Lena d’Água e um mundo de canções aberto pela revolução de abril
«Foi o Robot que nos fez famosos, no ano de 81. Mas foram as canções que gravei depois de sair da Salada de Frutas que consolidaram o meu nome como cantora e artista de palco. Vígaro cá, vígaro lá, Perto de ti, Carrossel, Nuclear não Obrigado, Sempre que o amor me quiser, Demagogia, Terra Mágica, Dou-te um Doce, Beco, são apenas alguns dos admiráveis temas compostos pelo Luís Pedro Fonseca para mim, quase todos gravados com a Banda Atlântida, banda essa que formámos em 81 logo após a nossa saída da outra banda. Esta parceria compositor/cantora é que consolidou o meu nome, muito mais além que o ‘one hit’ da Salada de Frutas».
Muito obrigado por ter aceitado este nosso desafio. Lena d’Água foi a primeira mulher a integrar uma banda de rock em Portugal. Quando olha para trás sente que abriu caminho para que outras mulheres entrassem nos territórios do pop e do rock no nosso país?
O que abriu caminho foi a revolução de abril de 74, pelo menos o meu caminho, pois sem ela eu não teria conhecido o Ramiro Martins, meu futuro marido. Ele estava na Bélgica desde 73 por causa da guerra colonial e voltou em 75, o ano em que nos conhecemos. Ele era o viola-baixo e leader dos Beatnicks. Entrei na banda em 76.
Lá em casa reagiram bem ao facto de ter que “sair cedo para o sound-check” e chegar muito mais tarde depois dos concertos?
Quando comecei nos Beatnicks eu já era uma mulher casada e mãe da Sara. Esse problema nunca se pôs.
A Lena d’Água teve alguma formação musical até esse período em que começa a subir aos palcos?
Eu sou uma autodidata. A paixão pela música, o ouvido e a afinação não se aprendem. Só mais tarde tive aulas com professoras particulares, de piano, pelo gosto de aprender e de canto para ganhar as técnicas vocais que me permitissem cuidar da minha voz para não a estragar.
Quais as principais diferenças que encontra hoje no mundo do espetáculo, mais concretamente no meio musical português?
As estradas e as aparelhagens de som. Mas no básico continuamos a ser saltimbancos a recibos verdes...
As novas plataformas de comunicação vieram facilitar o lançamento de jovens músicos?
Seria melhor perguntar aos jovens músicos, mas suspeito que com os milhões de coisas a acontecer na rede essas facilidades se dissolvam.
O facto de ter concluído o Curso do Magistério Primário trouxe-lhe alguns conhecimentos que tenham sido rentabilizados na sua carreira artística? Os seus trabalhos musicais dirigidos a crianças vieram dessas vivências pedagógicas?
Quis fazer o curso por paixão pelas crianças e pela pedagogia, pois ia ser mãe e queria estar preparada. Ainda nem sabia o que o futuro me reservava em relação à música. Em 1974 depois de abril não havia aulas na minha faculdade, nem professores, nem nada, e eu não quis ficar por ali a jogar às cartas à espera da restruturação do ensino, como houve quem tenha feito. Disse adeus à Sociologia e em 75 entrei numa escola onde se estudava Pedagogia e havia aulas e professores. Acabei o curso em 78.
O projeto Salada de Frutas foi um dos mais importantes para a sua projeção enquanto cantora? Todos nos lembramos do sucesso do “Robot”...
Foi o Robot que nos fez famosos, no ano de 81. Mas foram as canções que gravei depois de sair da Salada de Frutas que consolidaram o meu nome como cantora e artista de palco. Vígaro cá, vígaro lá, Perto de ti, Carrossel, Nuclear não Obrigado, Sempre que o amor me quiser, Demagogia, Terra Mágica, Dou-te um Doce, Beco, são apenas alguns dos admiráveis temas compostos pelo Luís Pedro Fonseca para mim, quase todos gravados com a Banda Atlântida, banda essa que formámos em 81 logo após a nossa saída da outra banda. Esta parceria compositor/cantora é que consolidou o meu nome, muito mais além que o ‘one hit’ da Salada de Frutas.
“Dou-te um doce” ainda hoje é interpretado na voz de outros artistas e com diferentes roupagens... Este também é um tema obrigatório nos seus concertos atualmente?
Sim, claro, o público gosta de cantar e esse tema é sempre muito esperado e muito aplaudido.
É verdade que este foi o primeiro videoclip português a passar na Europa TV?
Sim, em 1986.
Quando gravou “Estou Além”, de António Variações, estava consciente de que este tema viria a ter o impacto que teve?
Não. Nós nunca sabemos qual vai ser a reação do público às canções que gravamos.
Cantou Variações, Elis Regina... Estes eram alguns dos nomes que tinha como referência? Quais as suas principais influências musicais?
Variações foi meu colega de editora e amigo. Elis Regina foi uma referência, como foi a Billie Holiday, os Pink Floyd, os Yes e, antes de todos os outros, os Beatles.
A Lena d’Água é sem dúvida uma voz que sempre entrou pela casa dos portugueses. Cantou pop, cantou rock, embalou milhares de crianças... Sente que, de alguma forma merecia ter outro reconhecimento por parte do público e até das autoridades portuguesas?
O púbico que me vai ver sabe o que eu sou, o que eu canto e o que eu transmito quando canto. O resto ultrapassa-me.
O jazz é uma paixão?
Já ali atrás referi a Billie Holiday como referência. O Hot Clube foi o espaço em Lisboa onde desde 1977 vi centenas de excelentes músicos de jazz atuarem. Só em 99 lá cantei pela primeira vez (repertório da Billie) e em 2005 foi lá que gravei ao vivo o meu disco «Sempre», editado em 2007.
Quando em 2013 grava com a banda “Rock’n’Roll Station” mostra que o rock é algo que não se separa da Helena. Concorda?
É uma questão de feitio, compreendes...
Muito obrigado por este tempo que dedicou aos nossos leitores. Há novas datas para breve?
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