Marcos Moreira da Universidade Federal de Alagoas no Brasil em Entrevista ao XpressingMusic

Marcos MoreiraNascido em Salvador-Bahia, o Professor Marcos Moreira é Mestre em Educação Musical pela Universidade Federal da Bahia, onde também obteve o diploma de Licenciatura em Música. O nosso entrevistado é também Especialista em Gestão Escolar pela Faculdade Montenegro. Em Alagoas, é Professor Assistente e mantém o Grupo de Pesquisa na UFAL- Universidade Federal de Alagoas. Na entrevista que se segue, tentaremos descobrir mais um pouco sobre a vida deste investigador que se tem empenhado em manter bem viva a chama da música em vários contextos escolares e ainda no das Bandas de Música no Brasil.

Marcos, gostaríamos, em primeiro lugar, de saber qual a sua visão sobre o ensino da música no Brasil. Considera que tem havido uma evolução positiva na forma como esta área da educação é vista pelos governantes brasileiros e pela população em geral?
As funções da Música no Brasil, no carácter pedagógico, remontam da instrução musical dos jesuítas do período colonial até às primeiras instituições de ensino musical, principalmente no segundo Império, com o surgimento dos primeiros conservatórios. Podemos verificar o grande feito pedagógico de Heitor Villa-Lobos (nosso maior compositor) na implantação do antigo canto orfeónico (1931), entre as décadas de 30 a 60, já no século XX e o declínio de uma educação musical na década de 70 (1971), com a origem da Educação Artística, generalizando a arte num único programa. A grande vitória da música na relação pedagógica acontece em dois momentos recentes: A Lei de Diretrizes e bases da Educação, que formata o ensino das Artes nas suas especificidades - Música, Teatro, Dança e Artes plásticas - e em 2008 com a Lei 11.769 sancionada pelo então Presidente da República Lula da Silva, que obriga conteúdos Musicais nas escolas públicas brasileiras.
Acho que é uma grande evolução na contemporaneidade. Mas temos que equacionar a estrutura física das instituições de ensino onde será aplicado este método de ensino musical, a preparação do profissional que irá atuar, já que a lei não obriga a formação docente, entre outros avanços necessários na própria lei.
O povo brasileiro gosta de Música, mas a Música como “ferramenta educativa” e os seus verdadeiros objetivos sociais e formativos, ainda são desconhecidos pela maioria da população e pela maioria dos governantes, tendo em conta a falta de zelo com as instituições públicas de ensino básico regular na maioria das regiões brasileiras. Ainda há muito a fazer!!

Marcos MoreiraA História da Música no Brasil tem uma particularidade que nos fascina - o facto de o popular e o erudito se cruzarem várias vezes e em inúmeras situações. Pode falar-nos um pouco desta forma descomplexada de abordar a música e que é tão característica dos brasileiros ao contrário do que se passa na Europa?
Mas esta forma vem do contexto da própria formação étnica do povo brasileiro. Nenhum povo no mundo desenvolveu ou foi desenvolvido com tanta diversidade de culturas, de raças e costumes num mesmo território federativo. Esta mistura é real. No Brasil a contribuição europeia, juntamente com a raiz indígena, ratificada na cultura dos negros escravizados e seus descendentes, deram ao Brasil, através dos anos, uma variedade incontável de ritmos, danças, síncopes, gingados e caraterísticas próprias, com seus estilos e formas musicais. Desde as modinhas apreciadas por D. João VI, passando pela polca transformada a partir do hibridismo do Maxixe, do Choro, do Samba e as suas variações, e com as danças, e que se torna complexo definir num só estilo.
No nordeste temos o forró, o samba de roda, o frevo pernambucano. No sudeste o chorinho carioca, o “partido alto” (Estilo de samba). No sul, o parnasianismo do seu estilo musical. No norte o carimbó. Portanto, essa miscigenação entre povos colonizadores (branco), escravizados (negros e índios) e nativos (índios), foi motivo e tema de diversos pintores, escritores, escultores e principalmente na Música de compositores eruditos desde o século XIX. Podemos citar obras conhecidas mundialmente como Carlos Gomes e a ópera indianista o “Guarani”, a “Galhofeira”, maxixe de Alberto Nepomuceno, até as obras do século XX como “Floresta do Amazonas” de Villa-Lobos e a “Dança Negra” de Camargo Guarnieri, entre outras centenas similares que compõe o repertório erudito nacional. Em parte justificam a influência da utilização de temas populares na Música erudita brasileira na sua História.

