François Couperin: Les Nations (1726)
Tesouros da história da “nova” música antiga


François Couperin: Les Nations (1726)

François Couperin: Les Nations (1726)

M. Huggett, Ch. Banchini, S. Preston, K. E. Ebbinge, M. Henry, C. Wassmer, H. Smith, T. Koopman, J. Savall.

Alia Vox
AVSA 9928

2018 / 2 CD


No dealbar da segunda metade do século XX o movimento da “nova” música antiga invadiu o universo da interpretação musical de fontes pré-românticas como uma flecha avassaladora de um cúpido que encandeou uma crescente vaga de seguidores apaixonados, entre público e intérpretes de sucessivas gerações, marcando um fenómeno de incontornável impacte da história da música dos últimos 50 anos.
Estavamos nas décadas de 1970 e 1980 e uma nova, revolucionária, plêiade de artistas encabeçava esse movimento seguindo as pisadas pioneiras traçadas por nomes como Safford Cape, August Wenzinger, Alfred Deller, Thurston Dart, Gustav Leonhardt, Safford Cape, Nikolaus Harnoncourt, Frans Brüggen e os irmãos Kuijken, a partir das décadas precedentes. Entre estes novos intérpretes, activos desde meados da década de setenta, cabia um lugar de destaque a nomes como Ton Koopman, Monica Huggett, Hopkinson Smith e Jordi Savall, entre apresentações em concerto e discografias, a solo e em conjunto, verdadeiramente inovadoras no domínio da intepretação histórica.
A Alia Vox Heritage, inaugurada em 2007, traz a lume uma nova edição de um dos (muitos) momentos áureos da discografia destes intérpretes, com a dádiva especial de os poder escutar a fazer música em conjunto, com a remasterização e reedição de François Couperin: Les Nations (1726).
A gravação original remonta ao ano de 1983, sob direcção do produtor Michel Bernard, uma figura importante na edição de música antiga na Europa nesse período em etiquetas como a Philips francesa – aqui produziu, inclusivamente, a primeira série da discográfica promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian, intitulada Portugaliae Musica, entre 1966 e 1969 -, a Harmonia Mundi e a Astrée, onde foi originalmente editada esta gravação (numa co-produção entre a Auvidis e a Radio France) com interpretações de um Hespèrion XX de luxo.

Em 2 CD que reúnem os quatro «grands concerts» ou «sonades» (como o próprio F. Couperin define no prefácio à sua publicação em 1726), alicerçados no modelo da suíte orquestral típica do barroco francês, que compõem Les Nations – “La Françoise”, “L’Espagnole”, “L’Imperiale” e “La Pièmontoise” – o ouvinte pode apreciar interpretações de grande qualidade, com uma fluidez e equilíbrio imaculadas entre as diferentes partes do ensemble, ao mesmo tempo que toda a galanterie e sumptuosidade que este repertório evoca está absolutamente garantida. A clareza e detalhe da ornamentação, o diálogo melódico continuo entre as partes ou a coesão dinâmica do efectivo instrumental, são alguns dos argumentos mais fortes. Por sua vez, a viagem ao imaginário da França herdada por Luís XV (que assumiu em pleno o reinado precisamente desde 1726 até 1774) é um tónico natural, ao mesmo tempo que a qualidade interpretativa e o produto sonoro concretizado nesta gravação garante uma contemporaneidade incontestável a um registo com 35 anos.

Esta reedição conta com um excelente trabalho de remasterização, onde uma comparação com a edição em LP de 1983 permite verificar uma melhoria do recorte e clareza sonoros evidentes, mas sem alterar a identidade do produto sonoro original.
Este não é o único título em que este núcleo de grandes intérpretes se juntou para gravar na décade de 1980. Contam-se outras edições desse mesmo período, nomeadamente para a etiqueta Astrée, também com música de François Couperin “Le Grand”, como é o caso de Les Apothéoses (1986), pelo que não será desajustado esperar e desejar, quem sabe, a oportunidade de num futuro próximo a Alia Vox Heritage trazer ao público melómano novas remasterizações de outros tesouros que estes intérpretes criaram num capítulo essencial da nossa história recente.

Performance:

Qualidade Sonora / Recording:

Aparato Editorial / Artwork & Texts:

Tiago Manuel da Hora

Tiago Manuel da Hora

Produtor e Musicólogo, autor de várias publicações, rubricas e argumentos para espetáculos musicais. Com uma intensa actividade no ramo da produção discográfica, assinando edições nacionais e internacionais, tem sido também responsável pela criação, direcção artística e produção de diversos concertos e espetáculos. É investigador do INET-MD da Universidade Nova de Lisboa, onde dedica as suas atenções ao estudo da produção discográfica.

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