Buraka Som Sistema em entrevista ao XpressingMusic

Assumindo-se como um dos rostos mais visíveis da música eletrónica feita em Portugal nos últimos 15 anos, os Buraka Som Sistema responderam às questões do XpressingMusic numa entrevista onde nos falaram da sua carreira, da sua música e dos seus espetáculos. Disseram-nos que, desde o “Black Diamond” têm vindo a refinar a sua forma de produção chegando ao ponto em que se encontram neste momento, ou seja, num formato musical sem géneros, apenas Buraka... Relativamente ao momento que a música portuguesa atravessa, dizem-nos que os jovens já passaram por cima da geração dos covers e das bandas de repetição de bares afirmando-se com projetos inovadores e com ritmos muito interessantes.
Desde já agradecemos terem aceitado o nosso convite para esta entrevista. Os Buraka Som Sistema sentem-se responsáveis por terem iniciado um novo conceito poético-musical e por terem sido os grandes impulsionadores do chamado eletrónico kuduro?
Antes de mais obrigado nós pela oportunidade de chegar aos vossos leitores. Nós sentimos que nenhum desses rótulos acaba por englobar na totalidade um projeto como o nosso, nem nós nos consideramos os Senhores dos Anéis do kuduro, nem chamamos o que fazemos de Kuduro-Eletrónico. Talvez sejamos o rosto mais visível da música eletrónica feita em Portugal nos últimos 15 anos... E sim, usamos a banda sonora das periferias para conseguir transmitir este conceito cultural que existe no nosso país. Na verdade aquilo que fazemos passa apenas por dar a conhecer ao mundo este universo multicultural de Global Dance Music, que é de onde tiramos inspiração para fazer a música que criamos. Seja vinda da América-Latina, Europa, Ásia ou mesmo de um país estranho no meio de África, há uma corrente musical que dá voz a jovens que representam a música suburbana da sua geração. Estes movimentos, com géneros como o Tuki, Bhangra, Bondoro, Kuduro, Reggaeton, Mombahton, Zouk Bass, etc., etc... é que nos inspiram e nos fazem chegar aos resultados que chegamos.
Quem vos vê e ouve ao vivo, diz que o vosso espetáculo é contagiante e que é impossível ficar indiferente ao que transmitem. Consideram haver algo que vos diferencie dos outros projetos musicais nacionais e que, sendo uma marca exclusiva vossa, seja inimitável?
Um bom projeto, seja de que género for, precisa de ter fundações fortes para sobreviver e uma força motriz boa por traz da música para que seja algo duradouro. Já vimos centenas de concertos cá em Portugal e sim, essa explosão de energia no palco é uma marca nossa, não exclusiva mas é nossa. As performances ao vivo são muito importantes para nós e tentamos sempre que seja uma experiência única para o nosso público, se calhar é por isso que dizem ser contagiante...
Consideram a música, um meio poderoso de comunicação? Utilizam-na como tal? O que pretendem transmitir a todos os que vos ouvem?
Acima de tudo estamos a mostrar que, mesmo dentro desta situação de crise em que vivemos e mesmo dentro das coisas complicadas do país pequeno onde vivemos, pode haver força de vontade para incendiar um movimento musical e inclusive para tornar pop uma forma de fazer música nada pop nos ouvidos de um português. Pretendemos que as pessoas esqueçam um bocado os problemas, liguem a música e relaxem, deixem o ritmo tomar conta de vocês. Há sempre letra e há sempre um conteúdo no que escrevemos. Está sempre presente uma história por de trás do que cantamos... nem sempre é interpretado, mas isso já sai do nosso domínio.
Quais as vossas principais influências musicais? Quais estão mais evidentes neste último trabalho?
Neste último trabalho fomos sem dúvida nós mesmos. Depois de 8 anos, mais de 800 concertos e centenas de estúdios pisados, há uma maturidade e consistência que se nota na forma como a banda hoje em dia encara as situações relacionadas com a música que fazemos. Desde o Black Diamond que temos vindo a refinar a nossa forma de produção de modo a chegar ao ponto em que nos encontramos agora, num formato musical sem géneros, apenas Buraka...
Já fizeram centenas de concertos... Passados todos estes anos de estrada, há algum, ou alguns momentos que considerem marcantes e que jamais esquecerão?
Tocar no Fuji Rock foi uma experiência única. A ida ao Coachella nos Estados Unidos também foi uma experiência inesquecível e, nestes últimos anos, tocar no Rock Al Parque foi sem dúvida avassalador, uma marca que vai ficar para sempre na nossa memória.
Enquanto músicos, tiveram alguma formação musical específica durante a vossa juventude?
O Branko tem um curso de Engenharia de Som e o Riot teve aulas de bateria no Hot Club Portugal, o Conductor tal como o Branko e o Riot toca guitarra mas num nível muito amador.
A vossa comunidade de fãs é enorme. Há alguma característica que se evidencie num “fã Buraka”? Ser um Buraka é...
Saber quando dizer “hey” depois de ouvir ba ba ba ba nhe nhe nhe du du du...
Como vêm a música portuguesa nos tempos que correm? Atravessamos um bom momento criativo?
Sim, existem muitas coisas interessantes a acontecer no panorama da música portuguesa. Estamos numa boa fase em que, jovens que já passaram por cima da geração dos covers e das bandas de repetição de bares, estão a afirmar-se com projetos inovadores e com ritmos muito interessantes.
Mais uma vez agradecemos a vossa disponibilidade. Para terminar, gostaríamos que partilhassem um sonho comum a todos os elementos e que ainda não tenham concretizado...
Um sonho comum?! Complicado, somos todos diferentes demais para chegar a um consenso... é essa tão grande contradição interna que faz de nós o que somos.
Fotos: Gonçalo F. Santos
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