Ricardo Silva. A guitarra portuguesa e a paixão pela música.
«Felizmente, o Fado hoje-em-dia é cada vez mais um dos principais cartões-de-visita de Portugal. Não só se destina ao “consumo interno”, como também é muito procurado pelos turistas que são uma constante nas casas de fado, maioritariamente nas grandes metrópoles, como Lisboa, Porto ou Coimbra, mas também um pouco por todo o país. A nossa canção vive uma crescente divulgação por todo o mundo e esta procura por parte do público leva a uma maior oferta de trabalho para quem a pratica. Ao longo da sua história o Fado atravessou altos e baixos, no entanto nunca passou de moda, nem nunca passará, por isso, seja em grandes salas, auditórios, associações, casas de fado, etc. haverá sempre muito trabalho para quem o quiser promover e divulgar». Ricardo Silva
Ricardo Silva começaste a tocar guitarra portuguesa aos 7 anos de idade. Como surgiu o interesse por este instrumento musical?
A Guitarra Portuguesa sempre foi uma constante na minha vida. O interesse surgiu de pequenino, pois o meu pai, Tó Silva, tocava este instrumento e desde cedo a sua sonoridade entoava por toda a casa. A minha infância foi marcada por uma forte ligação com a guitarra. Aos 7 anos comecei a aprender com o meu pai, o meu primeiro grande mestre.
Já acompanhas fadistas desde muito cedo. Esta é uma área onde ainda há mais procura do que oferta? Os guitarristas desta área têm sempre muito trabalho?
Felizmente, o Fado hoje-em-dia é cada vez mais um dos principais cartões-de-visita de Portugal. Não só se destina ao “consumo interno”, como também é muito procurado pelos turistas que são uma constante nas casas de fado, maioritariamente nas grandes metrópoles, como Lisboa, Porto ou Coimbra, mas também um pouco por todo o país. A nossa canção vive uma crescente divulgação por todo o mundo e esta procura por parte do público leva a uma maior oferta de trabalho para quem a pratica. Ao longo da sua história o Fado atravessou altos e baixos, no entanto nunca passou de moda, nem nunca passará, por isso, seja em grandes salas, auditórios, associações, casas de fado, etc. haverá sempre muito trabalho para quem o quiser promover e divulgar.
Ricardo Dias, Fernando Marques, Bruno Costa, Jorge Gomes e José Santos Paulo são nomes muito importantes para ti? Foste muito influenciado por todos?
Sim. São, sem dúvida grandes, cultores da guitarra portuguesa e eu tive a felicidade de os ter como professores, principalmente na vertente da Guitarra de Coimbra. Aprendi muito com todos eles.
Em 2004 e em 2005, participaste na Grande Noite do Fado em Lisboa. Foram momentos muito importantes?
A participação em eventos como a Grande Noite de Fado e outros da mesma índole, é sempre importante pela aprendizagem e pela experiência enriquecedora que nos oferece, pois temos contacto com pessoas diferentes ligadas à mesma área e a possibilidade de partilhar as nossas vivências musicais uns com os outros. São constantes aprendizagens.
Tendo em conta a tua formação superior poderemos afirmar que a educação musical é outra das tuas paixões?
Paixão será, talvez, uma palavra muito forte. A educação musical é de facto uma das minhas formações e gosto muito dessa vertente de ensino da música, contudo não dei continuidade profissional nessa área, uma vez que a guitarra portuguesa falou (neste caso tocou!) mais alto. Essa sim, é a minha paixão!
Em 2012 foste condecorado com a Medalha de Ouro de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Pombal. Sentiste que afinal «Santos da casa até fazem milagres»?
Neste caso concreto, não fui só eu condecorado, foi também o meu pai juntamente com o meu irmão João Silva. Felizmente, sempre fomos muito acarinhados pelas gentes da nossa terra e é gratificante quando o nosso trabalho é reconhecido.
Tens o 8º grau do curso de Guitarra Portuguesa do Conservatório de Música de Coimbra e a Licenciatura em Guitarra Portuguesa da Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco. Nestes dois percursos formativos há nomes que não podes deixar de referir?
Sim. No Conservatório tive como professor, já referido acima, José Santos Paulo. Foram 8 anos de muita aprendizagem e a quem devo muito do meu conhecimento na guitarra portuguesa e no seu diversificado reportório. Em Castelo Branco, direi que tenho o privilégio de partilhar a sala de aula com um dos melhores guitarristas de sempre, de seu nome Custódio Castelo. Não posso deixar de referir todo o seu percurso e o enorme contributo que tem dado a este instrumento, levando-o além-fronteiras e transmitindo aos seus alunos, com mestria e generosidade, todos os seus recursos e conhecimentos.
Esta semana estás a tocar com o Diego Galaz e com o Zé Perdigão num espetáculo que talvez seja muito diferente daquilo que habitualmente fazes. Encaras experiências deste género como desafios?
Sim. São desafios muitas vezes difíceis, mas que ao mesmo tempo nos dão imensa satisfação. É aliciante explorar o instrumento de outra forma, viajando por outras sonoridades que não as do seu “habitat natural”, neste caso o Fado.
A 19 de maio demos a notícia do lançamento do teu disco “Semente”. Como tem sido a reação a este trabalho?
Tem tido uma reação muito boa por parte do público. Pelas salas onde passamos, temos sido sempre bem recebidos e as pessoas gostam de nos ouvir.
Como caracterizas este trabalho “Semente”?
Esta “Semente” é um disco de homenagem ao nosso pai que nos deixou em 2012. A ideia surgiu após o seu desaparecimento, pois quisemos perpetuar todos os bons momentos que passámos e registar o nosso percurso musical até então. A sua influência foi preponderante nas nossas vidas pessoais e profissionais e este disco é um marco que relata as histórias da nossa infância, as viagens que a música nos proporciona, os amigos que fazemos ao longo do caminho e com quem partilhamos a nossa arte, o tributo aos nossos ídolos que são sempre referências nas nossas vidas... Semente é um trabalho de música instrumental, em que a Guitarra Portuguesa assume a voz principal, mas que se enlaça timbricamente com outros instrumentos musicais. Tivemos o privilégio de contar com muitos músicos convidados a quem agradecemos profundamente. A todos os que nos ajudaram a plantar a Semente, muito obrigado!
Muito obrigado por este tempo que dedicaste ao nosso público. Há projetos novos na calha que possas revelar aos nossos leitores? Alguns sonhos por concretizar?
Sim. Além das noites de fado onde continuo a atuar como acompanhador e do disco Semente, neste momento integro um projeto que se chama “Catraia”. É um grupo com seis elementos e que tem uma sonoridade bem portuguesa e uma Catraia que nos conta as suas histórias em forma de canção. Sonhos por concretizar? A vida são sonhos constantes, acordamos de um e entramos noutro. Está sempre tudo por fazer!
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