O Tubista português Sérgio Carolino vem ao XpressingMusic partilhar ideias, experiências e vivências profissionais, pedagógicas e performativas.

Sérgio CarolinoInternacionalmente conhecido e aclamado, Sérgio Carolino atua em palcos diversos. Solista e professor em inúmeros festivais de música, conservatórios e universidades um pouco por todo o Mundo, o nosso convidado já mostrou o seu valor em países como Espanha, França, Suíça, Finlândia, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Eslováquia, Alemanha, República Checa, Hungria, Inglaterra, Áustria, Austrália, EUA, Noruega, Tailândia, Brasil, Japão, Peru, Islândia, Singapura, e Turquia. Itália, China e Canadá são as novas apostas deste mestre da tuba que nos irá mostrar nos próximos momentos como é possível conciliar tantos e tão diversificados projetos em simultâneo.

Agradecendo desde já ter aceitado este nosso desafio, queremos felicitá-lo pelo mais recente Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores 2013 na Categoria de Música Erudita. O que sentiu ao receber este prémio? Considera que finalmente se começam a valorizar e a reconhecer os talentos do nosso país, independentemente da área musical que representam?
Quero, em primeiro lugar, agradecer o interesse em realizar esta entrevista à minha pessoa! Este Prémio SPA 2013 foi uma surpresa total. Não estava nada à espera de ser nomeado, e ainda menos ter sido o escolhido para receber o prémio! Fiquei muito feliz e agradeço imenso esta distinção! Este prémio foi como que um agradecimento a todos os artistas (instrumentistas, compositores, designers, engenheiros de som, diretores artísticos de salas de espetáculos, fotógrafos, ...) que trabalham e colaboram comigo há já vários anos, que acreditam nas minhas ideias, nos meus projetos e sobretudo, que se veem na minha filosofia de vida. Penso que os Portugueses começam finalmente a dar o devido valor aos artistas que têm, dentro deste belo país à beira mar plantado, e nos vários campos artísticos.

Sérgio CarolinoSabemos que este prémio não ficará isolado na sua galeria de "reconhecimentos" pois também o seu primeiro disco a solo, "Steel aLive!", recebeu em 2008 o Roger Bobo Award Prize for Excellence in Recording. Fale-nos um pouco deste prémio e de outros que tenham um significado relevante para si...
É verdade, este prémio não fica isolado. Felizmente, e durante a minha carreira, tenho recebido vários prémios, na sua grande maioria a nível internacional. Em 2004 recebi o Prémio Carlos Paredes, organizado pela Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, pelo disco #1 do trio de jazz TGB – TubaGuitarraBateria (Clean Feed) – do qual fazem parte os meus amigos e camaradas Alexandre Frazão e Mário Delgado. Em 2004 fui também considerado o músico Português Revelação pelo crítico de jazz José Duarte no seu website: www.portugaljazz.com.ua. Para além do prémio de 2008 que refere acima, em 2010 voltei a receber outro Roger Bobo Award Prize for Excellence in Recording, desta vez na categoria de tuba em música de câmara com o disco "Agreements & Disagreements" do meu projeto 2tUBAS&friends com o tubista holandês, solista da Orquestra da Ópera de Zurique, Anne Jelle Visser e o baterista Michael Lauren. O ano passado, voltei a receber o Roger Bobo Award Prize for Excellence in Recording, desta feita na categoria de jazz/pop/comercial, pelo disco "Pop&Roll" do meu quarteto de jazz The Postcard Brass Band do qual fazem parte Mário Marques, Ruben da Luz e Michael Lauren.

