André Carvalho. O contrabaixo numa viagem entre Lisboa e Nova Iorque.

André Carvalho

André Carvalho dará início a uma tournée em Portugal no próximo dia 21 de julho na Casa da Música, no Porto. Colocámos algumas questões a este contrabaixista português que só aos 21 anos descobriu o verdadeiro chamamento da música e que desde aí protagonizou um percurso académico e performativo notável. A digressão por terras lusas conta com o apoio da GDA e passará pelas cidades do Porto, Viseu, Leiria, Coimbra e Lisboa. «Ultimamente só tenho tocado por Nova Iorque. O meu grupo tem tido apresentações regulares tocando música minha que têm servido para experimentar coisas diferentes. Estou muito contente com o rumo da música e julgo que o grupo tem evoluído bastante desde o momento em que comecei a tocar pelos Estados Unidos. A música também está um pouco diferente do meu disco anterior».

O que o levou a rumar até Nova Iorque? Foi algo relacionado com as oportunidades?
Há cerca de 2 anos e meio decidi que queria fazer mestrado em Jazz Performance, aprofundar os meus conhecimentos e ter contacto com uma realidade diferente da portuguesa. Pesquisei várias hipóteses e decidi concorrer a várias universidades em Nova Iorque. As razões são bastante óbvias, dado que Nova Iorque é a capital do Jazz, onde vivem e tocam imensos músicos. Queria ter a oportunidade de ver tocar alguns dos grandes músicos de Jazz, numa das cidades onde este estilo musical floresceu. Queria poder usufruir de todos os benefícios de estar num meio muito rico e intenso, ter algumas aulas com músicos que sempre admirei e tocar com músicos que fizessem parte deste meio. Além disso, Nova Iorque é uma cidade culturalmente muito rica, não só em termos musicais como em qualquer outra arte.

Por isso, escolhi então a Manhattan School of Music por me parecer ter um programa exigente e interessante. Estudei lá 2 anos e acabei recentemente o programa de mestrado, sendo bolseiro da Fulbright.

André CarvalhoComo foi o seu percurso formativo? Quando se começou a interessar pelo mundo musical?
Comecei a tocar e estudar música muito tarde. Tinha 21 anos e na altura estava a estudar algo completamente diferente, estava a estudar engenharia informática. Sei que sempre me interessei por música mas nunca tinha estudado ou sequer pegado num contrabaixo. Mais ou menos por essa altura comecei a ir a concertos de Jazz e a ouvir e procurar discos de Jazz. Comecei por dar uns toques no baixo eléctrico mas na música que ouvia e ia ver nunca havia baixo elétrico mas sim contrabaixo, e eu adorava. Por isso decidi que esse seria o meu instrumento. Inscrevi-me na Escola de Jazz do Hot Clube de Portugal onde iniciei os estudos em Jazz e, ao mesmo tempo, inscrevi-me na Academia de Amadores de Música onde estudei contrabaixo Clássico com o Fernando Flores, professor que foi essencial no meu percurso musical.
Após alguns anos em Lisboa a estudar nestas duas escolas onde muito aprendi, decidi que queria melhorar os meus conhecimentos na área Clássica e fui estudar para Viena, onde vivi por 4 anos e tirei a minha licenciatura.
Voltei depois para Lisboa por dois anos, onde comecei a dar aulas, a tocar e a ter algumas aulas com o contrabaixista Demian Cabaud que foram também essenciais e inspiradoras, abrindo caminho para a fase que se iniciou há 2 anos, com a minha mudança para Nova Iorque.
Em Nova Iorque tirei o mestrado na Manhattan School of Music, onde estudei com David Liebman, Phil Markowitz, Jim McNelly e Jay Anderson entre outros. Paralelamente tenho tido aulas particulares com vários músicos residentes, nomeadamente com Ari Hoenig e Ben Street.

Virá entretanto fazer uma digressão por terras lusas. Pode falar-nos um pouco desta tournée que se aproxima? Quais as cidades que visitará?
Estarei em Portugal de meados de julho a meados de agosto onde tenho uma tournée organizada com o meu grupo. Já em Portugal tentava tocar regularmente com o meu grupo, onde toco as minhas composições, por isso quando me mudei para os Estados Unidos quis continuar a fazê-lo.
Fui marcando concertos mais ou menos regulares em que fui tentando experimentar várias formações, abordagens e temas. À medida que os concertos foram acontecendo e conhecendo também mais músicos, a música foi-se consolidando e o repertório que estarei a apresentar em Portugal será o que tenho tocado ultimamente e eventualmente algumas composições novas.

