Marta Hugon. A carreira e a apresentação de “Bittersweet”

Marta Hugon

«Eu tenho o meu público que espero alargar à medida que for tocando em mais sítios e dando a ouvir a minha música. Não me queixo. O nosso mercado é pequeno e neste momento a indústria está virada para o fado que é único, bom e fácil de exportar e para “one hits”. É o que é. Todos os músicos – a não ser meia dúzia – trabalham mais e ganham menos. Sabemos que conseguir levar um disco até às suas últimas consequências (risos) depende imenso da força da promoção, do investimento da editora e consequentemente dos apoios da rádio. Tudo isso se conjuga para fazer ou não o sucesso. Como não controlamos muitas destas variáveis, o melhor é fazer aquilo em que se acredita e seguir em frente. É para isso que temos de estar preparados».

Marta Hugon, muito obrigado por nos conceder esta entrevista. Quando começou a sua viagem pelo mundo musical? A música esteve sempre presente na sua vida? O jazz foi sempre o género musical preferido?
Canto desde que me lembro. De tal forma que um dia alguém me sugeriu procurar um grupo para fazer música a sério. Comecei a cantar com músicos de jazz quando tinha vinte e poucos anos. Gostei tanto da experiência e da linguagem que comecei a querer ouvir mais, à procura de professores e a tentar perceber como é que podia aprender. Sempre ouvi música de todos os géneros: pop, rock, clássica, jazz. Ouvir é a primeira forma de descoberta para um músico.

Marta HugonO facto de ser uma forte conhecedora das tradições jazzísticas faz com que se sinta mais à vontade para reinventar dentro deste género musical?
Acho que o género está sempre a ser reinventado. É essa a sua natureza. A maioria dos músicos de jazz passam pela tradição antes de fazerem os seus próprios temas.

Enquanto foi professora no Hot Clube, qual era a principal mensagem que transmitia aos seus alunos?
Que ouvissem músicos ao vivo, que trabalhassem e que encontrassem a sua própria voz, sem se colarem a outros cantores.

O seu disco “Tender Trap” assumiu uma aura mais conservadora do que os seguintes?
Quis fazer um disco clássico, de standards, com algumas das minhas canções preferidas e ainda hoje gosto muito do resultado. É um disco que revisito com prazer, mesmo que agora o cantasse de forma diferente.

Em “Story Teller” já se libertou mais?
O tender trap foi construído em cima de um repertório que eu já andava a tocar ao vivo com a banda. No Story Teller fiz uma escolha prévia de temas que já saíam um pouco do jazz e que foram trabalhados de uma forma mais contemporânea.

Depois surgiu A Different Time com temas originais. Podemos dizer que esta evolução foi previamente estudada? Quis protagonizar um crescendo de criatividade partindo dos standards para os originais?
Não tinha nada planeado. A música seguiu o seu curso e eu fiz o que tinha a fazer. Quando surgiu a vontade de escrever temas de raiz, aproveitei todo o trabalho desenvolvido com os músicos com quem tocava e dei esse passo com um registo de originais que é obviamente mais pessoal. E por isso, mais arriscado. Mas nada é seguro em termos de criatividade e se assim não for, algo está errado.

Agora chega "Bittersweet". O que nos traz desta vez? O que distingue este disco dos anteriores?
Não é claramente um disco de jazz, mas os músicos estão lá e penso que isso se sente em alguns momentos. É um disco francamente mais produzido, com muitos convidados e de canções fortes onde desde o início há uma certa dualidade. Daí o Bittersweet.

Marta Hugon, BittersweetEste é um disco onde abundam os convidados. Pode apresentar aos nossos leitores esta vasta equipa que entra no "Bittersweet"?
Filipe Melo no piano, que compôs o disco comigo, Mário Delgado na guitarra, Nelson Cascais no baixo e contrabaixo e André Sousa Machado na bateria. Esta é a base deste Bittersweet. Depois tive convidados maravilhosos. O Ricardo Toscano no saxofone, o Diogo Duque no trompete e o Claus Nymark no trombone. Tudo músicos maravilhosos. Tive também um quarteto de cordas incrível que tem feito vários espetáculos comigo: Ana Pereira e Ana Filipa Serrão nos violinos, Joana Cipriano na viola e Ana Cláudia Serrão no violoncelo. A Tatiana Rosa na flauta, o Roberto Erculiani e a Orquestra da Escola Superior de Música de Lisboa, dirigida pelo Vasco Pearce de Azevedo. O Miguel Ferreira dos Clã, o Sérgio Nascimento e o João Só também deram uma ajuda em estúdio. Um luxo!

No Centro Cultural de Belém, a 2 de junho, todos eles subirão ao palco?
Subirão quase todos! Não posso ter a orquestra, que não cabe, mas tenho a banda, os sopros e as cordas, o Samuel Úria que vem fazer um dueto especial comigo, a Margarida Campelo na voz e nas teclas e o Eduardo Lála no trombone. Ao todo somos 14 em palco. Estou muito bem acompanhada.

Já há outras datas para apresentar este "Bittersweet"?
Confirmada, para já, temos dia 10 de setembro em Sesimbra.

Muito obrigado por esta partilha que aqui protagonizou com os nossos leitores. Sente que o seu trabalho tem alcançado o merecido reconhecimento? Portugal está preparado para receber trabalhos como aqueles que nos tem trazido?
Eu tenho o meu público que espero alargar à medida que for tocando em mais sítios e dando a ouvir a minha música. Não me queixo. O nosso mercado é pequeno e neste momento a indústria está virada para o fado que é único, bom e fácil de exportar e para “one hits”. É o que é. Todos os músicos – a não ser meia dúzia – trabalham mais e ganham menos. Sabemos que conseguir levar um disco até às suas últimas consequências (risos) depende imenso da força da promoção, do investimento da editora e consequentemente dos apoios da rádio. Tudo isso se conjuga para fazer ou não o sucesso. Como não controlamos muitas destas variáveis, o melhor é fazer aquilo em que se acredita e seguir em frente. É para isso que temos de estar preparados.

Marta Hugon. A carreira e a apresentação de “Bittersweet”

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