Quarteto de Guitarras Parnaso em entrevista ao XpressingMusic
O XpressingMusic foi ao encontro de um projeto não muito comum em Portugal. Falamos do Quarteto de Guitarras Parnaso fundado em 2010 a partir de uma ideia do guitarrista Augusto Pacheco. Este grupo é formado por quatro guitarristas diplomados por Escolas Superiores em Portugal que posteriormente prosseguiram a sua especialização no estrangeiro. Todos estes fatores são prometedores de qualidade. Vamos então conhecer melhor este projeto na entrevista que se segue.
XpressingMusic (XM) – Agradecemos desde já a vossa amabilidade em conceder-nos esta entrevista. Podemos começar pelas vossas origens… como e quando surgiu esta ideia de formar um quarteto de guitarras?
Quarteto Parnaso (Q.P.) – O quarteto foi formado em 2010, mas penso que a génese da ideia da sua formação, ainda que inconsciente, surgiu no ano de 1997. Passamos a explicar: foi nesse ano que se formou a Orquestra de Guitarras da Academia de Música de Vilar do Paraíso, projeto que se mantém até hoje, e todos nós estivemos muitos anos ligados a ele, (Augusto Pacheco ainda se mantém na direção da orquestra). Esta ligação permitiu ao longo dos tempos um crescimento musical em comum, e em que para além do rigor e ritmo de trabalho, o prazer pela música em conjunto foi sem dúvida algo que ficou enraizado nas nossas vidas. Outro aspeto que consideramos fundamental para a realização de música em conjunto é a amizade, e é neste ponto que acreditamos estarem alicerçadas as bases deste projeto.
XM – O reportório que executam é concebido originalmente para quarteto ou essa adaptação é um trabalho vosso?
Q.P. – De início, procurámos um programa que nos desse prazer e que pudesse chegar mais facilmente ao público melómano. Pensamos que os guitarristas acabam por tocar quase sempre para um público guitarrista, e ainda que essa condição seja importante para a afirmação de todos nós como executantes, uma vez que as “vozes críticas” se manifestam mais acerrimamente nesses momentos, há ainda todo um público que passa ao lado dos concertos de guitarra. Optamos então por tocar algumas transcrições de obras orquestrais que fossem conhecidas do grande público, como por exemplo: “Quebra-Nozes” – Tchaikovsky; ou “Capricho-Espanhol” – Rimsky-Korsakov. Verificamos que além da curiosidade em relação à exequibilidade e resultado final destas obras a plateia também manifestou bastante agradado. Introduzimos também obras originalmente escritas para quarteto de guitarras, nomeadamente do guitarrista compositor Roland Dyens. Estas peças, apesar de compostas recentemente, não são, em termos de escrita, aquilo que vulgarmente se chama de música contemporânea, são sim, obras que revelam o gosto muito particular de Dyens e nos fazem viajar pelas raízes da música popular e do jazz. Estas composições são também muito apreciadas pelo grande público uma vez que estão imbuídas de uma grande “simplicidade” e frescura musicais.
O passo seguinte foi criar um reportório com o qual fossemos identificados, e nesse sentido começamos por desafiar dois compositores portugueses que escrevessem para nós, foram eles Ricardo Ribeiro – “Intercecções”, e Óscar Rodrigues – “Por um país de pedra e vento duro”. Estas obras foram estreadas no nosso concerto em Guimarães 2012 - Capital Europeia da Cultura, sem dúvida o seu estudo foi um grande desafio para nós, uma vez que usam uma linguagem musical com a qual não estávamos muito familiarizados, mas seguramente foi um trabalho que nos fez crescer como grupo.
E no seguimento desta ideia, o Paulo Andrade tem trabalhado em alguns arranjos de música portuguesa, e no nosso próximo concerto iremos estrear três canções de Zeca Afonso.
XM – Quais os critérios composicionais tidos em conta quando se compõe para quatro guitarras?
