Companhia Ópera Isto em destaque numa entrevista a Mário João Alves
«Este projeto alimenta-se de uma vontade genuína de o fazer e do espírito criativo que o sustenta em cada nova criação. Acho, ainda assim, que é dos autores e músicos que faz sentido que estes projetos despontem, ainda que surjam como resposta a estímulos do tecido de programadores, como acontece em geral no nosso caso. Porém a identidade do projeto e o desejo de o pôr em prática tem que sair de dentro, neste caso de mim e da Ana Paula Sousa, que temos este projeto no coração desde o primeiro momento». Mário João Alves
Muito obrigado por ter aceitado o nosso convite para falarmos um pouco sobre a Companhia Ópera Isto. Como e quando teve início o trabalho desta companhia?
Este projeto teve início no outono de 2011 e deveu-se a um convite para preparar um espetáculo para o Serviço Educativo da Casa da Música sobre ópera. Nessa altura, eu e o José Lourenço criámos o “O que é uma ária?” e sentimos imediatamente que tínhamos muita coisa para inventar em conjunto. Decidimos chamar-lhe Ópera Isto pelo jogo fonético a que se proporciona. O projeto tem apresentado formações diferentes em cada nova criação, para que cada espetáculo tenha para nós o gosto da descoberta e da novidade.
Quais os objetivos iniciais deste projeto?
Este projeto propõe-se a criar espetáculos que de alguma forma se relacionem com a ópera e, ao mesmo tempo, desenvolver outras atividades que possam levar até ao público mais jovem um perfume deste género artístico. Há muitas ideias no ar e outras que ainda nem no ar estão mas que sabemos que cairão sobre nós na altura certa.
As crianças e os jovens são então a principal razão da existência do vosso projeto?
Precisamente. Achamos que está muita coisa por inventar no sentido de atrair ou, pelo menos, familiarizar os públicos mais jovens com este tipo de espetáculo.
É um espaço de criação por excelência. Podemos dizer que também é um espaço de experiências?
Cada vez mais me sinto atraído pelo aspeto criativo que posso empregar no meu trabalho, e o lado experimental não deve estar jamais dissociado da criação. A Ópera Isto é um espaço criativo em todos os sentidos e para todos os artistas que têm colaborado nos nossos projetos. É um espaço de descoberta e um espaço experimental e é isso que vale a pena em tudo isto.
Têm conseguido apoios que permitam levar a companhia pelos palcos do nosso país?
Até agora temo-nos limitado a responder a convites ou a procurar espaços de apresentação para o nosso trabalho. O apoio que temos tido é o da confiança continuada que vamos sentindo da parte de algumas instituições, em particular do Serviço Educativo da Casa da Música, mas também de outras, como a Casa das Artes de Famalicão que, de forma regular, mantém uma estreita colaboração com a companhia.
Há da vossa parte a preocupação de agilizar parcerias com escolas, agrupamentos de escolas e outras instituições de ensino?
Nesta altura ainda não. É provável que o possamos vir a fazer.
Em Portugal estes projetos vivem muito da persistência dos próprios músicos e autores...
Este projeto alimenta-se de uma vontade genuína de o fazer e do espírito criativo que o sustenta em cada nova criação. Acho, ainda assim, que é dos autores e músicos que faz sentido que estes projetos despontem, ainda que surjam como resposta a estímulos do tecido de programadores, como acontece em geral no nosso caso. Porém a identidade do projeto e o desejo de o pôr em prática tem que sair de dentro, neste caso de mim e da Ana Paula Sousa, que temos este projeto no coração desde o primeiro momento.
“A rolha da garrafa do rei d’aonde?” é já o vosso terceiro projeto. Como tem sido a adesão do público a este projeto e aos dois projetos anteriores?
A Rolha da Garrafa do Rei d’Aonde? Foi mais um projeto criado a convite do Serviço Educativo da Casa da Música e o seu formato surgiu na tentativa de desafiar o nosso processo criativo mais comum. O espetáculo foi criado passo-a-passo, procurando explorar o gesto e o silêncio, em detrimento da palavra (exercício exigente para a minha natureza!). Com a Ângela Marques, inicialmente, e depois com o David Lloyd, o espetáculo foi ganhando forma e chegou ao seu formato final. Vive muito da mímica, dos silêncios, das interjeições e da banda sonora de tudo isto, criada pelo violino azul do David. A reação do público surpreende, em particular pelo modo como crianças, muitas vezes de 1º ciclo, conseguem que o silêncio perdure na sala durante segundos a fio, sustendo a respiração na expectativa do que vai acontecer. E depois é uma festa. Um espetáculo festivo e ao mesmo tempo muito íntimo, em formato da câmara. O Alibabá e o Via Verdi, eram espetáculos maiores, com uma loucura também maior e uma energia contagiante para todos.
Muito obrigado por esta partilha sobre a Companhia Ópera Isto. Há já algum novo projeto na calha?
Neste momento estamos ainda em digressão com a Rolha da Garrafa do Rei d’Aonde que passará no dia 7 de janeiro pelo Teatro Almeida Garrett na Póvoa de Varzim. Para breve prometemos novas investidas, ate noutras áreas de ação que não só a performativa. A “Ópera Isto” é, como se dizia há pouco, um espaço criação e de proposta e tem bebido de todos os seus colaboradores e será também deles as cartolas de onde tiraremos os próximos coelhos.
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