A Jigsaw... Um dos projetos Indie Folk mais interessantes e originais do continente Europeu. São Portugueses e vêm de Coimbra.
França, Itália, Espanha, Bélgica e Suíça foram alguns dos países onde a sua música já chegou. A Jigsaw receberam-nos em Coimbra para uma conversa muito simpática onde ficámos a saber um pouco mais sobre este projeto. Quisemos saber como "acontecia" a música que nos contam e o que tencionam e sonham fazer no futuro. Fiquem com A Jigsaw!
Agradecendo desde já terem aceitado este desafio lançado pelo nosso portal, começamos por vos perguntar como se conheceram, como surgiu este projeto musical...
O projeto nasce como qualquer projeto de música... Simplesmente, nós na altura, cada um de nós, individualmente, queríamos criar música, fazer música, e aconteceu não por laços de amizade, mas por esses laços próprios com a música. Começámos como uma banda de garagem, cá em Coimbra, e só mais tarde, quando passámos para o primeiro álbum já no final do E.P. é que largámos a garagem e fomos para uma casa mesmo de ensaio onde ficámos durante muitos anos, o que alterou bastante a própria dinâmica da construção das músicas.
Portanto nós não nos conhecíamos, só nos conhecemos em 99. Depois mais tarde é que nos tornámos amigos, mas até lá foi só afinidade musical.
Podem apresentar aos nossos leitores e seguidores os músicos que compõem este projeto?
Ao vivo temos diversos tipos de formatos. Desde 99 até agora eu e o João somos os que nos mantemos da formação inicial. Já houve imensas mudanças de formação, quer com membros que pertenciam mesmo a A Jigsaw, quer com músicos que foram tocando ao vivo connosco. Atualmente somos só nós os dois e em concertos maiores temos dois convidados: o Guilherme Pimenta na bateria e a Maria Côrte no violino e na harpa.
O facto de todos tocarem mais do que um instrumento confere-vos a possibilidade de criarem ambientes muito diversos... Isso é uma mais-valia... Concordam?
Talvez seja uma das coisas que nos possa distinguir... Isto surgiu-nos na altura do "Letters from the Boatman", o nosso primeiro álbum, em que, na altura, cada um de nós tocava um instrumento e parecia que estávamos parados por aí. Nós tivemos cerca de 15 convidados nesse álbum, desde o Marco Nunes, a Raquel Ralha, o Sérgio Nascimento, o Kaló, o Carlos Santos... foram muitos. Cada um de nós só tocava um instrumento de base e decidimos, inicialmente, que íamos só escolher um baterista para tocar connosco, mas depois percebemos "porque que é que havíamos de ter que convidar só um baterista quando podemos alargar tanto a palete sonora que temos no álbum?" Portanto convidámos vários como, por exemplo, a Susana para tocar 2 faixas de violino, e uma série de outos músicos. Depois o problema colocou-se quando nós decidimos pôr este álbum na estrada... (risos) Tínhamos uma variedade sonora e como é que nós os dois, que só tocávamos, cada um, um instrumento, iríamos colocar o álbum na estrada? Aconteceu então também um processo de aprendizagem de diversos instrumentos para conseguirmos, pelo menos em estúdio, completar a visão que tínhamos de uma determinada música. Então sentimos que, em vez de ir buscar um convidado para tocar aquele instrumento específico, porque não aprendê-lo e tentar dominá-lo e conhecer a linguagem dele pra depois usá-lo... Isto tornou-se um vício e depois de um instrumento foram uns sete ou oito cada um (risos)...
Qual a vossa formação musical?
Somos autodidatas.
No vosso primeiro álbum contaram com a colaboração de vários músicos convidados, tais como Marco Nunes, Raquel Ralha, Sérgio Nascimento, Kaló, Carlos Santos, entre outros. Consideraram importante esta experiência?
Foi fundamental. Foi um ponto de viragem para nós, a aprendizagem que tivemos com essas pessoas em estúdio. Foi também a nossa primeira experiência, apesar de já termos essa experiência em estúdio com o E.P., mas que foi diferente, foi mesmo. Acho que nós não estávamos propriamente preparados ainda para fazer aquela gravação. Foi a experiência em estúdio, a sério, com um trabalho mais preparado, com mais tempo em estúdio, fazer pré-produção... Marca a altura em que acabámos o E.P. e começámos a escrever o álbum "Letters from the Boatman", altura em que passámos para a tal casa e foi também um processo de nós próprios descobrirmos as raízes das músicas que estávamos a fazer. Fazer um estudo intensivo de para onde é que iríamos levar o nosso trabalho, um trabalho muito mais pensado e aí começa a nossa primeira incursão no álbum conceptual, ou seja, responder à questão "qual é a razão do álbum?". A grande maioria dos músicos que acabaram por participar nesse álbum eram todos músicos com muito mais experiência que nós, mais experiência de estúdio, mais experiência de palco, com projetos de sucesso.
O álbum foi gravado perto de Vagos e claro que também ajudou o facto de eles transmitirem a experiência deles, do que e que é estar em estúdio, como é que é o trabalho de estúdio, como é que se fazem os arranjos, como é que se aborda uma música, que naquele caso, não é uma música deles mas, ter que abordar uma música como se o fosse.
