Manuel Luís Azevedo desvenda a sua carreira e fala-nos do projeto “Duo de Trompete e Órgão de Tubos”

Manuel Luís AzevedoManuel Luís Ferreira de Azevedo, trompetista e maestro, conta com vários reconhecimentos públicos do seu valor. Dos vários momentos altos da sua carreira, podemos dar, a título de exemplo, o facto de ter sido solista na Ópera de Gian Carlo Menotti "The Médium – Baba, a espírita", dirigida pelo maestro Gaetano Soliman e de ter tocado o concerto em Ré Maior de Giuseppe Torelli, acompanhado pela Orquestra do Conservatório de Música do Porto, sob a direção do Prof. Kamen Goleminov. Fez o Bacharelato em Trompete na ESMAE na classe do Prof. Kevin Wauldron. Manuel Luís Azevedo é também licenciado em Trompete pela Escola Superior de Música de Lisboa, tendo frequentado as classes dos professores David Burt e Steven Mason. Foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian e participou no II Estágio da Banda Sinfónica da Covilhã, como orientador da classe de Trompetes. É também membro do grupo de metais do Porto Solemnium Concentus e da Banda Sinfónica Portuguesa, tendo com esta última, tocado a solo o "Carnaval de Veneza" de Arban. Fez parte do júri dos II, III e IV Concursos de Trompetes da Póvoa de Varzim.

XpressingMusic (XM) – Muito obrigado por ter aceitado o nosso convite para esta entrevista. Pode dizer-nos como e onde começou esta sua "marcha" pelo mundo da música?

Manuel Azevedo (M.A.) – Nasci no seio de uma família "filarmónica", o meu avô tocava percussão e o meu pai era trompetista numa banda. Aos seis anos tive o meu primeiro contato com a música através do piano na Academia de Música de Stª Mª da Feira e aos oito anos ingressei no Trompete já na Academia de Música de S. J. Madeira, a partir daí foi o percurso normal de um estudante de música, terminei o 8º grau e ingressei no ensino superior na ESMAE e mais tarde concluí a Licenciatura na ESML.

XM – Ao longo destes últimos anos tem passado por várias orquestras e grupos... Pode referir-nos algumas dessas passagens?

Manuel Luís AzevedoM.A. – Ao longo dos anos participei em diversos estágios que me permitiram o contato com a Orquestra das Escolas de Música Particulares, Orquestra de Sopros para Jovens Músicos de Aveiro, Orquestra Sinfonieta Interescolar do Norte, Orquestra do Norte, Orquestra Domingos Capela, Orquestra Sinfónica Particular de Espinho, Orquestra e Banda Sinfónica de jovens de Santa Maria da Feira, Orquestra Metropolitana de Lisboa e, mais recentemente, na Banda Sinfónica Portuguesa.

XM – Há nomes, pessoas... que, ao passarem pelas nossas vidas, acabam por nos influenciar e por se tornarem pedacinhos de nós próprios. Podemos dizer que isto se aplica a Benjamin Moreno, Spanish Brass, Canadian Brass, Fred Mills, Eric Aubier, Reinhold Frederich, Allen Vizzutti, Philip Smith, Pierre Dutot e Guy Touvron?

M.A. – Sem a menor dúvida! Se por um lado o facto de podermos lidar pessoalmente com pessoas exímias na arte de tocar Trompete, já se torna numa fonte inexcedível de aprendizagem técnica, por detrás de cada um deles existe o lado pessoal e humano que complementa toda a vertente artística e transforma um workshop ou master classe numa lição de vida. Há sempre pequenos apontamentos pessoais de cada um que perduram na nossa memória e nos influenciam na vida quotidiana.

XM – Podemos dizer que para além do Trompete, a Direção também é uma das suas paixões?

