Tiago Bento e o seu clarinete na rota do sucesso

Tiago BentoClarinetista, jovem, mas com relevantes conquistas internacionais, Tiago Bento diz-nos: «(...) a escola de clarinete em Portugal é uma referência e isso é um facto. Temos tido regularmente grandes eventos no nosso país como por exemplo o “Meeting de Loures”, o festival “Clarinet Talents”, a “Academia Ibero-Americana” onde podemos encontrar nomes sonantes do clarinete a nível mundial. Isto é uma coisa que há muitos anos atrás não seria de todo possível realizar no nosso país. Portugal está na rota da elite mundial a nível do ensino do instrumento. Agora, não podemos considerar na totalidade um dos maiores centros mundiais de clarinete porque temos pouquíssimas oportunidades de trabalho. Isto é um facto. Deviam, as pessoas com responsabilidades institucionais para isso, investir mais na cultura e possibilitar uma maior oferta de emprego aos nossos jovens, algo que os prendesse aqui e que não os fizesse querer sair do país em busca de oportunidades de trabalho. Podemos estar a perder aos poucos os nossos maiores talentos, o que me entristece um pouco e com certeza a todos os portugueses».

Muito obrigado por nos proporcionar este espaço no qual os nossos leitores irão saber mais algumas coisas sobre o Tiago Bento. Nélson Aguiar foi o primeiro professor a marcá-lo no sentido de continuar o seu percurso musical?
Em primeiro lugar gostaria de agradecer o vosso convite para conceder esta entrevista. Aos 10 anos de idade fui estudar música para o GDCRF (Grupo Desportivo e Cultural de Ribeira de Fráguas), muito influenciado pelo meu irmão Vasco, que também toca clarinete e pelo meu primo Jorge, saxofonista. Esta escola de música situa-se no centro da freguesia de Ribeira de Fráguas, à qual pertenço. Nélson Aguiar era o professor de clarinete e, embora estivéssemos num meio muito pequeno, o seu rigor, exigência e persistência estavam sempre presentes. Ele era e é atualmente professor no Conservatório Calouste Gulbenkian de Aveiro, e desde início que insistiu comigo para que fosse para lá estudar. Ou seja, posso dizer que foi o primeiro professor a incentivar-me a ir um pouco mais além no estudo do clarinete.

Tiago BentoQuando entrou para o Conservatório Calouste Gulbenkian de Aveiro já tinha em mente que a sua vida iria forçosamente passar por uma carreira musical?
Quando entrei para o Conservatório não pensava ainda em seguir uma carreira musical pois, apesar de ter jeito para o instrumento, ainda era muito jovem. Queria muito ir para lá pois era uma escola conceituada e queria aprender mais.

Luísa Marques, Tiago Abrantes e António Rosa foram pessoas muito importantes nessa fase, em Aveiro?
Sem dúvida! Todos eles foram muito importantes em alturas diferentes do meu desenvolvimento, cada um à sua maneira. Felizmente, tenho tido desde o início excelentes professores de clarinete, sou um felizardo. Com a Luísa Marques dei os primeiros passos no conservatório. Na altura foi engraçado porque a Luísa tocava na minha banda e era a chefe de naipe. Eu não fazia ideia que iria ser aluno dela. Acabou por ser uma mais-valia pois ela acompanhava-me tanto na banda como no conservatório. É sem dúvida uma grande professora da qual tive a sorte de ser seu aluno. Depois, seguiu-se o professor António Rosa. Eu já o conhecia porque tinha feito uma masterclass com ele, portanto ele não era desconhecido para mim. Com o António Rosa completei o 5º grau. Foi muito importante para mim, porque é uma pessoa que adora a música e que adora trabalhar. A aquisição deste professor foi uma mais-valia para o conservatório, pois com ele a classe de clarinete começou a ser um pouco mais dinâmica. Lembro-me que com ele organizou-se um concurso nacional de clarinete, no conservatório de Aveiro, em homenagem ao falecido professor Raínho, e o professor António Saiote era o presidente do júri. António Rosa teve um grande impacto no meu percurso, pois é muito exigente com o estudo individual, sendo uma pessoa com uma mentalidade muito forte, fazendo questão de tentar transmitir essa qualidade para os seus alunos. Este ano, tive a felicidade de voltar a ter aulas com ele na ESMAE, 7 anos depois! É, sem dúvida, uma grande pessoa por quem tenho uma grande admiração. É um apaixonado pela música. Completada esta etapa, seguiu-se uma nova: a conclusão do secundário. Este percurso do 6º ao 8º grau foi realizado com o professor Tiago Abrantes.
Podia descrever Tiago Abrantes numa única palavra: GRANDE! Grande pessoa, grande músico, grande amigo, grande companheiro.... Enfim, grande! Este professor foi talvez o que me causou mais impacto no conservatório pois deu-me aulas já numa fase tardia da minha adolescência (16 aos 19 anos) e eu já via as coisas com outros “olhos”. Tem um tipo de abordagem diferente do que eu estava habituado. Havia aulas em que praticamente nem tocava e só falávamos. Falávamos não só de música, mas sim da vida na generalidade. Estes pormenores ajudaram-me imenso na maneira de não pensar só e apenas no clarinete, mas em tudo o que nos rodeava. Pois como ele dizia “Temos que viver! A maioria das pessoas apenas sobrevive” ou “Antes de sermos músicos, somos pessoas”. São frases simples mas é necessário interiorizá-las. Este professor, tal como o antecessor, também é um apaixonado pela música e é uma pessoa muito dinâmica. Havia sempre audições regulares, e nem só de peças! Fazíamos audições numa pequena sala também de estudos e escalas. Em suma, é uma pessoa que deu muito ao conservatório e que permitiu que eu tivesse uma grande evolução.

