The Gift. 20 anos de palcos, 20 anos de história(s).
O John Gonçalves dos The Gift respondeu às perguntas do XpressingMusic – Portal do Conhecimento Musical e ajudou-nos a passar em revista 20 anos de carreira que agora são celebrados em palco em vários concertos durante este verão. Disse-nos que o estúdio é algo de que gostam muito e que, neste momento, se encontram com um pé no estúdio, terminando o novo disco, e outro pé no palco onde estão a promover o disco “20” que saiu em novembro passado. «Esta tour vai ser diferente porque temos muitos lados B escolhidos para fazerem parte do alinhamento, temos os óbvios singles e até uma cenografia diferente mas o público acha que é no palco que a nossa energia se torna mais visível». No final desta entrevista revelamos ainda as próximas datas e locais onde poderá encontrar a banda de Alcobaça.
Muito obrigado por partilharem com os nossos leitores um pouco da vossa história. Os The Gift foram sempre considerados um projeto empreendedor. Olhando o percurso que a música portuguesa fez desde o vosso lançamento em 1994, consideram que foram visionários? Terão sido os The Gift os “autores” de uma nova forma de encarar o mercado musical?
Nós achamos que talvez tenhamos sido visionários por obrigação e não por vocação. O facto de não termos editora interessada na nossa música e de não acreditarmos no modelo de agenciamento e management que nos anos 90 prevalecia no nosso mercado, obrigou-nos a ser criativos e a antecipar um modelo de gestão artística onde a banda e a música são o centro de tudo. Ao mesmo tempo que proporcionamos a essa banda e música as melhores condições para gravar e editar, fazemos a promoção que achamos melhor para cada projeto, marcamos e produzimos os concertos do grupo, tratamos do merchadising ou dos direitos associados à nossa música. Nesse sentido talvez tenhamos sido os autores duma nova maneira de fazer música. Fizemo-lo antes do fenómeno do Youtube, iTunes, Streaming ou até mesmo do CD-R que chegou apenas nos anos 2000-2001.
Foram 20 anos de muitas inovações e de muitas aprendizagens... Concordam? Hoje fariam algo diferente?
Nós, todos os dias aprendemos quer na parte musical e artística, quer na parte de produção. Na parte mais importante - a artística - é óbvio que o facto de termos um estúdio nosso em Alcobaça faz com que seja mais fácil aprender e corrigir imediatamente o que se quer alterar. No entanto, achamos que não há nada a fazer de diferente porque os erros artísticos e de gestão são parte do processo.
Ouvindo o nosso álbum Vinyl de 1998 entende se que não é igual ao novo disco que estamos a preparar agora, mas essa evolução ao longo dos anos é algo que nos parece positivo.
Os primeiros discos, Digital Atmosphere e Vinyl foram tocados em inúmeros concertos apostados em produções pouco vulgares para a época. O sucesso destes trabalhos surpreendeu-vos ou, por outro lado, a sua preparação foi tão cuidada e programada que já se antevia o sucesso que vieram a alcançar?
A verdade é que o primeiro disco “Digital Atmosphere” era apenas uma demo para mostrarmos às editoras e só os vendíamos nos concertos que produzíamos, nunca chegando às lojas, nem agora mesmo.
O álbum “Vinyl” foi o disco que nós preparámos para chegar a todas as pessoas e com estratégia cuidada com Videoclip, single, distribuição e com uma tour gigante que nos levou a todos os grandes palcos nacionais - seja nas queimas das fitas, nas praças municipais, nos festivais de verão ou nas salas de sonho como CCB, Aula Magna, Teatro Rivoli no Porto, os Coliseus. Pensamos que tínhamos uma estratégia bem pensada mas vender mais de 30 000 discos e tocar mais de 100 concertos num ano foi algo que nos surpreendeu.
A forma como mesclaram a tecnologia com os instrumentos acústicos também surpreendeu na altura?
Essa forma de utilizar a tecnologia e os instrumentos acústicos era algo intrínseco da nossa estética e que penso que se vai mantendo. Mesmo que a estética dos nossos discos se vá alterando ao longo dos anos, a elegância dessa mistura entre a tecnologia e os instrumentos acústicos é algo que se mantém.
Conseguem eleger dois ou três momentos marcantes, ou decisivos, para que a vossa carreira se tenha vindo a mostrar tão sólida, tão consistente...?