M.A. – Sim, considero a direção como um complemento artístico. Posso dar o exemplo de um jogador de futebol, que geralmente mais tarde singra na carreira de treinador. No nosso caso, continuamos a nossa carreira de instrumentista e a direção será o culminar do desafio, pois requer a junção do conhecimento, pedagogia e boa gestão das relações humanas... Tudo isto, aliado ao facto de podermos dar o nosso cunho pessoal/interpretação à obra a ser executada... É realmente muito aliciante e desafiador.

XM – No âmbito da direção, sabemos ter frequentado vários cursos e outros momentos de formação. Quais os nomes com quem já trabalhou, para além de Marcel Van Bree e Douglas Bostock?

M.A. – Individualmente, já tive o gosto de trabalhar com Rafael Villaplana, Francisco Ferreira, Jan Cober, Tristão Nogueira, Paulo Martins, Omri Hadari, Osvaldo Ferreira e António Saiote. Em simultâneo, o facto de ser instrumentista de orquestras, faculta-me o acesso a outros "Grandes Senhores" da área.

XM – Enquanto maestro, quais os projetos em que já participou?

M.A. – Dirigi várias formações no âmbito curricular das escolas onde lecionei. Fui maestro da Tuna Musical de Argoncilhe, Orquestra Ligeira de Arrifana, Orquestra Ligeira de Louredo e atualmente, o meu maior desafio tem sido a Banda Musical de Souto.

XM – Orientou a classe de trompete nas I, II, III, IV e V Jornadas Musicais, organizadas em Stª Mª Feira. Em que consistem estas jornadas?

Dueto Órgão TrompeteM.A. – Estas jornadas musicais foram organizadas pela escola de música de Romariz, tendo como objetivo principal a realização de Master classes e divulgação de diversos instrumentos, entre os quais o Trompete, tendo sido eu o orientador da mesma. De salientar que estas jornadas foram feitas numa época ainda com pouca oferta e a adesão de alunos era sempre enorme.

XM – Tem participado em gravações de CD's... Pode referir-nos alguns dos CD's que contam com a Participação do Manuel Luís Azevedo?

M.A. – Foram várias as gravações que fiz... Desde a colaboração com várias Bandas Filarmónicas do Norte e Centro do país..., com a Orquestra Sinfónica da Póvoa de Varzim, Banda Sinfónica Portuguesa, Banda Sinfónica do Conservatório de Música do Porto, onde gravei o Concerto de Aroutunian, com o meu projeto "Duo de Trompete e Órgão de Tubos", e como Maestro 2 Cd´s com a Banda Musical de Souto.

XM – Dos vários concertos que tem realizado pelo país destaca, na sua biografia, o realizado em 2009 na Sala Suggia (Casa da Música) e, em 2013, o da Sé Catedral do Porto. Há algum motivo especial para o fazer? Tiveram um grande significado para si?

M.A. – Qualquer concerto, para nós instrumentistas, tem a sua importância, mas essa importância é redobrada quando temos a possibilidade de atuarmos em grandes salas nacionais... Como já referi, tenho um projeto "Duo de Trompete e Órgão de Tubos"..., poder atuar com este tipo de formação (duo) na sala Suggia é já por si relevante e muito gratificante. Na Sé do Porto, a imponência do monumento reúne condições excecionais, para se poder disfrutar de um concerto como o de órgão de tubos e trompete. Aliás, grandes nomes internacionais já passaram por lá... como me foi dada essa oportunidade, desfrutei-a ao máximo.

XM – Dos projetos em que assume mais protagonismo e onde tem dado muito de si destacam-se a Orquestra Ligeira de Louredo, a Banda Musical de Souto e a Escola de Música de Souto... Concorda?

M.A. – Sim, sem dúvida que destaco a Banda Musical de Souto, trata-se de um projeto do qual me identifico por completo, que tem vindo a fazer um excelente percurso musical, onde invisto muito tempo, e nos quais me sinto feliz pois os resultados têm superado as expectativas.

XM – Tem no seu currículo vários prémios... Pode partilhar com os nossos leitores e seguidores alguns desses prémios e reconhecimentos do seu trabalho?

