Grutera, a guitarra, Sur Lie e uma paragem por tempo indefinido.
A entrevista a Guilherme Efe surge numa altura em que irá protagonizar o último concerto antes de uma paragem. Na data em que nos concedeu esta entrevista preparava-se para fazer um concerto no Bussaco e revelou: «Depois vou para o Bons Sons dar o último concerto, antes de fazer uma paragem por tempo indefinido». Segundo Grutera, Portugal não tem hoje espaço para projetos instrumentais como aquele que nos apresenta. «O país é pequeno e os principais meios de difusão de cultura (TVs, rádios, etc.) não estão a fazer um bom trabalho, de todo. Não existe diversificação nos estilos, nos artistas ou nas músicas que passam. Assistimos a uma estupidificação em massa, principalmente em horário nobre. Pessoalmente, não sou defensor ou crítico de nenhum estilo, sou defensor da diversificação. Isso não acontece em Portugal. Felizmente a internet veio libertar um pouco mais o público para poder decidir o que ouvir e descobrir coisas novas, porque se estivermos à espera que os meios de difusão de cultura façam o seu trabalho, morremos ignorantes, como se pretende».
Muito obrigado por este tempo que aceitou dedicar aos nossos leitores. Como tem sido acolhido o trabalho "Sur lie"?
As reviews têm sido boas e isso é bom sinal. É sempre um nicho que está mais atento ao que se faz em música instrumental. Mas nota-se um aumento de interesse ao longo dos últimos anos pela parte das pessoas relativamente, não só a Grutera, como em relação à música instrumental em geral.
Tem sido fácil arranjar locais que enquadrem este conceito que nos decidiu apresentar?
Sim, as pessoas com quem trabalho, conseguiram sítios bons para apresentar o disco e a maior parte dos sítios a que fui com este trabalho foram através de convites. Claro que o país é muito pequeno e as salas com condições não são muitas, acabas por repetir algumas e chegar pela primeira vez a outras, o que é entusiasmante.
Do estúdio para um mosteiro e daí para o Túnel das Barricas da Herdade do Esporão. O que procurava construir com este percurso? A música que nos traz, procura um espaço que ainda não foi encontrado ou, por outro lado, este percurso representa a sua música a ganhar vida própria?
Não sei muito bem. Tento que a guitarra tenha identidade e que isso esteja relacionado com a acústica dos espaços. Para mim também é importante que exista um conceito por detrás dos discos, e gosto que isso esteja relacionado com os espaços onde gravamos. É como se o espaço e a acústica fosse a banda que acompanha o que vou fazendo na guitarra.
O que diferencia este terceiro disco dos anteriores?
Nota-se um envelhecimento da minha parte no que diz respeito a composição e interpretação, penso eu. Para além da acústica e da identidade da guitarra também ser completamente diferente dos outros dois. É um disco mais denso e maduro.
A guitarra ganhou uma nova vida nas suas mãos. Isto resulta da sua original abordagem ou de uma permeabilidade a várias interpretações que foi ouvindo e que em si se mesclam?
Eu oiço muitos estilos de música diferente, exceto música eletrónica. Ainda assim, sempre tive mais ligado ao metal. Acho que é daí que vem alguma disciplina em praticar muitas horas, bem como alguma direção que levo quando estou a tocar.
Como tem sido recebida pelo público a sua abordagem?
Nunca me questiono muito sobre isso. As pessoas que gostam abordam, as que não gostam não te dizem nada. Por isso ficas sempre com uma perceção um pouco desvirtuada. Mas acho que cada vez mais pessoas têm tido o interesse de conhecer e seguir o que vou fazendo. Pelo menos tenho ideia que existe alguma base que se interessa.
Onde poderão os nossos leitores encontrá-lo em breve?
O próximo é no Convento do Buçaco, no dia 9 de julho. Depois vou para o Bons Sons dar o último concerto, antes de fazer uma paragem por tempo indefinido.
Portugal tem hoje espaço para projetos instrumentais como aquele que nos apresenta? Ambiciona conquistar outras paragens em breve?
Depende do que ambicionares. Para teres alguma dignidade na música, penso que não. O país é pequeno e os principais meios de difusão de cultura (TVs, rádios, etc.) não estão a fazer um bom trabalho, de todo. Não existe diversificação nos estilos, nos artistas ou nas músicas que passam. Assistimos a uma estupidificação em massa, principalmente em horário nobre. Pessoalmente, não sou defensor ou crítico de nenhum estilo, sou defensor da diversificação. Isso não acontece em Portugal. Felizmente a internet veio libertar um pouco mais o público para poder decidir o que ouvir e descobrir coisas novas, porque se estivermos à espera que os meios de difusão de cultura façam o seu trabalho, morremos ignorantes, como se pretende.
Muito obrigado por este tempo que dedicou aos nossos leitores. Já pensou no local em que gostaria de gravar o seu próximo disco?
Obrigado pelo convite. Ainda não pensei nisso, mas penso que a próxima coisa que gravar será com mais pessoas.
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