A clarinetista Catarina Rebelo e o seu percurso passados em revista

Catarina Rebelo, Clarinetista

Admira muito todos os clarinetistas portugueses e afirma que temos uma escola de clarinete em Portugal de grande qualidade. A clarinetista Catarina Rebelo em entrevista ao Portal do Conhecimento Musical falou do seu percurso formativo e de como teve que ser persistente na perseguição do seu sonho. É uma fã incondicional dos compositores portugueses e tem como objetivo gravar um CD com composições originais, e para diferentes formações. Quanto aos momentos mais relevantes da sua carreira referiu: «Todos os concertos enquanto solista são realmente marcantes. O Concerto para Clarinete e Orquestra de Crussel e Concerto para clarinete e orquestra de Jean-Françaix foram os que mais me marcaram. A experiência de se tocar a solo com orquestra é realmente única».

Muito obrigado por ter aceitado este nosso desafio. Como foi a sua aprendizagem musical até aos 14 anos de idade, altura em que entrou para a Academia de Música de Espinho?
Muito obrigado eu pelo vosso convite. Até aos 14 anos a minha aprendizagem musical foi apenas a de educação musical no Colégio Liceal de Lamas e aulas particulares de piano. Só por volta dos 14 anos e meio é que conheci o clarinete, numa escola não oficial na minha terra natal – Canedo, Santa Maria da Feira. Nessa altura, experimentei o clarinete e foi amor à primeira e única vista, como costumo dizer. Na mesma altura ingressei na Banda Musical de Lever, onde conheci pessoas que estudavam música no ensino superior e que me falaram da Escola Profissional de Música de Espinho. Nessa altura decidi que era o que queria fazer na minha vida, estudar clarinete e ser clarinetista. Mas nem tudo foi assim tão fácil. Concorri a primeira vez sem bases nenhumas à Escola Profissional de Música de Espinho e não entrei, como seria previsível. Foi nessa altura que me aconselharam a inscrever-me na Academia de Música de Espinho, e aí iniciei os meus estudos musicais.

Catarina Rebelo, ClarineteOs Professores Luís Carvalho e Manuel Moura foram peças fundamentais para que seguisse uma carreira profissional ligada à música, ou esse era já um objetivo bem vincado desde a sua infância?
Na minha infância pouco contato tive com a música. Este objetivo tão vincado surgiu apenas na adolescência. O professor Luís Carvalho foi um dos professores mais marcantes na minha formação musical. Ele foi o meu primeiro professor oficial de clarinete, na altura estava ele a terminar a sua licenciatura na ESMAE, e foi um ano muito “atribulado”. No final do ano, tentei novamente entrar na escola profissional, e mais uma vez não entrei. Prossegui os meus estudos na Academia de Música de Espinho, com o professor Manuel Moura, alguém que me transmitiu alguma serenidade e me ensinou a estudar para continuar a prosseguir os meus estudos. Lembro-me que nesse ano estava no 11º ano de Informática e queria desistir do Colégio, e os meus pais não permitiram. Eu passava quase o tempo todo na Academia de Música de Espinho, e já me sentia em casa. Já conhecia como funcionava o curso profissional de instrumentista, e tinha a certeza absoluta de que era isso que queria estudar. E assim foi, pela terceira vez concorri à Escola Profissional de Música de Espinho e fui aceite. Depois disso, ninguém mais me parou. (risos)

Mais tarde estudou com o professor Luís Silva. Foi sempre absorvendo as diferentes escolas do clarinete na sua praxis? O que a levou a frequentar a ESMAE, já que já tinha concluído a sua licenciatura na Universidade de Aveiro?
Sim, é verdade, prossegui os meus estudos na Universidade de Aveiro com o professor Luís Silva. Mas a minha necessidade de continuar a absorver diferentes ideias levou-me constantemente a procurar novos desafios. A meio do primeiro ano da licenciatura tive a oportunidade de tocar a solo o Concerto op. 5 para clarinete e orquestra – Crussel, com a Orquestra de Jovens de Santa Maria da Feira e no final desse ano, cheguei à meia-final no prémio jovens músicos, e esses foram alguns dos fatores que me levaram a procurar novos desafios. Lembro-me na altura das palavras do professor António Saiote e Luís Carvalho, de me incentivarem a continuar os meus estudos, e lembro-me que na mesma altura tive a primeira masterclass, cá em Portugal, com o professor Josep Fuster, que me ajudou a preparar para a pré-eliminatória do prémio jovens músicos.

