Mancines. Música e cinema numa simbiose onde a criatividade é o fio condutor

MancinesRaquel Ralha, Toni Fortuna, Pedro Renato e Gonçalo Rui dão corpo a um projeto que nasce em Coimbra e no qual as vivências de projetos anteriores se fundem dando vida a uma nova sonoridade que sugere imagens e guiões de filmes que podiam ser os das suas vidas. Na conversa que tivemos em Coimbra com os Mancines ficou claro que nos imaginários destes experientes músicos tudo é possível. Se a larva faz um casulo e de dentro dele sai borboleta, o caminho inverso também aqui se torna possível. A banda nasceu das necessidades exigidas pelo disco mas, no próximo episódio deste projeto já serão as personagens que, saindo do guião inicialmente estabelecido, darão vida a novos sons e novas mensagens. Mancines estrearam-se no passado dia 9 de abril na sua terra natal mas, já no próximo dia 25 de junho rumam a Lisboa para encherem o Teatro da Trindade com sons que prometem entranhar-se nas nossas playlists dos próximos tempos.

Em primeiro lugar queremos agradecer o facto de nos terem recebido aqui em Coimbra nesta ótima tarde de primavera. De acordo com as primeiras informações que obtivemos relativamente ao vosso projeto, ficámos com a ideia de que este projeto já andava a ser preparado há pelo menos 15 anos...
(Pedro Renato) É verdade que algumas músicas já existem há 15 anos. Falamos da altura do término dos Belle Chase Hotel. Desde essa fase comecei a acumular algumas músicas lá por casa. Não quero dizer com isto que o projeto tenha sido engendrado há 15 anos atrás. Fui colocando músicas de parte para que um dia, quando houvesse oportunidade, juntar as pessoas que agora reuni para fazermos um disco. (Raquel Ralha) De qualquer forma, foi há cerca de 3 anos que as coisas começaram a ser programadas e gravadas lentamente... Ainda assim foi um período longo.

MancinesNão há de ser por falta de maturação do projeto que este não há de vingar (risos)
(Pedro Renato) Sim, sim... Quase que apodreceu (risos).

E qual é a viagem que nos propõem com este disco? As sonoridades são as que já nos tinham habituado em discos de outros projetos, ou surge aqui algo de completamente novo?
(Pedro Renato) É natural que as músicas ainda tenham algumas referências dos tempos dos Belle Chase Hotel, ou até outras referências que eu já tinha desses tempos. É claro que, sendo algumas pessoas agora diferentes daquelas que participavam nos meus projetos anteriores, surgem sempre sonoridades novas apontando para novas direções também. Mas eu tento puxar sempre a brasa à minha sardinha como se costuma dizer. Assim, o universo acaba por ter parecenças com os Belle Chase Hotel e outras bandas sonoras... Mas é claro que sendo as pessoas diferentes acaba por ganhar outras sonoridades e outras identidades. (Raquel Ralha) Mancines acabam por conter uma vertente muito mais cinematográfica do que Belle Chase Hotel. (Pedro Renato) Menos pop. (Raquel Ralha) O Pedro Renato é quem compôs a totalidade das músicas e as letras foram repartidas entre mim e o Toni Fortuna. As músicas que o Pedro tem feito têm essa componente cinematográfica e, como é óbvio, na altura fez essas músicas sem estar a pensar no que é que teriam de vozes, de letras, etc. É uma área na qual ele se sente totalmente à vontade e daí essa característica ser tão vincada neste disco.

Os Mancines, enquanto coletivo dizem-nos que são a sonoridade dos vossos próprios quotidianos. A pergunta que vos colocamos é se as músicas ainda vêm totalmente em bruto da parte do Pedro Renato e ganham vida própria dentro do grupo, ou se, pelo contrário, as coisas já vêm muito definidas da origem...
(Pedro Renato) As diferentes pessoas da banda apanharam o projeto em igualmente diferentes fases de produção. A Raquel apanhou as músicas numa fase, o Toni já as apanhou numa fase mais tardia... Eu tenho sempre o hábito de compor por cima de uma melodia. As músicas são um bocadinho melódicas logo à partida e isso às vezes até se torna obstáculo para o Toni e para a Raquel quando nos queremos descolar um bocadinho da melodia em momentos em que essa melodia pode ser somente instrumental. Mas eu trabalho muito em cima das melodias para fazer as músicas. (Raquel Ralha) Isto foi feito agora assim mas daqui para a frente, partindo desta base, e agora que já nos conhecemos melhor os quatro, o processo de composição poderá passar a ser um bocadinho diferente. (Pedro Renato) Sim porque eu e o Gonçalo Rui é que conduzimos o disco todo e fomos montando a banda à medida que fomos precisando dos elementos. Eu e o Gonçalo fomos gravando o disco e chamando elementos à medida que fomos precisando deles. O processo funcionou um pouco ao contrário daquilo que temos agora. Não tínhamos um núcleo montado para fazer o disco. A partir de agora o processo já será diferente porque já temos um núcleo montado.

