João Pires. Uma breve conversa sobre o “Lisboando”
Entrevistámos João Pires, uns dias antes do seu espetáculo no Museu do Fado. Falámos da sua música que espelha um português que já viajou pelos quatro cantos do mundo. Na sua discografia já conta com os álbuns "Caminhar" e "Coladera". Com o “Coladera” foi eleito pela revista brasileira Embrulhador um dos 100 melhores álbuns de 2014. O mesmo disco ganhou o reconhecimento da BBC6 Radio no programa de Gilles Petterson e da parisiense Lusophonie. Atualmente vive entre Portugal e o Brasil. Agora lança "Lisboando", o seu terceiro disco influenciado pelo Fado e por outras linguagens vivenciadas ao longo das suas viagens. O disco contou com vários convidados, destacando-se as participações de Aline Frazão, Cristiana Águas, Dino D'Santiago, Pedro Moutinho, Marcos Pombinho, Francesco Valente, Diogo Duque, Ivo Costa, Sebastian Scheriff, Miroca Paris, João Frade, Marcos Suzano e Poliana Tuchia.
O João Pires é um músico viajado. Considera que isso faz com que a sua música ganhe um caráter singular? ... E, já agora, pode dizer-nos quais as influências que mais se espelham na sua música?
Sim, podemos dizer que sim. Quanto às influências, eu fui e sou muito influenciado pela música cabo-verdiana, brasileira, pelo flamenco e até um pouco pela música clássica.
Falou do flamenco... é daí que vem a sua paixão pela guitarra?
Sim, mas a paixão pela guitarra vem desde pequeno. No entanto, o flamenco foi aquele empurrão de que precisava para tocar mais e querer saber mais. Sobretudo para estudar mais.
Nem todas as suas músicas têm letra ou poema associado. Considera que às vezes é preciso deixar espaço para que a melodia “fale”? A melodia pode trazer mensagens que não são fáceis de traduzir em palavras?
Sim. Para mim isso é muito importante. Para mim, fazer música instrumental traduz-se num prazer enorme. Gosto da canção com letras mas faço sempre muitas músicas instrumentais. Concordo perfeitamente com a frase que disse pois traduz muito bem o que penso: “A melodia pode trazer mensagens que não são fáceis de traduzir em palavras”.
Então, quando tem tempo para ouvir música, privilegia a música instrumental?
Sim. Ouço bastante música instrumental. Ouço muito Carlos Paredes, Paco de Lucía... Ouço muito o jazz de Miles Davis, John Coltrane...
Um dos seus discos foi eleito pela revista brasileira “Embrulhador” como um dos melhores 100 álbuns de 2014. A sua música tem, portanto, chegado longe tendo até a BBC 6 passado a sua música no programa de Gilles Petterson. Atribui esse facto à sua originalidade?
Tudo isso acontece, em primeiro lugar, devido a muito trabalho. Depois há o facto de ter saído de Portugal para morar no Brasil. O Brasil abriu-me de facto as portas para o mundo. O Brasil é um “mundo” diferente. Depois de estar dois ou três anos pelo Brasil comecei a ir para fora fazer concertos.
Isso acabou por lhe dar a oportunidade de contactar com grandes nomes da música brasileira. Há alguns nomes que queira destacar dessas vivências?
O mestre Marcos Suzano. Foi uma vivência suficientemente forte para que fizéssemos um disco. O meu “Coladera”, meu segundo álbum, foi feito com ele.
“Lisboando” é o seu 3º álbum. Considera-o muito diferente dos anteriores?
Todos os álbuns acabam por ser diferentes. Sigo no entanto a linha comum de colocar nele temas instrumentais e temas cantados. A diferença principal reside no facto de me focar mais na música portuguesa, numa polaridade bem lisboeta.
Daí chamar-lhe “Lisboando”?
Sim.
O disco conta com várias participações especiais. Pode revelar aos nossos leitores alguns desses nomes?
Nas vozes temos a Aline Frazão de Angola e o Dino D’Santiago de Cabo Verde. Daqui temos a participação do Pedro Moutinho, a Cristiana Águas e depois tivemos ainda alguns músicos como o Marcos Pombinho nos teclados, o Francesco Valente no baixo, o Diogo Duque no trompete, o Ivo Costa na bateria, o João Frade no acordeão, o Miroca Paris e o Sebastian Scheriff nas percussões. O Marcos Suzano também grava uma faixa no disco.
Ao vivo também serão estes os músicos?
Ao vivo atuarei em quinteto, ou seja, eu, o Francesco Valente no contrabaixo, o Marcos Pombinho no piano, o Diogo Duque no trompete e na percussão vamos revezando... ou o Sebastian Scheriff, ou o Ivo Costa. Este será o núcleo duro mas, sempre que for possível gostaria de fazer um octeto com outros convidados, outros cantores... (risos).
Falando então de espetáculos, podemos agora falar de datas. Já há concertos marcados para a apresentação deste “Lisboando”?
Agora no dia 1 [de outubro] iremos fazer aqui uma pequena apresentação no Museu do Fado. Será um pequeno Showcase... Depois estaremos no B.Leza em dezembro e, a partir daí esperamos tocar mais em palco.
Visto já ter andado por tando lado, consegue certamente ter uma visão privilegiada sobre os diversos panoramas musicais... Portugal está no bom caminho?
Não sei se estaremos no bom caminho mas estamos no momento certo. Um momento de grande criatividade e de grande produtividade. No entanto, penso que se deveriam dar maiores oportunidades aos músicos para tocar ao vivo. Faltam sobretudo incentivos estatais e por parte das organizações. Temos tantos teatros incríveis, bem equipados, pelo país e, no entanto, faz-se muito pouca programação e, sobretudo aposta-se muito pouco nos novos músicos e nos novos projetos.
Muito obrigado por este tempo que esteve connosco. Para além do “Lisboando”, no qual está obviamente muito focado agora, já pensa noutros projetos?
Projetos discográficos, por agora não. Mas continuo com muitos concertos do “Coladera”. No início do próximo ano vou fazer uma tournée pela Europa com o “Coladera”.
Sistema de comentários desenvolvido por CComment