A frequência na ESMAE foi em Curso Livre, com a professora Iva Barbosa, outra das maravilhosas pessoas com quem tive a oportunidade de trabalhar e com quem aprendi muito. Todos eles foram partes integrantes de um grande puzzle para eu conseguir ser quem sou.

O que a motivou a optar pela Escola Superior de Música de Catalunha (Barcelona) para realizar a sua pós-graduação em clarinete? O desejo de trabalhar com Josep Fuster foi uma das razões?
A ESMUC surge após o término da Licenciatura, e na altura em que já lecionava na Escola de Artes do Alentejo, permitindo-me trabalhar e ir ter aulas aos fins-de-semana, de três em três semanas, a Barcelona. Josep Fuster foi a principal razão desta opção, aliada à minha paixão por Barcelona. Foram experiências e aprendizagens muito marcantes. Além das aulas, tive oportunidade de assistir a concertos ao vivo, que até então não me teria sido possível. Barcelona e a ESMUC eram outra casa para mim. Creio que a minha facilidade de me adaptar sempre foi enorme e isso notava-se sempre em cada sítio que chegava. Mais tarde, ainda tive aulas em Évora com o professor Etienne Lamaison que me incentivou a explorar novas linguagens musicais e que me dizia isso mesmo, que eu tinha a capacidade de recomeçar em qualquer lado. Na altura, incentivou-me a ir trabalhar para o Brasil (este desafio ainda não realizei).

Catarina Rebelo, ClarineteAo lermos a sua biografia ficamos com a ideia de que existe na Catarina Rebelo uma enorme vontade de absorver o maior número de abordagens relativamente ao seu instrumento, o clarinete. Foi isso que a moveu ao longo dos anos a participar em tantos e tão diversos eventos formativos?
Sim, sem dúvida alguma. Continuo a estudar e a sentir a necessidade de estudar e conhecer novas abordagens. Creio que só assim consegui e consigo criar a minha própria identidade musical.

Quais os nomes que mais a marcaram neste âmbito das masterclasses e dos estágios de orquestra?
Houve vários professores que me marcaram bastante, em diferentes alturas da minha formação, mas posso salientar os professores: António Saiote, Josep Fuster e Thomas Friedli.

A minha primeira masterclass enquanto aluna já da Escola Profissional de Música de Espinho foi com o professor António Saiote, em Castelo de Paiva, em 1999, e apesar de já ter feito outras masterclasses antes, essa teve um papel preponderante na minha vida. O professor Josep Fuster foi aquele professor que eu senti que apostou em mim, mesmo a 200%. Foi uma experiência inesquecível e estou-lhe imensamente grata por todos seus ensinamentos, e também pelo ser humano maravilhoso que é. O professor Thomas Friedli, na altura do final da minha licenciatura, também pelo ser humano que foi (faleceu pouco depois) e por me ter sugerido dicas que nunca esqueci.

A nível de estágios de orquestra saliento o meu primeiro estágio com orquestra sinfónica (1999) no final do meu primeiro ano do curso secundário de instrumentista, na Escola Profissional de Música de Espinho, com a Orquestra AproArte, sob a direção do maestro Ernest Schelle, e pelo programa em si (Pássaro de Fogo – Stravinski e Préludios – Liszt).

Tive a oportunidade de tocar sempre em orquestra sinfónica e banda sinfónica que me proporcionou uma grande aprendizagem, seja a nível camerístico, seja a nível de trabalho de equipa/humano, onde conheci e trabalhei com muitos maestros e solistas.

A sua carreira tem-lhe proporcionado a oportunidade de tocar ao lado de grandes nomes da música. Pode destacar alguns?
Jeanjacques Kantorov (violino).

