idade. Ainda me considero um estudante de bateria e continuo a desfrutar deste processo contínuo de aprendizagem que nunca termina... Passados mais de 40 anos com este instrumento, ainda vou descobrindo coisas às quais não tinha dado a devida importância. A bateria continua a ser uma espécie de "maravilha" para mim...
Dom Famularo e Billy Cobham são para o Clauss duas grandes referências do mundo da bateria?
Sem dúvida, ambos são forças motrizes no panorama da bateria. Mesmo no caso de alguém que não seja um verdadeiro fã do Billy, não pode negar o facto de que ele é, possivelmente, um dos bateristas mais marcantes do Século XX . Relativamente ao Dom..., ele não é apenas um baterista excecional. Ele tem uma capacidade única para transmitir a sua paixão às pessoas. Ele é o professor mais dedicado que se possa imaginar e pode mudar vidas... tal como fez com a minha.
Pode mencionar outos bateristas que admire? Sente que é influenciado por eles?
Com certeza, eu menciono ainda outro importante mentor meu, o lendário Jim Chapin. A sua influência na minha maneira de tocar está principalmente no aperfeiçoamento das minhas habilidades técnicas e em compreender como uma baqueta na mão funciona a um nível completamente diferente. E há, naturalmente, uma infinidade de pessoas que nos influenciam, por vezes, mesmo sem o saber. Houve bateristas no passado que mudaram a forma de tocar bateria para melhor e sem eles este instrumento não seria abordado da forma que o fazemos nos dias de hoje. Por isso, peço a todos vocês para relembrarem os "gigantes do jazz", como Jo Jones, Chick Webb, Shadow Wilson, por exemplo... A minha especial admiração pessoal vai também para bateristas com um conceito e som próprio, porque eles têm a sua identidade musical singular. Neste caso falo de pessoas como Simon Phillips, Vinnie Colaiuta, Keith Carlock, Stewart Copeland ou Mark Brzezicki que vêm à minha mente em primeiro lugar.
Tem lançado vários trabalhos didáticos no âmbito da bateria. Sente essa necessidade de ir registando e transmitindo as suas descobertas pedagógicas?
Até agora eu publiquei maioritariamente trabalhos que ainda não se encontravam devidamente registados ou documentados. Foi essencialmente material que eu comecei a escrever para mim e que testei comigo e com os meus alunos. Assim, todos os meus livros e DVDs passaram por uma fase de teste. Além disso, a educação é especial para mim e eu sinto uma certa obrigação de retribuir aquilo que os meus mentores me passaram...
O principal elemento a ter em conta para se atingirem níveis de excelência neste instrumento reside no trabalho intenso e diário?
Para um bom nível "sim". Eu gostaria apenas de acrescentar que este trabalho tem que ser disciplinado, bem refletido, e estruturado de uma certa maneira. Um bom professor, que nos indica o sentido, pode ser uma grande ajuda de várias maneiras. Há 20 anos atrás, parecia ser difícil encontrar determinada informação. Hoje, toda a informação está acessível, mas o desafio é encontrar informação séria, bem estruturada e relevante, e ficar longe de coisas que não levam a lado nenhum, o que não é tão fácil quanto parece. Se eu tivesse que definir uma regra, eu diria: Não pratiquem tudo todos os dias. Concentrem-se numa escolha de problemas e deixem as outras coisas de parte.
Para além das masterclasses e do trabalho realizado na University for Music and Performing Arts em Frankfurt ainda tem tempo para trabalhar enquanto performer? Toca regularmente?
Não tão frequentemente como eu gostaria, mas ainda continuo a tocar com bandas. Uma das minhas bandas atuais é um projeto chamado "FLUX" com órgão Hammond, guitarra e bateria. 99% do nosso repertório é música original e há, definitivamente, muita diversão! O nosso álbum encontra-se disponível no iTunes e, no YouTube podem encontrar uma série de clips de vídeo com o nosso material.
O estúdio é outra faceta do seu trabalho. Gosta de trabalhar em estúdio?
Sim gosto, embora o trabalho em estúdio, nesse sentido, possivelmente já não exista muito. Hoje em dia, com uns bons microfones, um computador e um espaço agradável, já criamos o nosso próprio estúdio! De qualquer forma, eu continuo a gostar de gravar a cada momento e de ser capaz de criar música!
O que podem esperar os bateristas portugueses da masterclass que fará em Aveiro?
Bem, um olhar por dentro do mundo conceptual da minha performance incluindo "open-handed playing", um pouco do meu material de independência, e a minha abordagem para a técnica e rudimentos serão certamente tópicos que eu irei abordar. Vou, evidentemente, tocar solos e também algumas faixas e..., é claro, responder às questões que me possam colocar. Irei também preparar algumas páginas com exercícios dos meus livros nas quais me irei focar, para que os participantes levem para casa algo com que possam trabalhar! O meu objetivo é motivá-los a ir mais além e a explorar a sua paixão pela bateria ao nível mais profundo possível. Quando eles saírem do workshop e disserem: "Eu tenho que ir para casa e praticar", então eu terei cumprido a minha missão!
Como poderão os nossos leitores adquirir os seus manuais?
Podem adquiri-los em qualquer parte do mundo através da "Alfred Music Publishing". Muito em breve o meu novo site será também lançado com uma pequena loja on-line onde poderão ser adquiridas as minhas publicações, também com um autógrafo personalizado, é claro (risos).
Há algum contacto direto para o qual possam endereçar dúvidas e solicitar conselhos?
Podem contactar-me a qualquer momento através do Facebook ou do meu site www.claushessler.com.
Muito obrigado por este tempo que partilhou com os leitores do XpressingMusic – Portal do Conhecimento Musical.
Foi um prazer!
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