António Saiote, Michel Arrignon, Nuno Pinto, Florent Héau, Henri Bok, John Cipolla, Carlos Alves, Piero Vicenti, Mauricio Murcia, Juan Ferrer, Vitor Pereira, Valdemar Rodriguez, foram outros nomes que foram aparecendo no seu percurso formativo. De que forma o influenciaram?
Trabalhei com estes professores principalmente em masterclasses. O objetivo quando se participa neste tipo de iniciativas é principalmente procurar opiniões distintas, abordagens diferentes que nos possam ajudar a compreender e entender melhor a música. Ou seja, o facto de ter aulas individuais e de poder também ouvir os colegas a tocar, torna-se superinteressante. É muito bom poder observar o modo como cada professor transmite os seus ensinamentos aos alunos. Assim sendo, de todos estes nomes realçados, posso dizer que aprendi com todos eles, cada um com o seu cunho pessoal, não só apenas nos aspetos musicais mas também nas maneiras de enfrentar a realidade no dia-a-dia.

Tiago BentoRecorda-se do dia em que venceu o 1º “Concurso Interno” do Conservatório de Música de Aveiro? Sentiu que poderia triunfar noutros contextos que não somente aquele mais restrito da sua escola?
Claro que me recordo! Foi uma sensação muito especial. Tenho de referir também que não fui o único a obter tal feito. Fomos três alunos que o júri achou que deveriam ser contemplados com o prémio: Eu, a Ana Rita Oliveira (flauta) e o Gonçalo Lélis (violoncelo). Por esse facto é que foi incrível, pois o nível era altíssimo e conseguíamos manter uma relação de amizade entre nós, mas ao mesmo tempo de respeito pelo trabalho de cada um. Senti na altura que o prémio me trouxe um pouco mais de confiança para continuar a prosseguir o meu caminho na aprendizagem do clarinete.

Mas nesse mesmo ano acaba por ainda obter outra distinção em Aveiro...
Sim, é verdade. Fui galardoado com o Prémio da Fundação Engenheiro António Pascoal, que é entregue ao melhor aluno do conservatório de cada ano letivo.

O 1º Prémio na categoria “Young Artist Competiton” da International Clarinet Association, realizado em Assis (Itália) foi o grande ponto de viragem na sua carreira? Fale-nos desta experiência.
Esta foi sem dúvida uma experiência marcante para mim. Foi o primeiro concurso que realizei fora de Portugal e consegui um resultado tão bom... não estava nada à espera... Já tinha ouvido falar bastante deste concurso pois já vários portugueses o tinham vencido ou ganho prémios nos últimos anos com alguma frequência, como por exemplo António Rosa, Cândida Oliveira, David Silva, entre muitos outros. Este concurso realiza-se anualmente no “Clarinetfest” em que a primeira ronda é feita através de uma gravação áudio. Quando recebi o e-mail nem queria acreditar que tinha passado à semifinal. Então foquei-me no concurso sempre com a ajuda do professor Saiote. Quando passei à final disse para mim mesmo “Já que cheguei até aqui, vou tocar sem pressão e apenas desfrutar” e foi o que fiz. Quando anunciaram o meu nome fiquei sem reacção, nem queria acreditar... Com tantos clarinetistas de tantas partes do Mundo (Portugal, Espanha, Rússia, EUA, China, Hungria...) e eu, da pequena freguesia de Ribeira de Fráguas, tinha acabado de vencer o concurso. Só mais tarde é que me apercebi que tinha sido um grande feito para mim, e claro, para o clarinete em Portugal. Foi um momento único. Conheci muitos clarinetistas excelentes, como o Stephen Vermeesch (atual presidente da Associação Europeia de Clarinete) que era o presidente do júri na final, onde estava também a Shirley Brill. Conheci os representantes das principais marcas, vi muitos recitais e concertos de nível mundial, como o do Ricardo Moralez, Philippe Cuper, Philippe Berrod, Eddie Daniels, Corrado Giufreddi... Em suma, foi uma oportunidade de alargar horizontes. Neste aspeto, foi sem dúvida um ponto de viragem na minha curta carreira.