Catarina Rebelo, ClarineteEm 2001 conquistou o 3º Prémio Jovens Músicos da RDP, na categoria de Música de Câmara. Destaca outros prémios que a tenham marcado no sentido de reforçar a ideia de que o esforço e dedicação que empreendia estavam a valer a pena?
Todos foram fulcrais na minha aprendizagem, desde os concursos na modalidade solista aos concursos de música de câmara e aos de banda sinfónica. Posso destacar alguns:
- Certâmen Internacional de Bandas de Música de Valência 2º Prémio (2002, 2ª secção), 3º Prémio na 1ª secção no Certâmen Internacional de Bandas de Valência (2005), 1º Prémio na Secção Sinfónica em Altea (Espanha) com a Banda Sinfónica de Jovens de Santa Maria da Feira.
- 3º Prémio (2006) e 2º Prémio (2007) em clarinete do Concurso de Música das “Terras de La Sallete”; semi-final do Prémio Jovens Músicos RDP 2007, na modalidade solista Clarinete; participação no 4º Concurso Internacional de Quintetos de Sopros Henri Tomasi (França, Fevereiro de 2007), com o quinteto de sopros Quasimprovisando; 1º Prémio na Secção Sinfónica em Sénia (Espanha, 2008) com a Banda Sinfónica Portuguesa.

Recentemente abraçou um novo desafio que se prende com a coordenação artística da Orquestra e Banda Sinfónica de Jovens de Santa Maria da Feira. Qual a marca que pretende deixar neste projeto?
O projeto Orquestra e Banda Sinfónica de Jovens de Santa Maria da Feira foi o projeto que me viu crescer, ao longo destes quase 20 anos. Este desafio surgiu da necessidade de substituir a coordenadora oficial por ter assumido outros projetos. E a escolha recaiu em mim por ser uma “filha da casa”. É um desafio enorme passar a ver o projeto de outra perspetiva. Não quero deixar de ser músico ativo neste projeto apenas quero dar o melhor contributo possível para o seu funcionamento. É um dos projetos mais antigos deste país, e que contribuiu imenso para a formação de muitos músicos do nosso país, que se encontram quer em orquestras nacionais quer internacionais. Detentora de vários prémios internacionais, creio que por vezes ficou esquecida pelos meios de comunicação. Aliás, a 9 de setembro teremos a Gala do seu 20º aniversário, num palco que viu nascer este projeto – Auditório do Cine-teatro António Lamoso, sob a direção musical do maestro Paulo Martins, que reunirá músicos de diferentes gerações, músicos profissionais e amadores. Ficam desde já convidados a juntarem-se a nós.

Catarina Rebelo, ClarineteMas a sua carreira divide-se por inúmeras atividades no âmbito da docência e da performance. Quais os projetos em que está envolvida atualmente?
O Festival Internacional de Clarinete de Braga é um dos meus grandes projetos, assim como Ensemble de Clarinetes do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga.

Para além destas atividades mais regulares, ainda é convidada para ministrar masterclasses. É difícil organizar a sua agenda?
Diria que com muita organização e empenho ainda é possível realizar muito mais atividades.

Dos concertos que já realizou enquanto solista, há algum, ou alguns, que a tenham marcado mais?
Todos os concertos enquanto solista são realmente marcantes. O Concerto para Clarinete e Orquestra de Crussel e Concerto para clarinete e orquestra de Jean-Françaix foram os que mais me marcaram. A experiência de se tocar a solo com orquestra é realmente única.

Quando começou a ser procurada pelas marcas de instrumentos para que o seu nome ficasse associado às mesmas?
Por volta de 2008, após o término da minha licenciatura em Aveiro, e quando fui para a ESMUC, em Barcelona.

O facto de estar associada a uma ou duas marcas retira-lhe alguma liberdade na escolha do(s) seu(s) instrumento(s)?
Não, nada. Pelo contrário, estou associada a essas marcas porque realmente gosto e identifico-me com o material. Não é de forma alguma limitador para procurar novos materiais ou associar-me a outras marcas.

Admira particularmente algum clarinetista?
Admiro muito todos os clarinetistas portugueses. Creio que podemos afirmar que temos uma escola de clarinete em Portugal de grande qualidade e isso tem sido demonstrado por todo o mundo.

Enquanto intérprete tem preferência por algum compositor?
Mais uma vez gostaria de valorizar o que é nacional, os compositores portugueses.

Muito obrigado pelo tempo que dedicou aos nossos leitores. Tem projetos novos para lançar em breve? Um CD da Catarina Rebelo é um objetivo?
Sim é um dos muitos objetivos. Gostaria muito de gravar um Cd com composições originais, e para diferentes formações.

A clarinetista Catarina Rebelo e o seu percurso passados em revista

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