A tournée passa pela Casa da Música (21/7, Porto), Festival de Jazz de Viseu (24/7, Viseu), Teatro o Nariz (28/7, Leiria), Quebra-Costas (29/7 e 30/7, Coimbra), Café Tati (3/8, Lisboa) e terminará no Hot Clube de Portugal (4/8, 5/8 e 6/8, Lisboa).
A digressão terá o apoio da Fundação GDA.

André Carvalho

Quais os músicos que o acompanharão nestes espetáculos?
Vou estar a tocar com vários músicos amigos com quem gosto muito de tocar e com quem sinto que tenho uma afinidade musical muito grande. Alguns deles têm tocado comigo em Nova Iorque, com outros toquei no passado enquanto residi em Portugal.
O grupo é um quinteto com bateria, contrabaixo, guitarra e dois saxofones. Terei sempre esta formação, sendo que nalguns concertos terei uma ou outra mudança em termos de músicos.
Na bateria estará o Luís Candeias, na guitarra o André Matos, nos saxofones terei o Gianni Gagliardi, João Pedro Brandão e Eitan Gofman.

Nem sempre toca como líder nos seus projetos... Quais os projetos que tem acompanhado?
Ultimamente, por Nova Iorque, tenho tocado bastante em diferentes formações, sendo que grande parte delas são pontuais, ou seja concertos com músicos locais e também jam sessions. Tenho alguns outros projetos que colidero com alguns músicos amigos que julgo que terão alguma visibilidade no futuro. Alguns destes projetos iniciaram-se quando estava na Manhattan School of Music com colegas meus.

Vencer o prémio "Carlos Paredes" em 2012 foi algo muito importante na sua carreira? Trouxe-lhe uma maior visibilidade?
Foi um momento importante, sem dúvida. Julgo que deu visibilidade e reconhecimento ao meu primeiro disco, ao meu trabalho e aos músicos que o gravaram e tocaram em concerto. Fiquei obviamente muito feliz por o ter recebido e orgulhoso no meu primeiro disco.

O facto de ter vindo a conquistar alguns apoios da GDA, do Instituto Camões e do Ministério da Cultura pode ser encarado como um fator de credibilidade relativamente ao seu trabalho?
Espero que sim! Foi sempre óptimo e essencial ter conseguido ter esses apoios nos vários momentos em que os obtive e julgo que abriram algumas portas para que outras coisas pudessem acontecer.

André CarvalhoO seu trabalho tem sido bem acolhido fora de Portugal? Quais os países em que tem atuado?
Ultimamente só tenho tocado por Nova Iorque. O meu grupo tem tido apresentações regulares tocando música minha que têm servido para experimentar coisas diferentes. Estou muito contente com o rumo da música e julgo que o grupo tem evoluído bastante desde o momento em que comecei a tocar pelos Estados Unidos. A música também está um pouco diferente do meu disco anterior. Mas voltando à questão inicial, julgo que temos tido bom feedback entre as pessoas que nos têm vindo ouvir.

No passado toquei em vários países nomeadamente Alemanha, Bélgica, Áustria, Croácia, Eslovénia, Sérvia, Egipto e Roménia, com vários projetos diferentes.

Os músicos portugueses são bem vistos lá fora? Qual tem sido a sua perceção ao longo de tantas viagens?
Julgo que sim, há vários músicos portugueses com projetos muito interessantes e que começam a ter algum reconhecimento no estrangeiro. Há também cada vez mais músicos portugueses, mais escolas de Jazz, mais cursos de Jazz, mais interesse por este estilo musical e mais pessoas a procurarem mais no estrangeiro. O nível tem subido imenso nos últimos anos.

Muito obrigado por partilhar com os nossos leitores um pouco da sua vida e do seu percurso. Depois desta tournée por Portugal virão novos projetos? Já está a tirar algo da gaveta?
Para já queria gravar a música que tenho escrito mais recentemente com o meu grupo, possivelmente cá em Nova Iorque, no fim deste ano ou no princípio do próximo. Depois conseguir promovê-lo ao máximo. Este já é por si um projeto que requer imenso tempo e atenção mas quero que os outros projetos que tenho em paralelo também floresçam, muitos deles com vários músicos também residentes em Nova Iorque e com quem tenho vindo a estabelecer uma relação.

www.andrecarvalhobass.com

André Carvalho. O contrabaixo numa viagem entre Lisboa e Nova Iorque.

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