Tiago Bento2014 também foi um ano de grandes conquistas. Pode partilhar com os nossos leitores o percurso que o levaram a obter tão altas distinções em Itália e na Polónia?
É verdade, 2014 foi um grande ano para mim. A passagem à meia-final do Prémio Jovens Músicos (PJM) e poder tocar na sala 2 da Casa da Música foi também uma grande experiência. Em Setembro, fui participar no “8th Michal Spisak International Music Competition” em Katowice, Polónia. Era um grande desafio, pois o concurso era dividido em 3 rondas e a final era tocada com orquestra! Assim que soube deste concurso e vi como funcionava interessou-me muito participar nele. Nesse ano as categorias eram: clarinete, saxofone e acordeão. Éramos cerca de 30 clarinetistas, um número elevado. As expectativas não eram muito altas, mas lá ia pensando etapa a etapa e fazendo o meu melhor. Passei à final juntamente com mais 2 pessoas: um espanhol (José Camacho) que estudava na Suíça, em Basel e um polaco (Adam Eljasinski) que estudou em França, em Nice. Na final iríamos tocar com a Zabrze Symphony Orchestra o Concerto de Mozart. Foi um momento que jamais irei esquecer, é mesmo um concerto divino... Obtive o 2º Prémio. A experiência na Polónia foi única, é um país com uma forte tradição cultural e as pessoas são muito recetivas. Regressado da Polónia, o professor Saiote falou-me de um concurso em Itália que era interessante para eu ir, que devia aproveitar. Decidi inscrever-me e participar. Este concurso realizou-se na cidade italiana de Todi, na belíssima região da Umbria, e era uma homenagem a um grande clarinetista italiano, Ciro Scarponi. O concurso era similar ao da Polónia: 3 eliminatórias e na final, em vez de tocar com orquestra, tocava-se o quinteto de Mozart com quarteto de cordas. Neste concurso passámos 3 à final: eu, o José Pinto (aluno do prof. Nuno Pinto na ESMAE) e o Antonio Capolupo, aluno de Alessandro Carbonare na Academia Santa Cecília, em Roma. Foi um grande resultado para o clarinete em Portugal, pois consegui o 1º Prémio e o José Pinto o 3º lugar. Além do 1º prémio, recebi também o Prémio de melhor interpretação da peça de século XX. Mais uma vez, é um dia que não esquecerei... Tocar o quinteto de Mozart foi único...

Mais recentemente alcançou o Prémio “Helena Sá e Costa”. O que significou para o Tiago, e que mais-valias lhe trouxe, esta conquista?
Teve um gosto muito especial. Este prémio na ESMAE tem uma grande tradição. Assim de memória, é muito raro um instrumentista de sopro vencer este prémio, pois na maioria das vezes costumam vencer cordas ou pianistas. Nada contra, o nível é sempre muito alto. Lembro-me bem de ver o concerto com a orquestra sinfónica da ESMAE do Fernando Costa (violoncelo), do Mário Siegle (violino), e dos pianistas Pedro Costa, Laura Felício e João Monteiro, todos excelentes músicos. Nos últimos três, quatro anos, não houve músicos de sopro (que me recorde, posso estar enganado), ou então se houve, foi um número muito reduzido, que tivessem obtido este prémio. Foi um grande desafio, pois tive que concorrer com colegas de todos os instrumentos, daí este feito ter sido muito importante para mim, pois permite-me apresentar como solista com a orquestra sinfónica da ESMAE. Um outro pormenor que me deixou também muito satisfeito foi que desde a existência deste concurso, poucos clarinetistas o venceram. Estamos a falar de nomes como Nuno Pinto, Luís Carvalho, João Pedro Santos (peço desculpa se faltar alguém, assim de memória são os nomes que me vêm à cabeça). Foi para mim uma honra poder adicionar o meu nome junto do deles nesta conquista. Graças a este prémio, irei participar no final de Outubro num festival de música em Porto Alegre (Brasil) onde irei fazer um recital a solo e concertos de música de câmara. Com certeza que irá ser uma oportunidade inesquecível.

