Sónia Oliveira: O “Encontro” entre o jazz e a música portuguesa
Antes do disco “Encontro” que agora é lançado, a nossa entrevistada já tinha gravado os discos “Sónia Oliveira” e “Páginas”. Quisemos saber se estes discos ainda teriam lugar no alinhamento dos seus espetáculos ou se, por outro lado, as sonoridades que agora procura são muito distintas e nada inclusivas de reportórios abordados noutros tempos. Sobre isto, Sónia Oliveira referiu: «Agora é diferente. O alinhamento do meu atual espetáculo tem jazz, bossa nova e música portuguesa dos anos 70 e 80, que não tem grande ligação com o pop “leve” que eu fazia há 10 anos atrás. Não significa que o resto tenha ficado “debaixo do tapete”, obviamente explica o meu crescimento, mas já não me faz tanto sentido como antes incluí-lo no alinhamento».
Sónia Oliveira, obrigado por se ter disponibilizado para esta entrevista. Vem aí o seu novo disco “Encontro”. Pode falar-nos um pouco sobre este novo trabalho? Como o caracteriza?
Este projeto é o resultado de vários anos de mudança e de muitas indecisões. Depois do meu último disco, em 2011, passei por muitos altos e baixos musicais, dentro da minha cabeça. Comecei a estudar música, conheci muitas pessoas, segui novos rumos... acho que a principal característica deste trabalho é ser uma mistura de vivências musicais que experienciei e aqui traduzi em 8 faixas com características totalmente diferentes umas das outras.
Quem são os músicos que entram consigo nesta aventura chamada “Encontro”?
O pianista Carlos Garcia, meu grande amigo e companheiro de aventuras musicais várias, o guitarrista Zé Miguel Vieira, que muito me apoiou na concretização da minha musicalidade ao longo dos últimos anos, o acordeonista João Barradas, virtuoso na técnica e grande companheiro que tem sempre uma palavra de apoio e motivação, o trompetista João Moreira que começou por ser meu professor e depois o tempo se encarregou de nos fazer amigos, e por fim, o amigo de mais longa data deste grupo, o contrabaixista André Ferreira, que entra neste disco quase por acidente, na sequência de experiências musicais que fomos tendo ao longo dos últimos anos e que nos ajudaram a crescer juntos.
Ao lermos alguns textos sobre o novo trabalho que aí vem, deparámo-nos com a ideia de que este disco configura uma transição estilística. O que nos quer dizer com esta transição?
Bem, os meus primeiros dois discos localizam-se muito claramente numa linha pop/rock. São álbuns de originais inteiramente escritos por mim e que me deram muito gozo fazer. Agora, e devido aos caminhos musicais de que falei antes, a música amadureceu juntamente comigo. O facto de ter estudado, conhecido músicos diferentes e aprimorado as minhas características pessoais dá-me agora vontade de fazer uma coisa diferente... mas para perceber exatamente o que quero dizer, nada como ouvir!
Antes deste “Encontro”, tinha já gravado os discos “Sónia Oliveira” e “Páginas”. Estes discos ainda terão lugar no alinhamento dos seus espetáculos ou, por outro lado, as sonoridades que agora busca são muito distintas e nada inclusivas de reportórios abordados outrora?
Agora é diferente. O alinhamento do meu atual espetáculo tem jazz, bossa nova e música portuguesa dos anos 70 e 80, que não tem grande ligação com o pop “leve” que eu fazia há 10 anos atrás. Não significa que o resto tenha ficado “debaixo do tapete”, obviamente explica o meu crescimento, mas já não me faz tanto sentido como antes incluí-lo no alinhamento.
A música foi sempre a sua grande paixão? Nunca sonhou fazer outra coisa?
Eu acredito seriamente que ninguém é só uma coisa. Eu gosto muito de música e não imagino a minha vida sem ela, contudo também faço outras coisas, com muita intensidade e paixão. Na prática faço o que gosto e o que me apetece no momento. Para mim não resulta o conceito de todos os dias serem iguais.
Quais são as suas principais influências musicais? Há alguns músicos que eleja como preferidos?
Eu sempre fui muito eclética a ouvir. Desde o pop, o rock, o soul, o funk... As primeiras cantoras que me influenciaram foram mulheres com quem não me identifico hoje, mas que me ensinaram muito ao ouvi-las cantar: Mariah Carey, Whitney Houston, Celine Dion... Depois veio a fase da Maria João. Eu era histérica por ela como as minhas amigas eram pelas Spice Girls. E só depois me chamaram a atenção as referencias que ainda são as de hoje: Stevie Wonder, Aretha Franklin, Nina Simone, Chet Baker, Marcus Miller, Miles Davis (entre... muito outros!)
O gosto pelo jazz surgiu em que altura da sua aprendizagem?
Muito cedo. Uma das primeiras bandas que tive (de rock!) era, na verdade, constituída por músicos que tinham estudado jazz, e foram eles os primeiros a influenciar-me nesse sentido. Viciei totalmente no “Live and More” do baixista Marcus Miller aos 15 anos, e daí para a frente foi sempre a explorar.
Na sua formação superior teve o privilégio de contactar com alguns mestres da música em diversos níveis. Há alguns nomes que a tenham marcado, nesse período, e que ainda hoje estejam presentes naquilo que faz pela influência que exerceram sobre si e sobre o seu trabalho?
A Maria João começou por me marcar à distância, depois diretamente - mal eu sonhava quando era adolescente que havia de vir a ter aulas com ela todas as semanas - e ainda hoje é uma referência. Quando preciso de resolver alguma coisa, vocal ou de interpretação, ainda vou bater à porta dela, e sou recebida com abraços gigantes e beijinhos (risos). O Paulo Lourenço ensinou-me mais técnica vocal que ninguém nesta vida, o Gonçalo Marques foi o meu professor mais importante de todos os tempos por mil motivos, e o João Moreira não só me marcou como ainda tocamos juntos atualmente.
Pensa que hoje, com a tecnologia que se encontra disponível, se torna mais fácil tornar visíveis projetos musicais mais eruditos?
A tecnologia veio potenciar tudo. Erudito ou não, uma das características boas que eu acho que a tecnologia tem é a de mostrar aos fãs que eles próprios gostam de várias coisas. Hoje em dia sinto que, por exemplo, as pessoas procuram um projeto pop, mas depois deparam-se como uma coisa eletrónica e gostam, depois há um jazz agradável e gostam, e gostam, e gostam. Sem sair da frente do computador já ouviram 3 ou 4 músicas transversais a vários estilos, e isso é de uma diversidade maravilhosa. Em relação específica com a música mais erudita, penso que sim, a tecnologia dá uma visibilidade que antes não existia. Ajuda a mostrar que erudito não é igual a aborrecido e é tão bom de ser ouvido como qualquer outra coisa, dependendo do momento.
Muito obrigado pelo tempo que dispensou aos nossos leitores. Já há datas para apresentar o seu novo disco?
Sim, este disco tem vários espetáculos de apresentação marcados. Assim, no dia 10 de maio estaremos na Livraria Barata (Lisboa), a 12 de maio Duetos da Sé (Lisboa) e a 26 de maio no Cine Incrível em Almada. Esta lista de espetáculos está em constante atualização no meu site.
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