Mancines

Como se situam no atual panorama da música portuguesa? Consideram-se um grupo de nicho que compõe para aquele público que já acompanhava os Belle Chase Hotel há uns anos atrás?
(Raquel Ralha) Eu não vejo as coisas assim. (Pedro Renato) Eu espero que isso não aconteça. Espero que não estejamos a fazer música para minorias. Mas se o fazemos não é intencional. (Toni Fortuna) Eu não vejo as coisas relacionadas com uma banda de há não sei quantos anos atrás. O universo em que o Pedro sempre se situou, e se situa se calhar, é o mesmo porque é a mesma pessoa, naturalmente. Logo há coisas que lhe são mais particulares e mais fáceis de desenvolver. Passados todos estes anos, nada é igual nem a própria música em Portugal é a mesma, nem a maneira como as coisas se regem assumem a mesma forma. Logo, não vejo Mancines como uma banda para um nicho muito específico. De música para música, a forma como sentimos as coisas é diferente. Daí surge a necessidade de falarmos das coisas aliando-nos à linguagem cinematográfica onde a própria música nos transmite imagens de filmes que já vimos ou de outros que ainda não vimos. Não vejo Mancines como uma banda de nicho. Vejo exatamente o contrário tendo em conta a facilidade com que se consegue chegar a várias pessoas com várias necessidades e atendendo também ao facto das músicas, por si só, não irem todas pelo mesmo caminho.

Mancines Eden's InfernoPegando na ideia do Toni, quando nos diz que hoje as coisas já não são como há 15 anos atrás, gostaríamos de saber se, em vossa opinião, a evolução tecnológica aliada às redes sociais, à partilha de ficheiros MP3, MP4 e outros formatos, acaba por favorecer um grupo como os Mancines. Consideram que hoje é mais fácil chegar às pessoas?
(Pedro Renato) Isso é uma faca de dois gumes. Claro que é ótimo que a nossa música chegue mais rapidamente às pessoas. Mas isso, por um lado, também cria um obstáculo. As pessoas hoje chegam a músicas. Não chegam a álbuns. Hoje as pessoas chegam a uma ou outra música. Dificilmente chegam a um disco. Por isso é que digo que é uma faca de dois gumes. Se por um lado as redes sociais têm criado facilidade e rapidez no sentido de chegar às pessoas, por outro acentua o facto de as pessoas comprarem músicas e não álbuns.

A formação que gravou o disco é a mesma que vai fazer os espetáculos ao vivo?
(Raquel Ralha) Não. Isto é o núcleo duro da banda. Houve várias participações de várias pessoas no álbum mas o que vai acontecer nos espetáculos é o que vai partir deste núcleo e, eventualmente no futuro poderemos ter alguns espetáculos onde haja, à semelhança do disco, alguns convidados. (Pedro Renato) Ao vivo tocamos nós os quatro e mais um elemento que é o baterista. Voltando ao que disse o Toni, as coisas hoje são diferentes. Na altura dos Belle Chase é que podíamos andar com 12 ou 15 pessoas na estrada. Hoje não é fácil andar na estrada com um espetáculo com essa dimensão. Hoje, andar com 5 ou 7 pessoas na estrada já é uma complicação incrível. Nós tivemos pessoas a colaborar connosco no disco que não podemos levar connosco para a estrada. Se, eventualmente, o projeto crescer nesse sentido, teremos todo o prazer em fazer a formação tal como está no disco e aplica-la ao vivo mas para já vamos fazer os concertos com esta formação de 4 + 1.

Daquilo que depreendemos das vossas palavras, se por um lado há toda uma evolução tecnológica, por outro há uma clara regressão e até uma certa precariedade que se apoderou do meio artístico... Como analisam esta realidade?
Mancines(Pedro Renato) O Paulo Silva (manager) até podia fazer agora uma dissertação sobre isso (risos). Ele é que tenta fazer a banda chegar às pessoas. (Gonçalo Rui) Considero que o que temos que fazer hoje em dia é gerir melhor os recursos. Se os "cachets" não podem subir tanto, nós também não podemos ir para a estrada com tantas pessoas. É uma adaptação natural que nós temos que fazer e que a maior parte das bandas está a fazer. Há concertos reduzidíssimos. Há concertos a serem feitos por uma só pessoa e não é por causa disso que não se enche uma sala.

Já há datas que possam anunciar aos nossos leitores?
Estivemos a estrear aqui em Coimbra a 9 de abril e agora estrearemos em Lisboa no próximo dia 25 de junho no Teatro da Trindade.

Há pouco ficámos com a ideia de que esta formação nasceu das necessidades composicionais idealizadas para este disco. Será qua agora o processo será inverso? Perguntamos se agora já pensam num novo disco mas partindo desta formação.
Já estamos a pensar e a trabalhar nisso... Já começámos a gravar bases para o novo disco.

Como fazemos para adquirir o vosso disco?
Vamos ter o normal circuito normal das Fnac mas, quem quiser adquirir através do nosso Facebook, também o poderá fazer.

Muito obrigado por esta agradável conversa que nos proporcionaram. Para terminarmos gostaríamos de vos perguntar se o facto de cantarem noutras línguas que não o português, contém alguma ambição no sentido de extravasar as fronteiras nacionais com este projeto. Há uma pretensão da vossa parte de internacionalizar este projeto?
(Pedro Renato) Claro que sim. Isto ainda é tudo muito recente mas uma das coisas que eu pensei fazer com este disco foi enviá-lo para algumas produtoras de cinema pois considero que este projeto tem hipótese de fazer alguns trabalhos na área do cinema. Mas é claro que queremos trabalhar fora de Portugal.

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