Sabemos que é Editor/Fundador da Revista Eletrónica de Música MUSIFAL e que, neste âmbito desenvolve semestralmente encontros sobre o tema das Bandas de Música. Considera que o futuro das bandas de música no Brasil está assegurado? Que papel desempenham as bandas de música no Brasil?
As bandas de Música no Brasil desenvolveram-se no século XIX. As suas primeiras formações vêm do cunho popular, com profissionais que nem sempre estavam relacionados com a Música, como os Barbeiros e os negros escravizados nas “bandas de fazenda”. A sua conceção a partir da guarda real de D. João VI foi fundamental para a criação de sociedades civis, principalmente nos municípios do interior brasileiro. Nos tempos atuais, atuam como principais escolas de música não formais. Seriam uma espécie de “Conservatório do interior”. Hoje mais de 1000 bandas estão na região nordeste (local onde a MUSIFAL está registada). O Brasil é um país continental e as bandas são grandes possibilidades de minimizar esta educação musical nos pequenos municípios, nas pequenas cidades. MUSIFALTemos mais de 5.000 municípios no país inteiro e, portanto, enquanto não houver o equilíbrio da implantação da Música nas escolas, as Bandas de Música e as suas escolas de aprendizes são as grandes responsáveis pelo preenchimento, em parte, desta lacuna histórica. Elas contribuem na educação social, religiosa e na formação humana, além, é claro, da Educação Musical. Boa parte dos músicos de sopro, muitos deles famosos, saiu e sai destas filarmónicas do interior.
Desta forma resolvi criar, como projeto de Extensão em 2009, as “Jornadas Pedagógicas para Músicos de banda”. Foi a maneira de aproximar a Universidade Federal de Alagoas às instituições filarmónicas, muitas delas centenárias. Neste Encontro, promovemos palestras de Educação Musical e Musicologia, além de oferecermos oficinas musicais e minicursos de Instrumentos de Sopro.

Enquanto autor de diversos artigos publicados em congressos, bem como em periódicos académico-científicos, quais os temas que mais aborda? O da Educação Musical ou, por outro lado, existe um predomínio do tema “Bandas de Música”?
Como Professor licenciado aprendi, desde a saída da graduação, a diversidade de atuação como educador, para as oportunidades profissionais oferecidas. No meu caso particular fiz de tudo um pouco. Fui músico de banda popular, fui pianista recitalista, trabalhei como professor de educação especial (educação que se refere a pessoas com deficiências locomotoras, visuais, cognitivas...entre outras) e também criei corais juvenis e coordenei projetos onde fundamos bandas de música e grupos de flauta doce. Tudo isto me influenciou na Academia, já como Professor Federal, a centralizar as pesquisas no foco: A Educação Musical e banda de Música. Foram os temas que eu escolhi para desenvolver a minha carreira de pesquisador. Já apresentei as relações filarmónicas na história, na composição, na questão social, na educação e ultimamente tenho enveredando pelas questões de Género, com uma pesquisa sobre a participação feminina nas bandas nordestinas brasileiras e do norte de Portugal. Portanto, tenho abordado, nestes últimos anos, temas relacionados com as Bandas de Música.

Pode agora falar-nos um pouco dos Cursos de Música da Universidade Federal de Alagoas? A vossa missão centra-se na formação de músicos instrumentistas ou de professores de música?
Centra-se na formação de Professores de Música. Minhas disciplinas são voltadas para as Metodologias aplicadas à formação profissional docente. Também atuo como coordenador de Estágios Supervisionados.   
Já sobre o curso de Música da UFAL, foi criado como Departamento de Artes, em 1981, com a proposta do Bacharelado em Música – Habilitação: Canto e, com a necessidade do exercício da docência, criou-se o curso de Licenciatura em Música. No entanto, a partir de 2010 viu-se, pelo corpo docente, a necessidade diante da questão da Lei da Música nas Escolas, a proposta de uma reformulação no projeto político pedagógico do curso. Este novo curso, em relação à própria lei, vem atender ao licenciando em música, tendo como ponto inerente as suas habilitações. Neste contexto, propõe uma formação adequada e consistente, atendendo as necessidades das leis, qualificando tais profissionais ao mesmo nível de cursos equivalentes. Hoje temos licenciaturas específicas em instrumentos e, no caso do Canto, retirámos o bacharelado e transformámos em Licenciatura. Estamos na UFAL a realizar mudanças contínuas do currículo antigo de 1981 para reformular Licenciaturas Específicas em 2010-2012.

Para terminar, gostaríamos de agradecer a amabilidade em nos conceder esta entrevista.
O agradecimento é recíproco.

Marcos Moreira

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