Sérgio Marques apresenta as linhas orientadoras para a segunda edição do Dia do Ritmo
"Para a segunda edição do Dia do Ritmo queremos limar algumas arestas relativamente a esta primeira experiência. Assim, tentaremos focar-nos num objetivo mais concreto que, para além da parte do convívio e dos workshops, passará pelo acesso exclusivo, por parte dos participantes ativos, a um conjunto de atividades formativas. Atividades às quais os alunos só costumam ter acesso quando seguem mais tarde para o ensino superior. (...) A primeira edição acabou por ser mencionada em vários sites oficiais de algumas marcas da especialidade e agora será a hora de envolver também essas mesmas marcas na conceção do evento. Embora ainda não haja nomes confirmados, parece-nos que a segunda edição irá já assumir-se como um evento internacional".
Bom dia Sérgio, vamos começar por esclarecer o público relativamente à primeira edição do Dia do Ritmo. Os objetivos foram alcançados?
A missão da primeira edição do Dia do Ritmo foi perfeitamente cumprida. O principal objetivo do evento passava por proporcionar um convívio entre bateristas, percussionistas e outros músicos. Ambicionávamos, acima de tudo, permitir a músicos amadores, ou simples curiosos, um contacto de proximidade com músicos profissionais que já andam nisto há muitos anos. Músicos que tocam com grandes artistas. Ao mesmo tempo, queríamos proporcionar às pessoas que por lá passaram, o contacto com várias situações que não são muito vulgares. Falo dos workshops de percussão que foram ministrados, falo também do lançamento do livro de percussão do Rui Rodrigues e, claro, da possibilidade de ver todos aqueles percussionistas a tocarem juntos que acabou por se constituir como um atrativo extra. Relativamente à divulgação que houve sobre a primeira edição do Dia do Ritmo, esta aconteceu depois deste se realizar, ou seja foi pós evento. Considero, sinceramente, que antes do evento houve muita gente que não acreditou naquilo que íamos fazer. Talvez porque nunca se tinha feito nada de idêntico até aquele momento em Portugal. No pós evento, a divulgação superou completamente as expectativas da organização. Desde os vários canais de televisão que estiveram presentes mas que só no próprio dia confirmaram a presença lá em Aveiro mas que nos dias seguintes passaram várias vezes as reportagens realizadas, até à felicidade que tivemos, e que ainda não sabemos bem como é que aconteceu, de essas imagens terem chegado à secção do "No Comment" da EuroNews e a partir daí rapidamente se espalharam por todo o mundo. O evento passou então em canais americanos, alemães, tendo aí um impacto muito grande.
Consideras que o facto de se desejar atingir um record, também foi importante para que a comunicação social marcasse uma presença tão forte? Por outro lado acabaste de nos dizer que queres que o evento seja conhecido por muitas outras razões...
No início é difícil termos objetivos muito definidos pois precisamos de referências de outros eventos similares. O evento acabou por tomar aqueles contornos por termos conseguido aqueles contactos com os bateristas e com os parceiros que tiveram os seus stands e proporcionaram alguns workshops. Limitámos assim a nossa programação ao que tínhamos disponível. Participaram também algumas escolas de música tal como a nossa Sociedade Musical Santa Cecília daqui de S. Bernardo e as Oficinas de Música de Aveiro que tiveram alguns momentos musicais. Também estiveram presentes a Orquestra da Taipa e a Banda Escolar da União Filarmónica do Troviscal que acabaram por ter ali uma programação de acordo com a vontade que mostraram de participar desde o início. Para a segunda edição do Dia do Ritmo queremos limar algumas arestas relativamente a esta primeira experiência. Assim, tentaremos focar-nos num objetivo mais concreto que, para além da parte do convívio e da parte dos workshops, passará pelo acesso exclusivo, por parte dos participantes ativos, a um conjunto de atividades formativas. Atividades às quais os alunos só costumam ter acesso quando seguem mais tarde para o ensino superior. Assim haverá espaço para os workshops, as ações de formação, e até atividades mais específicas dirigidas para a técnica.
Assumes este evento como um evento nacional?
Sim, mas este ano pretendemos que se torne internacional. Temos um parceiro que é a "Castanheira Só Música" que juntamente com o Sr. Paulo Nogueira da "Américo Nogueira – Mundo Musical" estão a tentar trazer para o evento alguns bateristas internacionais, aproveitando também o mediatismo que o evento teve na primeira edição junto das marcas. A primeira edição acabou por ser mencionada em vários sites oficiais de algumas marcas da especialidade e agora será a hora de envolver também essas mesmas marcas na conceção do evento. Embora ainda não haja nomes confirmados, parece-nos que a segunda edição irá já assumir-se como um evento internacional. Outro dos aspetos que desejamos melhorar prende-se com a divulgação e para isso estamos a conquistar alguns apoios importantes. Na primeira edição não tivemos apoios financeiros. Tentámos colmatar algumas situações com apoios ao nível dos serviços. Queremos melhorar a divulgação e a publicidade ao evento. Para isso serão necessárias verbas financeiras. Vamos apostar numa promoção internacional pois se na primeira edição conseguimos trazer aqui bateristas dos quatro cantos de Portugal, Lisboa, Porto, Faro, etc., mais um bocadinho e conseguimos trazer aqui bateristas de Espanha. Pensamos então que a internacionalização é um objetivo realista.