O Sérgio assume ser um músico versátil ao abraçar estilos tão distintos como o repertório clássico e o jazz. Esta vontade de diversificar vem de dentro de si, mostrando a melhor rentabilização possível de todo o virtuosismo que lhe é reconhecido?
Ser um músico versátil foi sempre um dos meus principais objetivos, um dos meus sonhos! O facto de ter tido sempre o interesse em aprender e dominar vários tipos de fraseado e linguagens musicais, permite-me estar "à vontade" em vários tipos de situações. É como que uma mistura explosiva de estilos, os quais dão lugar a uma voz única. Para além disso, estar envolvido em vários tipos de estilos musicais, permite-nos ter uma outra visão, e todos os dias são diferentes e desafiantes!

Ao investigarmos a sua carreira atual, olhando para os vários projetos em que se encontra envolvido, ficamos quase "sem ar"... Mas ao Sérgio, "ar" é coisa que não lhe falta para poder "soprar" em projetos como os TGB, 2tUBAS&friends, Duo XL, How Low Can You Go?, European Tuba Trio, The Postcard Brass Band, TUBIC, The Low Frequency Tuba Band, TUBAX (septeto e quarteto), Tu B'Horn trio, Tuba 'n Saxe's Co., Mr SC & The Wild Bones Gang, T'nT tubas&trombones (com Steve Rossé e os Wild Bones Gang), KINETIX trio, Hangin'n from the Strings, e Funky Bones Factory. Esquecemo-nos de algum? Como consegue conciliar tantos e tão diversos projetos? Diga-nos também quem são os seus companheiros nestas "viagens" pois sabemos que se faz acompanhar de excelentes executantes nacionais e internacionais.
Sérgio Carolino Yamaha TubasSim, de facto tenho vários projetos e na sua grande maioria com discos gravados com música original, escrita para e dedicada à minha pessoa e a esses mesmo projetos, todos eles diferentes e com diferentes abordagens e linguagens musicais. O meu mais recente disco é o duo SURREALISTIC DISCUSSION com o jovem exímio acordeonista português, João Barradas. Os músicos que me acompanham nestas odisseias musicais e humanas são vários e do mais alto nível artístico, alguns dos quais com os quais toco e convivo desde muito jovem! Cito apenas alguns desses grandes músicos: Mário Dinis Marques, Ruben da Luz, Hugo Assunção, Alexandre Frazão, Michael Lauren, Mário Delgado, Anne Jelle Visser, Steve Rossé, François Thuillier, Anthony Caillet, João Barradas, Daniel Bernardes, Telmo Marques, Jeffery Davis, Fernando Ramos, Quarteto de Saxofones SAXOFÍNIA, entre muitos outros!

Falando agora do lado académico do Sérgio Carolino, gostaríamos de saber onde se encontra a lecionar neste momento e ainda que nos dissesse se o facto de se manter do lado do ensino o ajuda a manter-se atualizado e consequentemente sempre um passo à frente no âmbito da investigação no que à Tuba diz respeito.
Desde 2007 que sou professor de tuba e diretor artístico do ensemble sinfónico de metais e percussão Massive Brass Attack! na Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo (ESMAE) do Instituto Politécnico do Porto, após 10 anos a ensinar na Academia Nacional Superior de Orquestra em Lisboa. Estar envolvido no campo do ensemble tem tido a sua importância, ainda que na minha opinião, muito pouco! Digo isto pois o ensino artístico da música está atualmente demasiadamente virado para o lado mais académico! Sem me querer alongar muito sobre este assunto, penso que este sistema de ensino não é o melhor, pois em nada tem a ver com a "vida real" de um músico "em cima do palco"! A ideia de que para ser e fazer música tem de se ter talento está a ser tomada pelo conceito de que qualquer um pode ser músico, o que não é de todo verdade! Mas isto era um tema que daria para estarmos aqui a falar horas e horas...(risos) De qualquer maneira, enquanto estiver no ensino da música em Portugal, continuarei a dar o meu melhor e a tentar elevar ainda mais o nível artístico dos jovens músicos, tentando dar-lhes inspiração, fazendo com os seus sonhos sejam ou possam ser concretizados!