Nunca é fácil eleger 2 ou 3 momentos porque ao fim de 20 anos, trabalhando ininterruptamente - com uma pequena pausa para o projeto “Amália Hoje” - a chave é a consistência desse mesmo trabalho. Mas, não fugindo à pergunta, destacamos o primeiro single e videoclip a chegar as rádios e televisões “Ok! Do you want something Simple?”, a celebração dos nossos 20 anos com uma caixa de 4 CDs , 4 DVDs e com um livro escrito por Nuno Galopim, bem como os concertos de celebração desse aniversário no MEO Arena e Multiusos de Guimarães.
O terceiro momento, e talvez o mais importante artisticamente, foram todos os momentos que pudemos partilhar com o mestre Brian Eno que, para nós, é o mais importante produtor mundial e um dos maiores artistas das últimas décadas. Ter essa oportunidade de trabalhar e conviver com alguém como o Brian é para nós, definitivamente, um dos melhores momentos da nossa carreira.
Dos inúmeros prémios conquistados, destacam algum, ou alguns em particular?
Os prémios são interessantes mas sinceramente não são algo de muito importante na carreira duma banda. Há bandas e artistas que nunca ganharam prémios e outras que não merecem nenhum respeito artístico e tem a prateleira com esses prémios. Nesse sentido, conseguimos sempre relativizar esses prémios pois gostamos de os ganhar, porque são reconhecimentos públicos do nosso trabalho - e alguns deles, votados pelo próprio público - mas não deixamos que esses reconhecimentos nos tirem o foco do essencial.
Um prémio que guardamos com algum carinho é o MTV music portuguese award no ano em que esses prémios foram entregues em Portugal. Com esse reconhecimento tivemos a oportunidade de abrir portas em mercados como Espanha e Brasil onde fomos pela primeira vez em 2006.
Há bastantes concertos agendados para os próximos meses. Consideram que o palco é o vosso habitat natural, ou dividem as preferências com o estúdio e a sala de ensaios?
O estúdio é algo de que gostamos e achamos muito criativo mas, neste momento, estamos com um pé no estúdio, terminando o nosso novo disco, e outro pé no palco onde estamos a promover este disco “20” que saiu em novembro passado. Esta tour vai ser diferente porque temos muitos lados B escolhidos para fazerem parte do alinhamento, temos os óbvios singles e até uma cenografia diferente mas o público acha que é no palco que a nossa energia se torna mais visível.
O disco “20” tem sido bem recebido pelo público e pela crítica?
O disco 20 esteve nos tops durante toda a época de Natal e sendo uma coleção das grandes canções da banda é um álbum muito apelativo para todos que gostam dos Gift e para a crítica que considerou um bom disco antes do nosso novo disco de originais.
Como caracterizam o atual momento que atravessa a música portuguesa?
Como toda a indústria, nós temos uma opinião muito positiva sobre a nova música portuguesa e achamos que está num momento muito positivo, em geral, com projetos com muita qualidade e cada vez mais público interessado naquilo que se faz em Portugal.
Muito obrigado por esta partilha. Para terminarmos gostávamos que nos dissessem se têm alguns conselhos para os jovens que hoje iniciam projetos musicais e se sentem que se constituem como um exemplo a seguir.
A única coisa que nós podemos dizer às bandas ou artistas novos é que sejam genuínos, se apaixonem pela música e apenas pela música, para levar essa paixão ao maior número de pessoas e tentem fazer desse hobby inicial algo que possa ser uma carreira sólida.
Não há fórmulas certas e a única maneira de ser profissional nesta área e ter uma carreira com longevidade é ter talento e trabalhar esse talento dia após dia sem nenhum tipo de obsessão que não seja fazer a música com que se identifiquem e não pensando em sucessos ou modas que na maioria dos casos são passageiras.
The Gift – 20 Tour
Junho
24 – Angra do Heroísmo, Açores – Festas Sanjoaninas
25 – Lousã – Festas de São João
Julho
02 – São Miguel, Açores – Festival Lagoa ComVida
28 – Cantanhede – Expofacic
30 – São Roque, Pico, Açores – Festival Cais de Agosto
Agosto
07 – Viseu – Feira de São Mateus
09 – Montalegre – Festival da Juventude Montalegre
12 – Festival Sol da Caparica
14 – Batalha – Festas da Batalha
21 – Lagoa – Fatacil
29 – Grândola – Feira de Agosto
Setembro
17 – Alcanena – Fórum da Juventude – Praça 8 de Maio
24 – Viana do Castelo – Centro Cultural de Viana do Castelo
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