Dueto Órgão TrompeteM.A. – O Prémio dos Jovens Músicos, na altura em moldes diferentes dos de hoje, um 2º lugar como Maestro da Banda Musical de Souto, no concurso Nacional de Bandas Filarmónicas em Aveiro.
Mas para mim, o maior Prémio de todos, é sentir que o nosso trabalho (quer como instrumentista ou maestro) é valorizado e respeitado pelo público e músicos... acreditem não há maior prémio ou sucesso do que esse.

XM – Atualmente é professor de trompete no Conservatório de Música do Porto e na Academia de Música de St.ª Mª Feira. Como consegue conciliar a carreira de músico, performer, com a carreira docente? Não deve ser nada fácil...

M.A. – Não é fácil... mas não é impossível! É claro que conciliar todas as atividades em simultâneo requer organização, disciplina, compromisso e método... tudo isto aliado a uma boa dose de bom senso e de compreensão familiar (sim, porque a Família muitas vezes acaba por sair um bocadinho prejudicada no tempo despendido... )
Quando nos entregamos com gosto às atividades e sentimos que recebemos muito mais do que damos, nunca nos cansamos e sentimo-nos sempre complementados e consequentemente mais Felizes!

XM – Sabemos que possui o grau de Cavaleiro – Confrade Honorário, da Confraria do Vinho do Porto. O Vinho do Porto e a música conjugam-se de forma harmoniosa? (Risos)

M.A. – (Risos)... Quem é que nunca bebeu um Porto ao som de uma boa música? Sem sombra de dúvida que a simbiose entre o vinho do Porto e a música cria uma forma harmoniosa e prazerosa de usufruir do nosso maior bem... a Vida!
As duas artes interligam-se, vejamos, podemos produzir um bom vinho do Porto ao som de um belo concerto, como podemos ouvir um bom concerto, degustando um Porto! Não há relação mais perfeita!

XM – A entrevista já vai longa... Mais uma vez muito obrigado por ter dedicado uma parte do seu precioso tempo ao XpressingMusic e aos seus leitores. Não podíamos terminar esta entrevista sem lhe colocar duas últimas questões... A primeira é relativamente ao seu projeto "Duo de Trompete e Órgão de Tubos" fale-nos um pouco deste. A segunda questão é relativamente ao ensino da música em Portugal... Considera que estamos no(s) caminho(s) certo(s)?

Capa CDM.A. – Em relação à primeira questão, o projeto já tem alguns anos... O pioneiro foi o organista, Rui Soares, que me convidou para formarmos o duo. A partir desse momento, nunca mais parámos! Apesar de em Portugal este tipo de formação (duo) ser raro, a nível internacional, existem inúmeros... Está a ser extremamente gratificante, pois têm surgido inúmeros concertos, por todo país. Já gravamos um CD que, atrevo-me a dizer, será um dos poucos existentes (dentro do género) a nível nacional.
Em relação à segunda questão, sim estamos no caminho certo da nossa educação a nível musical.
Paralelamente ao ensino curricular exercido nos estabelecimentos de ensino onde temos excelentes pedagogos, nos últimos anos tem havido uma maior divulgação da música, nas pequenas escolas das Bandas Filarmónicas e orquestras regionais permitindo a proliferação de músicos e aumentando significativamente a qualidade face ao seu nível etário. Estes alicerces impulsionam de forma muito positiva o ensino da música com qualidade em Portugal.
É com orgulho que, cada vez mais, constatamos que temos Excelentes Músicos que ganham concursos internacionais e obtêm lugares nas Orquestras de vários países, comprovando o elevado nível que temos em Portugal.
Por último gostaria de apresentar o meu sincero agradecimento por me darem a possibilidade de partilhar um bocadinho da minha "história" com os Vossos leitores e congratular-vos pelo vosso excelente trabalho na divulgação dos nossos grupos, músicos e maestros, que bem merecem. Bem Hajam!

Banda Musical de Souto
Hallelujah

Banda Sinfónica do Conservatório de Música do Porto
Concerto para Trompete

Duo Órgão e Trompete
Sonata Prima - Allegro Vivace

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