Viviane. Os “Entre Aspas” e 10 anos de carreira a solo.
Tendo como pano de fundo os 10 anos de carreira a solo, desafiámos a Viviane para uma entrevista onde falámos das suas raízes e das suas vivências musicais. «Eu nasci e cresci em França até vir para Portugal com 13 anos. Cresci portanto a ouvir música francesa que ia desde o Gainsbourg à Édith Piaf, passando pelos cantores da altura e, por outro lado, a minha mãe em casa costumava ouvir Amália Rodrigues. Já em Portugal nos anos 80 descobri e apaixonei-me por outras músicas portuguesas e ouvia Zeca Afonso, Trovante, Mler if dada, GNR, Heróis do mar e muitos outros. Essas são as minhas influências, as que vão marcar para sempre as minhas composições». Nesta entrevista, Viviane revela ainda um pouco daquilo que o público poderá esperar dos espetáculos do Porto, de Faro e de Lisboa no início de junho de 2016.
Muito obrigado por nos conceder este espaço de entrevista. Como foi o seu percurso musical até 1990, altura em que formou os “Entre Aspas”? Como se processou a sua aprendizagem musical?
Curiosamente a minha primeira experiência musical em palco foi numa primeira parte de um concerto de Carlos do Carmo ainda em França onde nasci, tinha eu os meus 11 anos. Mais tarde já na escola secundária em Portugal fiz parte de um grupo de música tradicional chamado "Borda de água". Iniciei os meus estudos de Conservatório em flauta transversal quando tinha 18 anos e, em 1991, formei o grupo Entre Aspas juntamente com o Tó Viegas, Luís Fialho e o João Vieira.
A ascensão dos “Entre Aspas” foi um processo rápido? Como surgiu a possibilidade de gravarem pela BMG?
Na altura sem grandes expetativas, enviámos uma maquete para concorrermos ao concurso de música moderna da Câmara Municipal de Lisboa. Ficámos em 3º lugar e assinámos contrato logo a seguir com a editora multinacional BMG com a qual editámos 5 álbuns. Tivemos vários êxitos de rádio como “A criatura da noite” ou “Uma pequena flor” e fizemos muitos concertos. De facto no início não esperávamos que tudo acontecesse tão depressa.
Após 5 álbuns gravados consideraram que era tempo de partirem para outros projetos?
Ao fim de 5 álbuns gravados e muitos concertos pelo país fora durante 10 anos, senti a necessidade de experimentar outros géneros musicais que não cabiam no formato pop rock dos “Entre Aspas”. Todos nós, na altura, queríamos fazer outras coisas. Assim, decidi iniciar a minha carreira a solo. Queria experimentar outras sonoridades, queria criar uma linguagem musical própria, uma música nova mais próxima de um som português onde pudesse cruzar também outras influências utilizando outros instrumentos como a guitarra portuguesa e o acordeão.
“Amores imperfeitos” e “Viviane” foram os seus dois primeiros discos a solo em 2005 e 2007 respetivamente. Como caracteriza cada um destes discos?
Foram dois discos de transição em que já explorava um estilo musical muito meu com influências do fado, da chanson francesa e do tango mas onde ainda subsistiam algum temas mais pop como é o caso de "A vida não chega" ou "Só o sol".
São 10 anos de carreira a solo onde pôde experimentar muitas sonoridades e interpretações. Sente que o trabalho a solo lhe dá mais liberdade para se entregar a outros projetos do que quando se encontrava inserida numa banda?
Foi de facto a seguir ao último CD dos Entre Aspas que surgiram as minhas participações noutros projetos como a Linha da Frente em 2002, Camaleão Azul em 2003 e Rua da Saudade em 2009. Foram todas elas experiências fantásticas.
Podemos então falar da sua participação no projeto “Rua da Saudade” que acaba de referir. Como surgiu esta ideia na qual partilhou o palco com a Mafalda Arnauth, a Susana Félix e a Luanda Cozetti?
Na verdade o convite partiu do Renato Jr. o produtor da "Rua da Saudade". A ideia de homenagear o poeta Ary dos Santos era irrecusável e assim, durante dois anos dei prioridade a este projeto do qual guardo as melhores recordações de momentos fantásticos passados ao lado de grandes músicos, de três grandes vozes, de quem ficou uma grande amizade.