Mas a vida do "Sérgio Marques" não é só o Dia do Ritmo, pois dás aulas toda a semana e também tens os teus próprios projetos musicais. Tens uma equipa que te apoia na organização do Dia do Ritmo?
Tenho uma pequena equipa constituída por duas ou três pessoas que me ajudam e que estão mais ligadas ao evento. Sempre que é necessário realizar alguma atividade, ou que é preciso ir a alguma reunião a uma Câmara Municipal ou com algum parceiro, faço-me acompanhar de uma ou outra pessoa que me apoia. Também troco ideias com esse grupo mais restrito de pessoas. Aquilo que as pessoas conhecem do evento, é o que vêm no dia, mas até lá chegar há um trabalho imenso de preparação para que tudo aconteça da melhor forma. No próprio dia também estão a acontecer muitas coisas ao mesmo tempo nos bastidores. No dia, somos uma equipa grande. No ano passado tive cerca de 40 pessoas que deram apoio logístico e durante a hora de almoço.
Na edição do ano passado tiveste quantos bateristas a tocar em simultâneo a mesma célula rítmica?
Tivemos 74 bateristas.
Para além destes 74 bateristas, tiveste muitos outros mas que só estiveram a assistir. O próximo desafio é colocar toda a gente a tocar?
Imediatamente após o primeiro Dia do Ritmo comecei a receber contactos via Facebook, e-mail, telefónicos de pessoas que estiveram lá como ouvintes mas que agora pretendem participar mais ativamente. O Michael Lauren comentou comigo que é sempre complicado para os professores conseguirem mobilizar os seus alunos para este tipo de eventos porque já se fizeram algumas iniciativas deste género e nem sempre as coisas são do agrado dos bateristas. As deslocações são grandes e os custos associados também. Logo, nem sempre é fácil convencer os alunos a participar. De qualquer forma o Michael Lauren trouxe 5 alunos de Lisboa e, de acordo com as informações que me deu, eles mostraram logo vontade de voltar a participar.
Seria mais fácil se em vez de bateristas, o evento fosse para violinistas (risos)...
Não é fácil vir de Lisboa com uma bateria. Enches o carro com a bateria e já não consegues trazer mais ninguém para dividir as despesas... (risos) Na primeira edição dávamos a possibilidade a quem se deslocasse de comboio de uma zona que fosse servida pela linha do norte de fazermos "transferes" da estação para o local do evento. A pessoa só tinha o trabalho de meter a bateria no comboio e nós tínhamos cá uma equipa para ajudar a transportar para o local escolhido para o Dia do Ritmo.
Já está escolhido o local para a edição deste ano?
O local ainda está em fase de estudo pois há vários aspetos que têm que ser tidos em conta. Quanto à data prevista, estamos a apontar para o dia 7 de junho. Mas na data também ainda estamos dependentes da vinda do ou dos bateristas internacionais. Tudo dependerá da agenda dos bateristas e das próprias marcas. Até porque esses bateristas não vêm da Europa e terão que se concertar mais eventos para rentabilizar a viagem. Só por isso é que não garantimos o dia 7 mas será certamente em junho de 2015.
A nível pessoal, sentes que a organização de um evento desta natureza te tira tempo para os teus projetos musicais pessoais?
Isto tira-me tempo para muita coisa. Eu costumo dizer que tenho três casas. Aquela em que vivo com a minha família, aqui a Sociedade Musical de Santa Cecília e a Filarmónica do Troviscal. Não é fácil conciliar tudo isto e depois ainda ter tempo para grupos, para projetos de originais mas ainda se vai fazendo alguma coisa. Não tanta como desejaria... O evento tira-me muito tempo, sobretudo nos dois últimos meses. Nesses dois meses que antecedem o evento, temos que pensar quase em exclusivo para o Dia do Ritmo. Claro que não descuidando as outras atividades, como é o caso das aulas. Mas tenho a sorte de ter alunos e encarregados de educação que compreendem perfeitamente a dimensão do evento e a importância deste para a sua formação e estão recetivos a alterações de aulas por causa de uma ou outra reunião que apareça. Tem sido fácil repor as aulas. Posso dizer que a própria motivação dos alunos, ao saberem que iam participar num evento desta natureza, aumentou muito. A maior parte da equipa que tive a apoiar a primeira edição era constituída por pais de alunos. Penso que isto mostra a importância que eles reconhecem no evento enquanto fator motivacional para a formação dos seus filhos.