Como vê o ensino artístico neste Portugal do século XXI? Caminhamos no sentido certo? Considera que o ensino básico deveria estar mais perto das academias, proporcionando uma melhor contextualização entre a disciplina de Educação Musical e o que no ensino artístico se produz?
Como disse na resposta anterior e apesar de não estar de acordo com o sistema de ensino ao nível do ensino superior, penso que o nível básico – secundário está a ser também, infelizmente, direcionado para o lado burocrático, onde os professores já nem músicos são considerados, passando mais tempo em reuniões e a fazerem trabalho de secretaria do que a ensinar e a transmitir os seus conhecimentos, ajudando os alunos a crescerem no seu todo, a nível musical e social. Com o atual sistema, ser músico já não significa ser especial ou ter talento especial! Passou a ser algo banal... o que, na minha opinião, não é de todo verdade!! No entanto, penso que o ensino básico deve estar próximo das academias, dos conservatórios e escolas profissionais de música, fazendo com que todos os jovens tenham acesso à aprendizagem da música e se apercebam do quanto difícil e especial esta arte é, dando-lhe o valor e proporcionando-lhes a descoberta desta grande arte!

Sérgio CarolinoConsidera-se o músico certo para mostrar aos jovens que a música é uma só, seja tocada por uma orquestra sinfónica ou seja num trio de Jazz? O trabalho que tem vindo a fazer tem sido um pouco a prova disto... Concorda?
Penso que posso mostrar aos jovens que a música não tem barreiras estilísticas nem fronteiras. Ficarei muito feliz se puder ajudar nessa matéria.

Por falar em orquestras... Tem tido o privilégio de tocar como solista com algumas das mais prestigiadas orquestras do planeta. Há alguma(s) experiência(s) que o tenha(m) marcado de forma mais evidente?
Tenho variadas experiências que me marcaram de forma muito significativa e daí ser difícil escolher uma delas. Talvez a que mais me marcou tenha sido a primeira vez que toquei a solo com a orquestra da qual faço parte – Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música – e onde pude estrear mundialmente o primeiro Concerto para Tuba e Orquestra, Op. 144 do grande compositor e amigo, maestro António Victorino D'Almeida. Foi um verdadeiro desafio e uma honra poder estrear e gravar ao vivo esta magnífica e extremamente difícil obra de 25 minutos, ainda para mais, contanto com a presença do compositor e na magnífica Sala Suggia da Casa da Música, no Porto.

São várias as formas como é tratado de país para país. Já lhe chamaram o "Tuba Guru", "Tuba Meister" e "Tuba Phenomen". Isto é revelador do impacto causado pelas suas intervenções musicais e pedagógicas. Isto traz-lhe vantagens e reconhecimento de vários compositores portugueses e estrangeiros. Ao ter a experiência te tocar reportórios tanto de uns como de outros estará em posição de nos dizer se ao nível da composição ombreamos com os melhores compositores internacionais?...
Sem dúvida! Temos entre nós compositores que estão entre a elite mundial e dos quais me orgulho imenso e fico muito feliz e honrado por poder tocar e gravar as suas composições, escritas e dedicadas à minha pessoa. Algumas dessas composições já foram premiadas e nomeadas Internacionalmente, o que diz da sua enorme qualidade artística!

A entrevista já vai longa e, embora tivéssemos muito mais para conversar, vamos deixar-lhe uma última questão relacionada com os seus projetos para o futuro mais próximo, não nos esquecendo de lhe agradecer mais uma vez toda a gentileza demonstrada para com o XpressingMusic. O que podemos esperar do Sérgio Carolino para os próximos tempos?
No que depender da minha pessoa, e enquanto tiver saúde, sanidade mental e energia, continuarei a dar o meu melhor, com toda a minha paixão por esta arte tão nobre, linda e única, fazendo com que o nome de Portugal seja pronunciado com respeito e admiração!

Biografia

Sérgio Carolino

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