O XpressingMusic entrevista o Maestro e Saxofonista Pedro Rego
O nosso entrevistado de hoje é Pedro Rego. Natural de Canelas, Estarreja, iniciou os seus estudos musicais aos 12 anos de idade na Banda Bingre Canelense com o Maestro Fernando Raínho. Posteriormente inicia o aprofundamento da aprendizagem do saxofone no Conservatório de Música de Aveiro Calouste Gulbenkian na classe de Saxofone do Professor Fernando Valente. Enquanto saxofonista, colaborou com várias Bandas Filarmónicas no norte de Portugal. Atualmente é Maestro da Filarmónica de Odemira.
XpressingMusic (XM) – Pedro, como se define enquanto profissional? Saxofonista, Docente ou Maestro?
Pedro Rego (P.R.) – Profissionalmente defino-me como Músico, pois julgo que esta definição engloba todas as actividades que tenho realizado à volta da música, quer enquanto Saxofonista, Professor ou Maestro. Embora a actividade principal que exerço seja a de professor pelo simples facto de gostar de partilhar conhecimento com os outros, tenho o privilégio de poder tocar quer a solo, quer em Quartetos ou Big Band / Orquestras. A Direcção musical é outra vertente que me fascina no meio musical, tendo em conta a especificidade que é orientar um grupo eclético (como o caso das Bandas Filarmónicas) onde se encontram uma variedade de idades e formações diversas, conseguindo obter um resultado musical homogéneo.
XM – Os saxofonistas Henk Van Twillert, Mario Marzi, Claude Delangle tiveram muita influência na sua vida enquanto músico?
P.R. – Os Professores com quem trabalhei foram importantes para adquirir não só uma formação mais sólida enquanto músico, mas também como ser humano. Com todos os professores com quem contactei tive a oportunidade de receber valores humanos e de absorver testemunhos de vida que me norteiam enquanto músico e pessoa no mundo das artes.
XM – Sabemos que frequentou o Hot Club de Portugal e alguns Workshop’s de Jazz estudando com músicos como Zé Eduardo, Carlos Martins, Carlos Barretto, Bernardo Moreira, José Menezes, André Sousa Machado e Iuri Gaspar. Quando surge o seu interesse pela área do Jazz?
P.R. – O contacto com o Jazz deu-se no 1º Workshop de Jazz no Conservatório de Aveiro com o Quarteto Carlos Martins. Era novidade na altura (em Aveiro) e estava curioso em perceber como funcionava a parte da improvisação e aprender tudo quanto fosse possível sobre o Jazz. Seguiram-se depois outros Workshop’s até chegar ao Hot Club e começar a tocar em Big Bands.
XM – 1996 foi um ano certamente marcante pois venceu o Prémio Fórum Musical- RTP na Classe de Saxofone. O que sentiu ao ver este reconhecimento do seu valor enquanto saxofonista?
P.R. – Foi sem dúvida um ponto marcante na minha carreira académica. Após o prémio tive a convicção que estava no caminho certo e deveria continuar o estudo musical.
XM – Fermentelos, Freamunde, Casal d’Álvaro, Travassô e Eixo foram algumas das filarmónicas com as quais colaborou como saxofonista. Fascina-o o mundo das filarmónicas?
P.R. – As Bandas Filarmónicas fazem parte da vida da maioria dos músicos de sopros em Portugal, e no Norte é sem dúvida uma referência musical. No meu caso, como da maioria dos colegas que conheci, foi a primeira escola de música, onde aprendemos a ler pautas e ter noção de responsabilidade enquanto instrumentistas e respeito pelos colegas de trabalho.
XM – Pode falar-nos um pouco das suas experiências em projetos como Big Villas Band do Hot Club de Portugal, a Big Band Almada Cool, Big Band Loureiros, Big Band do Barreiro e Orquestra Didáctica da Foco Musical?
P.R. – As Big Bands por onde passei foram todas importantes do ponto de vista da aprendizagem da linguagem musical, principalmente a do Hot Club e a Big Band Almada Cool – com o Zé Eduardo, onde ganhei “bagagem” para poder interpretar melhor o estilo Jazzístico. No caso da Orquestra Didática da Foco Musical foi um projecto inovador na altura (2000), tendo em conta a divulgação musical junto das escolas primárias, promovendo o ensino da música nessa faixa etária, com concertos didático e interactivos em salas como a Aula Magna.
XM – Atualmente integra o Setsax Quarteto, a Big Gang de Mafra e colabora com DJ´s na realização de eventos de animação musical para Hoteis, Bares e Discotecas. Estas são formas de manter vivo o performer Pedro Rego?
P.R. – Tudo quanto envolva actividade performativa é uma forma de manter activa a carreira instrumentista. Tocar em Quarteto, Big Band, a Solo ou com DJ’s apesar de especificidades diferentes, são ambas feitas com a mesma dignidade e empenho. Todas requerem treino e preparação técnica.
XM – Enquanto docente já trabalhou no Colégio Planalto – Lisboa, na Juventude Musical Portuguesa, no Conservatório de Alhandra e na Ourearte – Escola de Música e Artes de Ourém. Sendo natural de Estarreja, o que o fez trazer a sua atividade profissional mais para sul? Esta mudança relaciona-se com o facto de ter ido lecionar para o Conservatório Regional Setúbal em 1998?
P.R. – A minha deslocação para Sul deve-se ao facto de ter entrado na Licenciatura em Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa em 1997 e paralelamente no Hot Club. Como no ano seguinte iniciei a carreira docente nos Conservatórios de Alhandra e Setúbal, fui ficando... até hoje.
XM – Falar de Pedro Rego, é também falar do maestro… A sua postura enquanto maestro é o resultado das vivências junto de nomes como José Brito, Alberto Roque, René Castelain, José Ignácio Petit, Robert Houlihan, Rodolfo Saglimbeni, Félix Hauswirth, José Pascual Vilaplana, Jacob de Haan, Douglas Bostock, Fernando Palacino e Paulo Martins? Houve algum destes nomes que o tenha marcado de forma mais evidente?
P.R. – A primeira experiência na Direção Musical surgiu num Curso de Regência de Bandas do INATEL, onde tive como orientadores José Brito e Alberto Roque, sendo estes os primeiros motivadores na altura. Mais tarde quando recebi o convite para dirigir a Banda dos Loureiros em Palmela, investi na minha formação em Masterclasses com outros Maestros que fui conhecendo. Os Maestros Douglas Bostock e Félix Hauswirth foram sem dúvida muito influentes na minha carreira enquanto Maestro.
XM – Embora dirija atualmente a Filarmónica de Odemira, já passou por outras bandas assumindo as funções de maestro. Quais as bandas onde já dirigiu?
P.R. – Após a Banda dos Loureiros, dirigi a Banda da Arrentela, orientei o 1º Estágio de Sopros da Ourearte – Ourém e recentemente o 1º Estágio de Sopros e Percussão no Conservatório de Setúbal.
XM – Pedro, agradecemos a generosidade demonstrada para com o XpressingMusic. Pode deixar alguns conselhos aos jovens que agora iniciam a aprendizagem do Saxofone?
P.R. – Eu é que agradeço o convite para responder às questões e bem hajam pelo vosso trabalho em prol da música em Portugal.
O conselho maior que posso deixar aos jovens é acreditarem e apostar forte na aprendizagem musical, sem receios. Em Portugal está evidente o crescimento das orquestras de sopros, que dão continuidade profissional ao trabalho feito até agora pelas filarmónicas, tendo cada vez maior projeção mundial, com músicos cada vez melhores na área dos sopros especificamente.
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