Há pouco disseste-nos que tinhas uma página de aulas de bateria. Podes partilhar com os nossos leitores o endereço dessa página?
O endereço é www.facebook.com/Aulas.Bateria.Aveiro. Já agora deixo aqui o endereço da página do Dia do Ritmo para que possam deixar lá o vosso "like". A página do Dia do Ritmo é www.facebook.com/diadoritmo. Quero ainda referir que apesar de a organização do Dia do Ritmo estar a cargo da Sociedade Musical de Santa Cecília, à semelhança do que foi feito no ano anterior, outras instituições são convidadas a participar de igual forma no evento. Assim, endereçámos o convite a todas as escolas de música das quais tínhamos o contacto para que fossem nossos parceiros ativos na organização. Para além de chegarmos mais facilmente ao nosso público-alvo, pensamos que esta oportunidade se constitui como uma ótima forma das escolas de música se promoverem. Para além de poderem usufruir de um espaço, podem também apresentar-se com um tempo de atuação exatamente igual ao utilizado mela Academia de Santa Cecília.
Tens outros projetos para além do Dia do Ritmo?
Eu tenho sempre muitos projetos. Tive uma banda de originais que acabou há pouco tempo. Vou mantendo o "bichinho" com alguns músicos e vamos tocando e tentando criar alguma coisa. Tenho a Banda do Troviscal onde já ando há 25 anos. Também leciono e toco lá, embora a minha disponibilidade para a Banda do Troviscal esteja um pouco reduzida devido às outras atividades. Mas, sempre que posso lá estou eu nas atividades. Depois vão aparecendo sempre solicitações para dar formação, que é uma atividade que me preenche muito. Ainda há pouco tempo fiz uma série de formações numa banda que era dirigida pelo Henrique Portovedo. Vou tentando conciliar todas estas coisas com a família que para mim é obviamente o mais importante.
Para terminar, gostaríamos que partilhasses connosco um pouco da tua formação. Agora és tu que metes o "bichinho" da música nos teus alunos mas houve uma altura em que isso também aconteceu contigo. Quem foram os principais nomes que passaram pela tua formação e como te influenciaram ao ponto de teres seguido uma carreira musical?
Eu tive a sorte de entrar para a Banda do Troviscal. Nessa banda tive a sorte de privar com músicos que são sobejamente conhecidos. Quando comecei, trabalhei com o Maestro Doutor Silas, e agora trabalho com os filhos, o Maestro André Granjo e o Luís Granjo. Mas foi precisamente nessa instituição que eu comecei a aprender música. É uma banda por onde já passaram o Henrique Portovedo, o Rui Pedro que toca agora com Os Azeitonas... Sempre foi uma banda que teve músicos que se apoiavam uns aos outros e que acabavam por se estimular uns aos outros. Já são muitos anos e é claro que vamos sempre buscar experiências a muitos outros sítios. Cheguei, posteriormente a trabalhar com o André Granjo em Coimbra numa Big Band ligada à Associação Académica. Aí fiz contactos que me permitiram passar por várias Bandas Filarmónicas onde fiz várias formações, como por exemplo fiz na Banda de Lorvão. Atualmente, a minha principal referência vem das aulas que tenho tido no Porto no Atelier de Percussão do Hugo Danin. Tem sido uma experiência fantástica, esta de contactar com músicos que não têm que provar nada a ninguém e que se predispõem para o que é preciso. O Hugo Danin ajudou-me muito na organização do primeiro Dia do Ritmo. Grande parte dos bateristas que estiveram presentes foi contactada pelo Hugo. Tenho, portanto, ido buscar um bocadinho a cada um dos grandes profissionais com quem tenho trabalhado. É fantástico trabalhar com o Hugo Danin, com o Henrique Portovedo, com o Francisco Lima... Ainda me lembro do primeiro workshop que realizei aqui com o Jorge Oliveira que era o baterista dos GNR. Pouco tive que fazer pois a Castanheira SóMúsica tratou de quase tudo, mas foi mais uma experiência com a qual enriqueci muito ao nível da experiência. Depois disso já fiz muitos outros workshops mas sempre atento ao que se vai fazendo por aí e procurando também eu crescer ao nível da experiência. Não estou a copiar aquilo que os outros fazem, estou sim a aprender com aquilo que os outros fazem. Já há alguns anos que costumo levar pais e alunos ao festival que se faz em Lavra e que é organizado pelo Francisco Lima acabando também eu por vir de lá com mais ideias para os eventos que vamos fazendo aqui. O Dia do Ritmo acaba por resultar das várias influências que tenho vindo a acumular em cada um desses eventos. O Dia do Ritmo condensa num único evento os vários eventos de que tenho vindo a falar.
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