Mayra Andrade. Uma voz de Cabo Verde em entrevista.
Mayra Andrade é uma voz de Cabo Verde que tem encantado o mundo. No início de novembro virá a Portugal para, mais uma vez partilhar o seu espetáculo com o público luso. A este respeito disse-nos: «Vou a Portugal com os músicos que tocam habitualmente comigo e que já tocaram comigo um pouco por todo o mundo. É um concerto que está bem rodado pois estamos a fazê-lo já há dois anos, sendo que os primeiros até foram aqui em Portugal. O espetáculo tem ganho muita força e consistência. Acho que estou a cantar as músicas muito melhor, logo, para mim, este já é um concerto muito diferente daquele que fazíamos há dois anos atrás. Para além disso vou ter dois convidados muito especiais no Porto e em Lisboa que são a Sara Tavares e o Pedro Moutinho e me vão dar a honra e o prazer de partilhar o palco comigo».
Mayra, muito obrigado por nos proporcionar esta breve conversa. A música que nos traz, transmite Cabo Verde na sua essência real, ou contém também algum sonho e utopia, no sentido de nos trazer também um país sonhado?
Na abordagem que faço da minha própria música, considero que sou muito terra-a-terra. Eu faço a música e os outros que sonhem. Se a minha música faz sonhar ou imaginar uma terra longínqua diferente daquilo que ela realmente é, isso já é da responsabilidade dos devaneios de cada um. No entanto, quando digo que a minha música é cabo-verdiana, é porque ela tem essa essência que é minha. Apesar de eu ser uma cabo-verdiana muito viajada, não deixo de ser de Cabo Verde. É neste sentido que eu digo que a minha música é cabo-verdiana porque esta tem crioulo e eu gravo ritmos tradicionais. Também é certo que tenho influências de outras sonoridades dependendo do disco embora isso não faça com que a minha música seja menos cabo-verdiana. Se nos focarmos somente no aspeto tradicional, podemos dizer que tenho discos mais tradicionais e outros um pouco menos.
Lovely Difficult é o seu quarto disco e foi lançado há dois anos. Como caracteriza este álbum? O que traz de novo relativamente aos discos anteriores?
Podemos dizer que é um disco com uma sonoridade mais moderna, com uma abordagem mais contemporânea. Foi um trabalho no qual eu me libertei um pouco da questão da língua, ou seja do crioulo. Fui buscar línguas em autores e compositores que não fossem necessariamente cabo-verdianos. É por isso que canto em inglês, francês... Depois de 14 anos em França, essa sonoridade mais pop acabou por entrar em mim e influenciar-me da alguma forma. Neste disco quis encontrar um ponto de equilíbrio entre o lugar de onde venho e esta sonoridade mais contemporânea.
Disse-nos portanto que canta em crioulo cabo-verdiano, inglês, francês e português. Há um desejo de que a sua música extravase o maior número de fronteiras possíveis? É uma busca da internacionalização do seu trabalho?
Isso pode ser uma consequência, mas o facto de cantar noutras línguas advém do facto de, apesar de eu ser cabo-verdiana, - e como sabe há pouquíssimos cabo-verdianos espalhados pelo mundo, - era frustrante para mim estar rodeada de colegas cheios de talento e não poder trabalhar com eles pela simples razão de eles não escreverem em crioulo. Assim, houve um momento em que eu disse: “Bem... as pessoas já me conhecem como cantora cabo-verdiana, logo, acho que já posso tomar a liberdade de fugir um pouco ao crioulo e cantar em outras línguas”. Se estes fatores provocam uma maior internacionalização do meu trabalho, encaro como uma consequência e não como um fim em si mesmo. Posso dizer que na Inglaterra, por exemplo, o público quase que adere mais às músicas cantadas em crioulo do que aos temas interpretados em inglês. Penso que anseiam por algum exotismo que lhes proporciona uma espécie de viagem. Portanto não considero que seja assim tão óbvio que o facto de cantar em inglês ou noutras línguas traga uma maior projeção ou visibilidade. Posso no entanto dizer com alguma segurança que o público mais jovem se identificou mais com este disco.
Quais as suas principais influências e quais os seus artistas preferidos?
Eu ouço música muito variada. Sou um pouco como o vento que não se sabe de onde vem. Há dias em que ouço um género de música e dias em que ouço outros. Sou muito infiel relativamente aos géneros que ouço. Para além disso também gosto de passar alguns períodos sem ouvir música.
É uma apaixonada pelo ritmo. É o ritmo que comanda as suas composições quando escreve?
Não... O meu reportório é muito variado. Tenho músicas muito melancólicas e lentas, assim como tenho outras muito mais ritmadas, mais africanas e é assim que eu me divirto.
Vai atuar em breve em Portugal. O que podemos esperar dos seus espetáculos?
Vou a Portugal com os músicos que tocam habitualmente comigo e que já tocaram comigo um pouco por todo o mundo. É um concerto que está bem rodado pois estamos a fazê-lo já há dois anos, sendo que os primeiros até foram aqui em Portugal. O espetáculo tem ganho muita força e consistência. Acho que estou a cantar as músicas muito melhor, logo para mim este já é um espetáculo muito diferente daquele que fazíamos há dois anos atrás. Para além disso vou ter dois convidados muito especiais no Porto e em Lisboa que são a Sara Tavares e o Pedro Moutinho e me vão dar a honra e o prazer de partilhar o palco comigo.
Muito obrigado por proporcionar esta partilha com os nossos leitores. Há projetos novos para breve?
Estou a começar a pensar em gravar um novo disco. Estou a pensar nesse assunto juntamente com a minha editora que é a Sony França. De qualquer maneira, para já, ainda não posso adiantar muito mais. Para já queremos terminar esta tournée em novembro para que depois me possa vir a concentrar no trabalho do próximo disco.
Sistema de comentários desenvolvido por CComment