Vozes do Alentejo - O Melhor do Cante Alentejano: Entrevista.

Vozes do AlentejoCarlos Arruda do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa: «É bom sinal que surja quem queira "aproveitar-se" desta fase que o Cante atravessa, cabe aos verdadeiros detentores do património saber dizer não na altura certa e agarrar as oportunidades que vão naturalmente surgir. É muito importante que os grupos corais tenham presente a responsabilidade que têm de manter e preservar a forma tradicional do cante na forma como foi apresentada à UNESCO, porque esta distinção não é perpétua, e os pressupostos com que foi aceite têm de ser mantidos para que a chancela não nos seja retirada. (...) a vertente mais criativa e contemporânea das interpretações da Celina da Piedade, Paulo Ribeiro e Bernardo Espinho pode conviver com os grupos corais nas suas abordagens à música saindo os dois lados a ganhar».

Carlos Arruda, muito obrigado por nos conceder este espaço. Como podemos caracterizar o espetáculo "Vozes do Alentejo - o Melhor do Cante Alentejano"?
O espetáculo que vai ser apresentado no CCB em Lisboa, no dia 13 e na Casa da Música no Porto, no dia 14 de março pretende dar a conhecer o mais genuíno legado que foi deixado ao povo alentejano em harmonia com novas abordagens musicais. Considero, portanto, que o espetáculo "Vozes do Alentejo - o Melhor do Cante Alentejano" pode ser caracterizado por um namoro que culmina num casamento perfeito.

O reconhecimento do Cante Alentejano como Património Imaterial da Humanidade por parte da UNESCO trouxe a esta forma de expressão uma dimensão nunca vista. Há muitas formas de rentabilizar este reconhecimento? Teme que haja também algum aproveitamento desta situação?
Essa é uma questão com a qual devemos conviver com naturalidade. É bom sinal que surja quem queira "aproveitar-se" desta fase que o Cante atravessa, cabe aos verdadeiros detentores do património saber dizer não na altura certa e agarrar as oportunidades que vão naturalmente surgir. É muito importante que os grupos corais tenham presente a responsabilidade que têm de manter e preservar a forma tradicional do cante na forma como foi apresentada à UNESCO, porque esta distinção não é perpétua, e os pressupostos com que foi aceite têm de ser mantidos para que a chancela não nos seja retirada.

Vozes do AlentejoFale-nos um pouco do Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa. Sente que quando se fala de Cante Alentejano é obrigatório que se faça uma associação a esta Instituição?
Serei suspeito para dar uma resposta plenamente isenta a esta questão, mas há factos históricos que são incontornáveis. O Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa foi fundado em 1928, seguido apenas do Grupo do Sindicato Mineiro de Aljustrel que teve início em 1926. Contudo, o Grupo Coral de Serpa conseguiu manter-se em atividade permanente desde a sua criação, tornando-se o grupo coral mais antigo em atividade permanente. Em todos estes anos de atividade, teve de resistir a várias controvérsias sociais e políticas, ainda assim, soube sempre lidar com as situações que se lhe foram atravessando, mantendo como prioridade a preocupação na qualidade do cante. O resultado desse rigor são as magníficas recolhas de que dispomos, as históricas atuações em três continentes e o papel de referência que continua a ter para outros grupos, quer a nível de qualidade musical quer na sua composição em termos etários que continua a ser uma grande preocupação dos grupos corais.

Há, da parte do grupo, uma preocupação pedagógica no sentido de formar as novas gerações para que o cante não desapareça?
Essa é uma atitude que compete a todos os grupos corais, conseguir atrair jovens para poder passar para as novas gerações o legado que nos foi deixado. O Grupo Coral da Casa do Povo de Serpa é um bom exemplo disso por ter conseguido manter desde sempre um leque de idades muito variado. Eu sou um exemplo disso, tendo integrado o grupo com 13 anos. É claro que nos dias de hoje, dada a oferta de atividades que os jovens têm ao seu dispor não é tarefa fácil prender os jovens no cante, ainda que com a distinção do cante pela UNESCO essa tarefa tenha sido bastante facilitada. Estou confiante que o grupo vai continuar a fazer o seu trabalho nesse campo, porque é uma preocupação permanente de todos os elementos.

O espetáculo conta também com vozes como a de Celina da Piedade, Paulo Ribeiro ou Bernardo Espinho. Como surgiu esta oportunidade de se juntarem e qual a dimensão que querem trazer ao espetáculo associando estes nomes ao mesmo?
A ideia de criar um espetáculo desta natureza partiu da UGURU, na pessoa do Alex Gaspar, que tem uma vontade inesgotável de dar a conhecer o cante ao grande público, mostrando-o da sua forma mais genuína, por um lado, mas por outro mostrar a influência que este tem na criação de novos músicos. Desta forma está garantido neste espetáculo a apresentação de duas vertentes fundamentais para que o cante continue vivo. Por um lado a genuinidade que foi levada à sede da UNESCO, por outro, a vertente mais criativa e contemporânea das interpretações da Celina da Piedade, Paulo Ribeiro e Bernardo Espinho que pode, no entanto, conviver com os grupos corais nas suas abordagens à música saindo os dois lados a ganhar.

Este espetáculo que apresentarão em Lisboa e no Porto será replicado noutros palcos do país?
A minha convicção é que a resposta a essa questão seja sim. E parece que nos bastidores já se fala do tema mas a verdade é que, para já, estas são as duas únicas salas marcadas.

Preveem transformar este espetáculo em CD ou DVD?
Essa é mais uma questão que vou deixar em aberto, garantido é que estamos a trabalhar com os melhores técnicos de som, luz, produção e as surpresas podem surgir a qualquer momento.

O que sonham para o futuro do Cante Alentejano?
Os sonhos para o futuro do Cante são muitos, mas o essencial, e creio que é isso que vai encher de orgulho os nossos antepassados, estejam eles onde estiverem, e a nós que o cantamos é que este continue vivo, cantado e interpretado com dignidade, por um número crescente de cantores, reconhecido e apreciado pelas pessoas que já o conhecem e possa ser dado a conhecer a novos públicos quer nacionais quer internacionais.

Mais uma vez muito obrigado por nos ter concedido algum do seu tempo.
Eu é que agradeço a oportunidade de poder falar sobre o cante e o espetáculo "Vozes do Alentejo - o Melhor do Cante Alentejano".

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