Q.P. – Um dos vários aspetos a ter em conta são naturalmente as potencialidades e limitações do instrumento. A guitarra tem várias possibilidades técnicas que ajudam a criar diferentes texturas e sonoridades, e tendo um grupo deste género quatro instrumentos iguais, é necessário explorar todas estas possibilidades. Principalmente nos arranjos orquestrais que executamos, é notória a tentativa de aproximar a sonoridade do quarteto ao da orquestra. (Segovia dizia: “A guitarra é como uma pequena orquestra”.) Esta questão obriga a uma execução interpretativa muito intensa e minuciosa, no que diz respeito à exploração tímbrica, com o objetivo de a sonoridade final ter o mesmo sentido orquestral da obra original. Já no caso das obras do Ricardo e do Óscar, a linguagem contemporânea utilizada nas suas obras obrigou a várias reuniões entre o quarteto e os compositores, por forma a encontrar a melhor maneira de executar certas passagens, com a finalidade de chegar ao resultado musical pretendido pelo compositor. Na obra Intersecções do Ricardo Ribeiro, cada um dos guitarristas usa uma espécie de slide com o comprimento das seis cordas da guitarra, o que dá origem a um timbre muito característico!
XM – Apresentem-nos agora os elementos deste projeto…
Q.P. – O quarteto é constituído pelos guitarristas: Augusto Pacheco, Carlos David, Gonçalo Morais e Paulo Andrade.
XM – Para além das vossas apresentações no Rivoli e na Guimarães 2012,Capital Europeia da Cultura, já tiveram mais alguns espetáculos? E para breve, há já datas agendadas?
Q.P. – Para além dos concertos mencionados, já nos apresentámos por diversas ocasiões, sendo de destacar: XIV Festival Internacional de Guitarra de Sernancelhe, Ciclo de Música Seis Cordas Seis Momentos em Santo Tirso, III Festival de Guitarra – Guitarrismos em Vila Nova de Gaia, Concerto Aberto da Antena 2 no Museu do Neo-Realismo em V. F. de Xira entre outros.
O próximo concerto é no Centro Cultural de Cascais dia 23 de Março.
Estamos também neste momento a iniciar uma parceria com a agência ArtWay.
XM – O que fazem os elementos do Quarteto Parnaso para além do trabalho desenvolvido neste projeto? São somente instrumentistas ou também lecionam?
Q.P. – Sim, somos todos professores em instituições de ensino oficial de música. O Augusto Pacheco também leciona no ISEIT - Piaget de Viseu. Além deste quarteto, alguns de nós possuem outros projetos a solo e de música de conjunto, desde a música erudita à música ligeira.
XM – Das entrevistas que temos efetuado aqui no XpressingMusic, ficamos com a ideia de que cada vez há mais bons músicos em Portugal… Consideram Portugal um país pequeno para tantos músicos de qualidade? Haverá falta de mercado para que todos se possam apresentar convenientemente?
Q.P. – Sem dúvida que sim. Existem mais instituições de ensino com melhor qualidade. Além disso a informação e os meios de comunicação evoluíram muita na última década. Este contexto possibilita que cada vez mais jovens possam ter contacto com uma maior diversidade de culturas. O grande problema é que o nosso país não tem grande capacidade de resposta para tão bons projetos que têm surgido mais recentemente. Penso que o nosso povo ainda é um pouco preguiçoso no que respeita a sair de casa e ir conhecer novos artistas. É importante que as salas de espetáculo encham para tornar viável a existência de novos projetos. A atual situação política e económica também cria enormes adversidades pois sente-se também nesta área uma enorme contenção. Pensamos no entanto que o forte pilar de um povo é a tradição e as suas raízes culturais, essa pode ser uma das formas de as pessoas se situarem no meio de tão conturbados tempos.
XM – Agradecemos mais uma vez a vossa amabilidade e deixamos uma última questão. Podem partilhar com os nossos leitores e seguidores alguns dos vossos projetos para o futuro mais próximo?
Q.P. – Os nossos agradecimentos pela vossa disponibilidade e interesse pelo nosso quarteto. Deixamos no ar a nossa intenção de muito brevemente entrar em estúdio para gravar o nosso primeiro registo discográfico. Deixamos também um agradecimento a todos os que têm apoiado o Quarteto Parnaso.
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