Embora tenha nascido em França sente o Algarve como algo muito seu? Sentiu-se lisonjeada com o convite para dar voz ao tema da campanha internacional "The most famous secret in Europe”?
Sim. Foi de facto um reconhecimento por eu ser uma cantora muito ligada à região que sempre promoveu o Algarve ao longo da sua carreira. Este ano também recebi com muito prazer o convite do Teatro das Figuras em Faro para ser a Artista Figuras 2016 e aí realizar três espetáculos diferentes ao longo do ano.
No âmbito da sua carreira musical alguma vez sentiu que o Algarve estava “muito longe” de Lisboa?
Estar no Algarve implica mais horas de deslocação, mais organização e um maior planeamento da minha agenda mas eu já estou habituada a isso. Mantenho há muitos anos uma casa em Lisboa o que facilita muito as coisas quando tenho que permanecer vários dias. Viver no Algarve é uma escolha que eu fiz pois assim tenho mais qualidade de vida para a minha família. Além disso tenho cá o meu estúdio de gravação.
“As pequenas gavetas do amor” e “Dia Novo” foram os discos que se seguiram. Considera que tiveram a merecida visibilidade?
Sim, estes dois discos são no fundo marcos que consolidaram definitivamente a minha carreira a solo. São compostos por canções marcadas por uma sonoridade onde o fado, a chanson, o jazz manouche ou bossa nova se cruzam com a tradição, a modernidade e as minhas raízes num formato essencialmente acústico onde estão presentes a guitarra portuguesa, a guitarra acústica, o contrabaixo, a melódica, a flauta, o vibrafone, o piano e a bateria. O single "Do Chiado até ao Cais" é um tema que ainda se ouve bastante nas rádios.
Em toda a música que faz, pensa estarem presentes as influências de duas culturas tão distintas como a francesa e a portuguesa?
Eu nasci e cresci em França até vir para Portugal com 13 anos. Cresci portanto a ouvir música francesa que ia desde o Gainsbourg à Édith Piaf, passando pelos cantores da altura e, por outro lado, a minha mãe em casa costumava ouvir Amália Rodrigues. Já em Portugal nos anos 80 descobri e apaixonei-me por outras músicas portuguesas e ouvia Zeca Afonso, Trovante, Mler if dada, GNR, Heróis do mar e muitos outros. Essas são as minhas influências, as que vão marcar para sempre as minhas composições.
Comemora agora 10 anos de carreira a solo com três espetáculos no Porto, em Lisboa e em Faro e com o álbum "Confidências". O que nos traz com este quinto disco a solo?
Vou começar pela casa da Música dia 2 de junho, depois dia 4 de junho vou estar no Teatro das Figuras em Faro e no dia 9 de junho em Lisboa no Teatro São Jorge. São estas as três datas de apresentação desta tournée de comemoração dos 10 anos de carreira que foram assinalados com a saída do CD Confidências em novembro do ano passado. Trata-se de um Best of que também inclui dois temas inéditos: um original "Fado do beijo" e uma versão do tema cantado por Carmen Miranda em 1936 "Cantoras do rádio". Este CD vai agora ser editado em versão vinyl com a particularidade de ter a capa em cortiça.
Passados estes 10 anos de carreira a solo sente que ainda há muitas coisas por fazer musicalmente?
Sim, estes dez anos passaram muito depressa e ainda tenho muito para dar ao meu público e à música portuguesa. Talvez 2017 seja o ano de um próximo trabalho.
Muito obrigado pelo tempo que nos dedicou. Nos espetáculos do Porto, Lisboa e Faro, quem subirá com a Viviane ao palco?
Eu é que agradeço! Vou ter convidados em todos estes espetáculos. Para já, posso confirmar para Faro a presença da Mafalda Arnaulth, da Susana Félix, da Luanda Cozetti, do Nuno Guerreiro, do Custódio Castelo e do Coro do Conservatório de Música de Olhão. Em Lisboa e no Porto também vou contar com a presença de outros grupos corais para além de outros convidados. Vou ficar à vossa espera, estão todos convidados!
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