Eugénia Melo e Castro. Uma voz que atravessou o Atlântico
«Acho que eu tive uma visão bastante inédita na época. Era impensável conseguir atravessar o Atlântico e trabalhar, cantar e compor da forma que eu fiz e comecei sozinha e sem nenhum apoio. Mas, uns 35 anos depois... sinto que muitas das barreiras estão completamente derrubadas. O Brasil já sabe o que se passa em Portugal e o interesse agora é mútuo. A grande diferença nos resultados é o tamanho dos 2 países, Brasil imenso e diverso, e Portugal com um mercado pequeno mas guerreiro. Isso não tem alteração possível. E a internet, as plataformas digitais e a facilidade das comunicações de hoje fazem muita diferença. Depois só o talento e a qualidade farão as diferenças inevitáveis, como sempre fizeram...».
Muito obrigado por ter aceitado o nosso convite para esta entrevista. Está a ser lançada nas plataformas digitais uma coleção de álbuns da Eugénia Melo e Castro. Como surgiu esta ideia?
A ideia é colocar nas plataformas digitais todos os meus Cd’s, que gravei ao longo de 35 anos de carreira. Alguns já estavam, mas eu sou dona de muitos dos meus masters, e só através de uma editora discográfica, ou de um selo, isso é possível. Por isso procurei a Farol, que já tinha 2 cd’s meus assinados, e tudo correu bem e aqui estou eu com mais 9 cd’s nas plataformas.
Coleção de álbuns da Eugénia Melo e Castro disponíveis nas plataformas digitais:
- Motor da Luz - ao vivo no Sesc Pompéia
- Lisboa dentro de mim
- Dança da luz
- Paz
- Dança da lua.doc - remix
- Desconstrução (duplo - obra autoral de/com Chico Buarque)
- Ao vivo em São Paulo
- Recomeço
- Conversas com Versos – infantil (novo)
As plataformas digitais permitem um rápido acesso do público a uma enorme coleção de músicas e de músicos. Considera que estas plataformas, apesar dessas vantagens, também apresentam algumas desvantagens?
Não vejo nenhuma desvantagem, acho prático e necessário. É um complemento dos Cd’s físicos, absolutamente impensável hoje em dia não ter os nossos trabalhos nas duas plataformas, física e digital.
Considerada a verdadeira embaixatriz portuguesa em terras brasileiras, protagonizou duetos e parcerias autorais com os maiores nomes da música Brasileira. Hoje, quando olha para trás, o que pensa de todo esse trabalho e de todas essas conquistas?
Acho que eu tive uma visão bastante inédita na época. Era impensável conseguir atravessar o Atlântico e trabalhar, cantar e compor da forma que eu fiz e comecei sozinha e sem nenhum apoio. Mas, uns 35 anos depois... sinto que muitas das barreiras estão completamente derrubadas. O Brasil já sabe o que se passa em Portugal e o interesse agora é mútuo. A grande diferença nos resultados é o tamanho dos 2 países, Brasil imenso e diverso, e Portugal com um mercado pequeno mas guerreiro. Isso não tem alteração possível. E a internet, as plataformas digitais e a facilidade das comunicações de hoje fazem muita diferença. Depois só o talento e a qualidade farão as diferenças inevitáveis, como sempre fizeram...
Tom Jobim, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Gal Costa, Caetano Veloso, Chico Buarque Adriana Calcanhotto, Egberto Gismonti, Wagner Tiso são alguns dos muitos nomes com quem teve o privilégio de trabalhar. A cada uma destas experiências que passa sente que estas se vão incorporando na forma como interpreta? Nas suas performances encontra-se por vezes com aspetos advindos destas influências?
Acho que o principal é trabalharmos juntos e reter na memória a alegria das parcerias, dos duetos, cada artista empresta ao trabalho que faz com outros artistas aquilo que tem de melhor e sabe fazer. As influências são naturais e saudáveis, mas não vão necessariamente influenciar as linhas mestras. Cada um é cada um. Tudo é uma soma interna, mas nem sempre visível.
“Conversas Com Versos”, trabalho que já abordámos aqui no XpressingMusic, foi um trabalho revestido de grande(s) significado(s). Concorda?
Sim, claro, é o meu primeiro cd infantil, sobre um livro escrito pela minha mãe, Maria Alberta Menéres, que teve a primeira edição em 1968, tinha eu 10 anos. Foi o primeiro livro de poesia infantil que se fez em Portugal e é recomendado até hoje no plano escolar. Sei-o de cor... e isso levou-me a querer fazer um disco, numa linguagem musical mais sofisticada com música e melodias diferentes e, ao mesmo tempo, acessível a todos. Tentei fugir do óbvio. Tal qual a minha mãe sempre fez.
A sua filha Mariana Melo foi a responsável pelas ilustrações deste lançamento. Esta é uma obra que se perpetua e, embora terminada, pode ser sempre alvo de “upgrade”?
Todas as obras podem ter Upgrades pelos seus autores, ou outros artistas que se proponham a isso, desde que não desvirtuem a própria obra. Fizemos músicas, cantamos os poemas, fizemos novas ilustrações, fizemos vídeo clips, tudo segue a sua evolução sempre tendo como base o original intacto.
Quais os próximos projetos a empreender? Podemos contar com novos lançamentos em breve?
Tenho um disco novo muito pouco conhecido em Portugal, que se chama “Um Gosto de Sol”, que está também aqui na Farol. É o meu mais novo trabalho, para além do Conversas com versos.
O que pensa do atual panorama da música portuguesa?
Acho que está muito mais aberto, mais tolerante com as diferenças, e com casos pontuais de grande qualidade. Porém tudo mais difícil de divulgar. Trabalhar ao vivo e correr o mundo é neste momento uma das saídas fundamentais para mostrar o que se faz, e nisso os artistas portugueses estão bastante atentos.
De toda a sua experiência conclui que a música portuguesa e a música brasileira teriam muito a ganhar se se patrocinassem mais parcerias entre os músicos destes dois países irmãos?
Já está a acontecer...
Mais uma vez agradecemos esta partilha que nos proporcionou. Onde poderão os nossos leitores ouvi-la em breve?
Espero poder mostrar em Portugal o que faço fora de Portugal, o mais breve possível...
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