Como é o vosso processo composicional? Compõem primeiro as letras (histórias) e posteriormente as melodias para as mesmas, ou fazem precisamente o contrário? E quanto às orquestrações? Servem de cenário sonoro às histórias que nos querem contar?
Entre as letras e a melodia... isso é sempre muito discutível porque são sempre ambas chegadas uma à outra. Podem acontecer casos em que é a letra primeiro, outros em que é a música primeiro, ou casos em que estão a ser construídas ambas ao mesmo tempo mas, o que é fundamental, e aí sim, há uma coisa que é sempre primeiro que tudo mesmo... o conceito. O conceito do álbum para o qual estamos a trabalhar e para o qual tudo estamos a fazer… Durante aquele período de tempo que estamos a compor, tudo tem que ser subjugado a esse conceito… não faria sentido de outra forma. Isso sim, isso existe sempre. É o conceito. Na altura com o "Letters...", "Like the Wolf", "Drunken Sailors & Happy Pirates", primeiro é o conceito, temos a ideia, e depois temos sempre, porque gostamos que assim seja, bastante tempo para o fazer. Tudo o resto é construído passo a passo... agora se vem primeiro a letra ou se vem primeiro a música, isso, caso a caso… há coisas que variam muito. Quanto à orquestração, essa sim é importante na parte conceptual. Tudo o que nós fazemos, quer na música, quer na letra, deve estar subjugado ao conceito, ao tema do álbum.
Já foram considerados um dos projetos Indie Folk mais interessantes e originais do continente Europeu. É muito bom receber uma distinção destas, não é?
Foi na altura do "Like the Wolf"... foi um pouco antes de nós termos feito a tournée do "Like de Wolf", em que passámos por 12 países, e foi muito interessante na altura porque nós estávamos a fazer o lançamento do nosso segundo álbum, e ainda sem sequer termos tentado chegar aos media internacionais. recebemos essa crítica e ficámos impressionados, "isto realmente é uma daquelas frases boas que nos dizem..." Já estávamos a chegar lá fora mesmo sem o tentarmos. Obviamente que já tínhamos a ideia, sempre a tivemos, de fazer a internacionalização do projeto. O receber dessas críticas simplesmente apressa esse plano.
É verdade que o vosso nome inicial não era "A Jigsaw"?
Não, esse foi sempre o nome. A Jigsaw é de uma música dos dEUS, "Jigsaw You", do primeiro álbum deles, "Worst Case Scenario". Quando muito tivemos duas semanas sem termos o nome, mas outro nome nunca tivemos...
Portugal torna-se um país pequeno para um projeto como o vosso?
Portugal é um país pequeno. Acho que na parte da cultura não se fala muito da exportação, quando se ouve falar todos os dias nas notícias que é importante exportar. A cultura acaba por ser mais um produto que pode ser exportado e que num país pequeno, como é o caso de Portugal, e que tem o problema de não ser um país que está no centro da Europa tendo fronteiras com meia dúzia de países, é um país periférico, o que torna mais difícil essa exportação. A única coisa que se pode alterar no nosso género de música, que é mais direcionada para nichos de mercado, e que num país pequeno vão ser ainda mais pequenos, é a necessidade de impulsionar a exportação. Não é por ser um género de música específico, por ser Indie Folk, ou por ser Pop Rock, ou por ser música eletrónica, em qualquer género é possível alcançar o sucesso. Se calhar o último grande caso de sucesso de internacionalização é dos Buraka Som Sistema, que "mistura tudo e mais alguma coisa", desde DJ Sets e música eletrónica, que depois se fundem com todas as raízes africanas que eles têm. Mas, quer dizer, é esta necessidade de expandir mercado, de realmente exercer uma profissão sem o saturar que nos leva a ter experiências fora de Portugal. Conhecer outros países, conhecer outras cidades, conhecer outras pessoas, mas também conhecer outros músicos, ou seja, colegas de profissão... Tudo isto são influências que vamos tendo. Em 2010, com o "Like the Wolf" fizemos a tour internacional com cerca de 100 concertos fora de Portugal. Claro que isso foi importante para a nossa construção enquanto pessoas, enquanto indivíduos, e nós sentimos isso na composição do último álbum, "Drunken Sailors". Pela primeira vez tivemos um ano com um ritmo de uma banda europeia ou de uma banda internacional, que anda na estrada grande parte do ano. Nós demos cerca de 200 concertos nesse ano, e isso altera tudo, sentimos mesmo que, finalmente, estavamos a viver o ritmo do que é ter esta profissão a sério, o que é andar na estrada, em alguns casos mais do que 2 meses seguidos a tocar todos os dias, e isso, claro que altera bastante...
No vosso segundo álbum podemos deliciar-nos com dois duetos. Quem foi essa convidada tão especial? Como surgiu esta oportunidade?
