Os Monda trazem uma vida nova para o Cante Alentejano
Os Monda, em entrevista, falam-nos do disco homónimo. «Este foi um disco de muitas simbioses. E para além disso, pensamos ser um disco em que os astros se alinharam a nosso favor. Astros e estrelas, grandes estrelas da música nacional que, desde o primeiro momento, acreditaram no nosso projeto e disseram sim à nossa música. Para além da Katia Guerreiro e do Rui Veloso, estrelas maiores do panorama artístico nacional. Tivemos muitos amigos, e também eles grandes músicos, a participarem no disco e ajudarem-nos a construir e consolidar a nossa ideia inicial. Desde logo pelo nome que assina a produção do disco, Ruben Alves, pianista e compositor de grande talento, Tiago Oliveira, guitarrista e fundador dos Polo Norte, Mário Caeiro, João Ferreira, Pedro Vidal e o Grupo de Cantadores de Portel. Estamos certos de que o contributo e a disponibilidade que emprestaram ao disco foram fundamentais para que o mesmo possa ter sucesso entre o público».
Os Monda assumem-se como um projeto que faz uma nova abordagem ao Cante Alentejano. Não consideram arriscada essa opção? Como tem sido encarada a música que fazem por aqueles que veem no Cante uma forma de preservação da cultura popular?
O Cante é do Alentejo, de todos aqueles que ao longo de gerações criaram através da sabedoria popular um património riquíssimo e altamente nobre que percorre a maior região do país, desde o Cante a Vozes mais comum no Baixo Alentejo até às “Sais” de Redondo ou de Campo Maior, fazendo tudo isso também parte da nossa cultura nacional neste momento. Para além disso é música, e como tal não é uma arte estática e sem evoluções. Nunca pretendemos substituir ou adulterar nada nem ninguém, apenas trazer para o panorama nacional e internacional uma nova sonoridade que debruça sobre o cante. A essência do cante está na alma e no ambiente onde se recria e não nas vozes ou nos instrumentos que compõem a sua performance.
Se tiverem que se auto catalogar, não hesitam em colocar-se ao lado desta nova vaga ligada à World Music?
Sem dúvida. Nós dizemos, em tom de brincadeira, que este é um cante tradicional contemporâneo, assumindo esse paradoxo. O Cante deve, sem perder a sua identidade naturalmente, assumir-se além-fronteiras onde quer que haja alguém interessado em ouvi-lo. Essa também é a nossa missão e pretendemos portanto chegar o mais longe possível, levando connosco essa tradição assumidamente complementada com novas sonoridades. Este é o novo som do Sul.
E quem são os Monda?
Todos nós somos oriundos de vários projetos musicais e entre essas paragens distintas, e todos naturais do Alentejo. Para além de uma forte amizade que nos une há já uns anos, somos músicos de diferentes áreas. O Pedro esteve desde sempre mais ligado ao cool jazz, ao pop, o Herlander à área clássica e eu cresci a cantar não só o Alentejo, como o Fado, o pop, o Rock, enfim tudo aquilo que pude aprender nos vários projetos musicais em que estive.
A vossa sólida formação musical confere ao projeto uma maior “credibilidade artística”?
Com certeza que o facto de termos um percurso considerável nas várias áreas musicais de cada um, apesar de pouco reconhecido pelo público em geral, deu-nos uma bagagem importante e sobretudo uma reflexão e diferenciação na abordagem do projeto. A credibilidade artística é um fator que é difícil avaliar. Compete-nos enquanto artistas ou músicos, fazer o melhor trabalho de acordo com a nossa criatividade e autoavaliação.
O Alentejo é o fio-condutor deste projeto? Há alguma possibilidade de arriscarem outras abordagens em trabalhos futuros?
O nosso trabalho recai sobre a música enquanto arte maior. O Alentejo é o objeto abordado por este projeto Monda. As suas modas, as suas gentes, a sua veracidade e autenticidade são as paixões que se ligam através desse o fio-condutor e que nos move a fazer este tipo de música. Se porventura houver outra abordagem ela terá a mesma temática. Para já não pensamos nisso. Há muito disco ainda para desfrutar e mostrar ao mundo.
Para além do Ruben Alves que participou na produção, este vosso primeiro disco contou com outros convidados de peso... Podem apresenta-los?
Este foi um disco de muitas simbioses. E para além disso, pensamos ser um disco em que os astros se alinharam a nosso favor. Astros e estrelas, grandes estrelas da música nacional que, desde o primeiro momento, acreditaram no nosso projeto e disseram sim à nossa música. Para além da Katia Guerreiro e do Rui Veloso, estrelas maiores do panorama artístico nacional. Tivemos muitos amigos, e também eles grandes músicos, a participarem no disco e ajudarem-nos a construir e consolidar a nossa ideia inicial. Desde logo pelo nome que assina a produção do disco, Ruben Alves, pianista e compositor de grande talento, Tiago Oliveira, guitarrista e fundador dos Polo Norte, Mário Caeiro, João Ferreira, Pedro Vidal e o Grupo de Cantadores de Portel. Estamos certos de que o contributo e a disponibilidade que emprestaram ao disco foram fundamentais para que o mesmo possa ter sucesso entre o público.
A escolha destes convidados obedeceu a algum critério especial?
O único critério foi o bom gosto musical. (Risos) E claro o facto de todos eles se reverem na nossa música.
Se o Cante Alentejano não tivesse sido elevado a Património Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, este projeto teria surgido na mesma?
Sim, claro. Nasceu aliás uns meses antes. A certa altura, eu fiz sem qualquer intuito em particular, um arranjo para um tema que depois acabou por ser a alavanca de ideias para este projeto. Mostrei o tema ao Pedro e ao Der e criámos um arranjo distinto para “O Mocho”, uma moda popular com um texto muito peculiar e bizarro.
O clique estava dado. Tínhamos criado, quase ingenuamente, uma nova sonoridade para uma coisa tão tradicional e tão identitária de um povo. Sabíamos que não podíamos falhar ou fazer algo em que não acreditássemos. Para além disso eu e o Herlander sempre tivemos ligados ao cante tradicional, muito antes de haver um selo da Unesco.
Já há concertos agendados para a apresentação deste primeiro disco? Podem adiantar aos nossos leitores algumas datas?
Temos vários para este verão, nomeadamente em Ourique dia 14 de agosto com a Ana Moura e em Vendas Novas no dia 6 de setembro. Mas haverá um concerto especial no dia 15 de novembro, no Teatro Tivoli BBVA e os bilhetes já se encontram à venda na Ticketline. Convidamos todos a ir ver. Vai ser um concerto diferente.
Muito obrigado por este tempo que dedicaram aos nossos leitores e seguidores. Pensam que o facto de se estarem a dedicar a uma área tão específica das nossas raízes vos possibilitará uma mais fácil internacionalização do projeto? Ponderam correr o mundo mostrando o Cante Alentejano com esta nova roupagem?
O céu é o limite. (risos) Obrigado.
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