The Michael Lauren All Stars. Jazz protagonizado por um grande elenco.
Once Upon a Time in Portugal é o novo disco do projeto de Michael Lauren. É um álbum que reflete muito daquilo que o músico viveu e vive. «Este projeto visa trazer ao público português a minha atitude nova-iorquina em relação à forma de fazer música. Para mim, a música é paixão, inteligência, alegria, beleza, elegância, coesão, partilha, exploração, entusiamo, honestidade, emotividade e dinâmica. Quero que esta música para além de groovar, seja swingando ou em funky, seja divertida de ouvir. É fantástico poder trabalhar com músicos que querem partilhar a minha visão musical».
The Michael Lauren All Stars é já uma ideia antiga...
Quando aceitei o cargo de professor na ESMAE, no outono de 2003, e deixei Nova Iorque, sabia que seria importante para mim encontrar um grupo de músicos que quisessem partilhar as suas ideias musicais e tocar a música que adoro tocar. Assim, a minha banda All Stars foi criada em 2007 para um concerto no Bflat em Matosinhos. Desde então, os All Stars atuaram no Jazz 'n' Gaia de 2008, no Fim de Semana de Percussão do Conservatório de Vila Real de 2008, no Hot Club, no Onda Jazz, no Alvalade Jazz Festival de 2012 e na Fábrica Braço de Prata. Apesar de o núcleo da banda se manter consistente, o número de integrantes e a instrumentação têm sofrido alterações consoante as minhas necessidades musicais e a disponibilidade de cada músico. Temos atuado como trio, quarteto, quinteto, sexteto e septeto. Tive sempre em mente a ideia de gravar, mas esperei até sentir que tinha chegado a altura certa para o fazer. Quando finalmente tomei esta decisão, decidi que eram estes os músicos com queria gravar.
O disco Once Upon a Time in Portugal tem sido muito bem recebido pela crítica. O processo de composição e arranjos dos temas passou exclusivamente pelo Michael Lauren ou a banda teve uma palavra a dizer na estruturação das ideias?
Logo que decidi com quem queria gravar, perguntei a cada um dos músicos se gostariam de compor uma faixa para o álbum. Disse-lhes o que procurava, defini os parâmetros e aguardei pelas suas músicas acabadas. Foi com gratidão que constatei que criaram excelentes faixas e arranjos bem pensados. Também decidi que queria fazer o álbum da forma como costumava gravar em Nova Iorque, isto é, sem ensaios, bastando aparecer na sessão de gravação, olhar para a música e discuti-la, começar a tocá-la uma primeira vez, fazer as alterações necessárias e depois gravar. A música gravada desta forma é imediata, honesta e “no limite”. Queria fazer um álbum de jazz compacto, alegre e acessível, um álbum enérgico, com melodias fortes, solos inspirados e com muito swinging. Também queria solos muito curtos para separar cada faixa e um motivo sonoro wind chimes que surgisse ao longo do CD. Considerava que, com estes complementos, o som do álbum seria algo novo e único. Sendo o produtor, todas as decisões finais foram exclusivamente minhas.
Once Upon a Time in Portugal é uma homenagem ao país que o tem acolhido nestes últimos anos? Encontrou neste país e nestes músicos algo de diferente que o acabou por prender por cá?
A nível musical nada é muito diferente, exceto o facto de atuar e gravar muito menos do que em Nova Iorque. A excelência é excelência, independentemente do local. Tenho tido muita sorte por poder colaborar com tantos artistas experientes e de mente aberta. Claro que o facto de lecionar na ESMAE tornou tudo isto muito mais fácil. Gosto muito de viver em Portugal. Há algo melhor do que ter ao mesmo tempo sol, ótima comida, surf, gente simpática, um ambiente pacífico e a oportunidade de contribuir para a comunidade? Se há muitas diferenças em relação a Nova Iorque? Claro que sim!
Carlos Barretto, Diogo Vida, Hugo Alves, Jeffery Davis, José Menezes e Nuno Ferreira são os músicos que gravaram este disco. Coloca a possibilidade de vir a incluir mais músicos no projeto The Michael Lauren All Stars?
Enquanto assim o desejarem, estes músicos serão a minha primeira escolha. Todos eles são músicos, compositores e, acima de tudo, seres humanos maravilhosos. Seria fantástico se o Carlos contribuísse com uma música para o próximo álbum. É um magnífico compositor. Claro que existe sempre a possibilidade de eu pedir a contribuição de outros compositores e, se sentir que a sua presença será uma mais-valia para a música, convidarei outros músicos para gravarem comigo. Quero que os meus álbuns evidenciem a profundidade da comunidade musical portuguesa.
Em junho de 2015 deu-nos uma entrevista em que dizia: «A música é o que eu sou, e não apenas o que faço». The Michael Lauren All Stars é um projeto muito marcado pela sua personalidade?
Sem dúvida. Este projeto visa trazer ao público português a minha atitude nova-iorquina em relação à forma de fazer música. Para mim, a música é paixão, inteligência, alegria, beleza, elegância, coesão, partilha, exploração, entusiamo, honestidade, emotividade e dinâmica. Quero que esta música para além de groovar, seja swingando ou em funky, seja divertida de ouvir. É fantástico poder trabalhar com músicos que querem partilhar a minha visão musical.
Já há concertos marcados para apresentar este disco? Não deve ser fácil conciliar as agendas num grupo em que os músicos são tão requisitados...
Sim. Temos um concerto no dia 9 de julho no Porto, onde vamos encerrar o “Festival ESMAE Rampa Jazz”. Vamos também encerrar o festival “Out Jazz”, em Lisboa, no dia 18 de setembro e temos concertos marcados para os dias 9, 10 e 11 de janeiro de 2017 no Hot Club. Claro que espero que sejam marcadas mais datas ao longo do ano. Como líder de bandas experiente, não me preocupo com conflitos entre as agendas dos músicos até ser confrontado com o problema. Criei originalmente os All Stars tendo consciência de que nem todos os músicos estariam sempre disponíveis. De facto, tenho uma lista de primeiras opções com grandes músicos que podem fazer os concertos, caso seja necessário. Claro que o som será diferente, mas a qualidade e a atitude em relação à música será a mesma. É isso que me importa. É essencial trabalhar com músicos que compreendem a música que estão a tocar. O que se pretende é que eles contribuam com a sua sonoridade para a música.
Pensa que este disco poderá ser inspirador também para os seus alunos?
Espero sinceramente que sim. É sempre ótimo quando os meus alunos aprendem algo com os meus álbuns. É importante que entrem nas aulas com energia e entusiasmo. Se ouvir este álbum contribui para isso, fico muito satisfeito. Espero também que este álbum os ajude a continuar a refletir sobre as múltiplas abordagens à forma de tocar jazz e sobre como utilizar ideias do passado sem deixar de soar moderno. Acredito que a música deve respirar, deve ter espaço e que o coletivo é tão importante como o individual, por vezes mais importante até. Espero que os meus alunos reflitam sobre estes conceitos e que sejam capazes de os ouvir no álbum.
Muito obrigado por este tempo que nos dedicou. Depois de ter gravado este trabalho, ficou com vontade de começar a pensar já no disco seguinte?
Certamente que sim. Apesar de ainda não ter finalizado completamente o conceito estou inclinado a incluir no próximo álbum algumas faixas com um “Boogaloo feel” do final dos anos 60, bem como alguns shuffles e uma ou duas faixas vocais. Claro que haveria também algumas faixas de “hard swinging”. Creio que este álbum seria uma reflexão mais diversificada da música que adoro tocar.
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