Na altura foi até a Susana que nos sugeriu, que nos tinha mostrado uma canção da Bekky Lee, "Old Fashion Man", uma canção que o Paulo Furtado usou, fazendo uma versão dessa música no álbum dele, "Femina". Foi então que a Susana falou..."ouçam esta rapariga", e nós pensámos, "mas que voz fenomenal", e então entrámos em contacto com ela, fomos trocando alguns e-mails e enviámos a música. Na altura ela vinha também a Portugal e ficou logo interessadíssima, gostou das músicas e depois foi uma questão de colocá-la no estúdio.
O segundo álbum foi muito bem recebido pela crítica. Sentiram isso nos concertos?
Sim, fomos sentindo que havia mais pessoas que já conheciam a nossa música, mas provavelmente onde sentimos mais até, e de uma forma diferente, foi em Espanha. Era a primeira vez que estávamos a tocar em Espanha, aparecíamos nos concertos e as pessoas chegavam lá e conheciam os nomes das músicas, conheciam as melodias, cantavam nos concertos... Cá em Portugal até seria relativamente natural que acontecesse, porque já tínhamos tocado bastante pelo primeiro álbum, mas com o "Like de Wolf" e num país novo, isso realmente deixou-nos mais surpresos.
França, Itália, Espanha, Bélgica e Suíça foram alguns dos países onde a vossa música já chegou. Há algum país onde ainda não tenham ido ao qual gostassem de levar a vossa música?
Há muitos mas, provavelmente, um dos próximos mercados a que vamos tentar chegar, e onde nós estamos focados, é na Europa, muito mais do que, por exemplo, nos Estados Unidos. Imensa gente fala que, como a nossa música tem algumas raízes e algumas ligações com os Estados Unidos, "mas porque não vão para os Estados Unidos?". Primeiro, há um oceano muito comprido, grande, aí no meio. Mas não, como nós queremos realmente tocar, fazer tours, tem muito mais lógica para nós explorar primeiro a Europa e ainda não explorámos o norte da Europa, ou seja, os países Escandinavos, a Dinamarca, a Suécia, a Noruega, Finlândia e, provavelmente, dos países que ainda não tocámos na Europa, vamos tentar chegar a esses países, até porque, normalmente, tanto por projetos que saem desses países, como pelo próprio público, há afinidades com uma música mais negra, mais intimista, mais densa... E por todos os países que vamos tocando, volta e meia aparece alguém da Europa do Norte que diz, "vocês iriam gostar de lá tocar..." (risos).
Há algum disco novo para breve?
O "para breve" é muito relativo, porque essa pergunta poderia ter sido feita no primeiro dia que entrámos em estúdio para gravar o "Drunken Sailors" porque já estava a ser preparado, isto porque nós gostamos de ter bastante tempo para poder escrever os álbuns, porque nós fazemo-lo como se fossem livros. Está sempre tudo subjugado a esse conceito, então nós gostamos de ter esse tempo todo disponível entre o término de um projeto e o outro, para que possa haver essa coesão, para que possa haver, inclusive, o tempo que nós passámos através do tempo, e conseguir através disso julgar melhor aquilo que estamos a escrever. Portanto não há aquele problema que geralmente pode surgir quando se escrevem os álbuns muito à pressa que é, escrevermos a música hoje, gravarmos amanhã, e depois de amanhã já não podemos fazer nada acerca disso. Nós gostamos de poder escrever a canção e depois deixar passar um mês ou dois, ou três, um ano se for preciso, e voltar a ouvi-la e saber se ainda faz sentido, se o tempo está a julgar bem o trabalho que fizemos. Então esse álbum já vem a ser preparado há mais de um ano, e ainda estamos a trabalhar nele.
E quanto a concertos? Onde vos podemos encontrar em breve?
Vamos começar com concertos mais a sério em Outubro, entre Portugal e Espanha. Até ao final do ano vamos andar a tocar e, sinceramente, não sei datas de cor, mas Leiria, Sesimbra, Santarém... Serão apresentadas em breve as datas e começaremos agora no início de Outubro...
Agradecemos mais uma vez terem aceitado a nossa proposta para este encontro aqui em Coimbra. Desejamos as maiores felicidades para o vosso grupo. Há alguns projetos futuros que possam partilhar com os nossos leitores?
Num futuro até mais próximo, embora ainda não esteja decidido quando, não podemos avançar com detalhes, está a ser preparada um peça de teatro de marionetas onde nós musicamos a peça em tempo real e esse projeto, não sabemos se será apresentado ainda este ano, será apresentado provavelmente só no início do próximo ano.
Já tivemos algumas dessas experiências, inclusive aqui onde nós estamos (Mosteiro de Santa Clara-a-Velha), em que estivemos a musicar um filme. Na altura fomos convidados pelo "Caminhos do Cinema", aliás, nós lançámos o desafio e depois eles lançaram o desafio para uma segunda vez, porque achámos que faria sentido num festival de cinema, em vez de darmos um concerto, haver mais essa envolvência juntando as duas artes e podermos musicar esse filme. Essa experiência "do juntar das artes" é muito engraçada. Obviamente que também queremos criar uma banda sonora para cinema, para teatro... São desafios que nós gostamos porque nos obrigam a explorar as coisas e mesmo a nossa arte de uma forma diferente do que seria a abordagem de um álbum.
Website: www.ajigsaw.net
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