Então maio de 2016 voltará a proporcionar-lhe momentos inesquecíveis...
Sim, em Maio de 2016 irei apresentar-me como solista com a orquestra sinfónica da ESMAE.

Tiago Bento

Enquanto solista tem tido oportunidade de tocar em algumas orquestras. Quais as orquestras em que já passou como solista?
A primeira vez que toquei com como solista com orquestra foi em 2011. Toquei o 1º Concerto de Weber com a Orquestra Filarmonia das Beiras, no Teatro Aveirense, em Aveiro. Foi uma experiência que me marcou muito. Também já tive a oportunidade de tocar com a Zabrze Symphony Orchestra (Polónia). Outro momento que me marcou muito, apesar de não ser uma orquestra sinfónica, foi poder tocar como solista com a Orquestra de clarinetes “Príncipe das Astúrias” no 1º festival do ECA (European Clarinet Association), em Dezembro de 2014 na Polónia. Não podia deixar de referir que em Março de 2015 toquei como solista com a ARMAB, sendo também um momento muito especial para mim.

Sente-se um privilegiado por, mesmo sendo tão jovem, já ter participado em recitais e concertos em países como Espanha, Holanda, Itália, Polónia e França?
Sinto-me um privilegiado por poder fazer o que gosto, estudar música! Graças a isso é que tive a oportunidade de sair do país por várias ocasiões. Tocar nestes países só me foi possível devido ao facto de existirem formações como a ARMAB que constantemente procuram evoluir e mostrar o trabalho que por cá se realiza fora de portas. Com esta formação já toquei em vários concursos e concertos em Espanha, Holanda e França. Todas estas experiências me proporcionaram grandes vivências a nível profissional e pessoal. Tenho também de referir a participação da orquestra de clarinetes “Príncipe das Astúrias” no recente congresso europeu e mundial de clarinete, realizados na Polónia e Espanha, respetivamente. Devo muito a este tipo de formações porque me possibilitam um maior conhecimento além-fronteiras.

Acaba por ser o fruto de muito trabalho... Privou-se de muitas coisas para chegar até aqui?
Foi fruto de fazer o que mais gosto e de querer evoluir cada vez mais no dia-a-dia. Claro que é preciso uma grande dose de responsabilidade, estudo, concentração, persistência... Mas quando se alia tudo isto com a paixão pelo que se faz, deixa de ser um “martírio” para passar a ser um prazer. É ótimo poder desfrutar no dia-a-dia do que escolhi como profissão, ser músico. Há sempre tempo para tudo, por isso não me privei de muitas coisas. Há que saber gerir o tempo. Quando é para trabalhar é para trabalhar, mas quando é para divertir, há que aproveitar.

Tiago BentoQuais os projetos profissionais que abraça neste momento?
Neste momento acabei de finalizar a minha licenciatura na ESMAE. No próximo ano letivo, irei estar inscrito no Mestrado em Performance nesta mesma instituição. Como ainda estou a prosseguir estudos, de momento toco na ARMAB e de vez em quando colaboro com a Banda Sinfónica Portuguesa. Sou membro da Atlantic Coast Orchestra. Também faço parte de uma formação que ainda está no seu início que é o “Black&White 6tet”, um sexteto de clarinetes composto por mim, pelo Vítor Fernandes, Carlos Ferreira, José Pinto, João Ramos e Frederic Cardoso. Dá um gozo enorme poder tocar com eles. Atualmente lecciono na Academia ARMAB.

António Saiote marcou-o muito?
Sim, sem dúvida! Aliás, em Portugal o nível do clarinete deve-se à grande escola que António Saiote implementou nos últimos 30 anos. Indiretamente, antes de ir para a ESMAE já estava “ligado” a ele, pois os meus professores do conservatório já tinham sido seus alunos. Então já ia adquirindo aos poucos um pouco da sua sabedoria. Sempre que fui ao estrangeiro e me apresentava dizendo o meu nome, instrumento e país, quando se ouviam as palavras clarinete e Portugal a primeira reacção das pessoas era: António Saiote! Isto demonstra bem a sua grandeza. António Saiote é um mestre, não apenas um professor de clarinete. Ensina os alunos a tomarem opções, a agirem, a superarem-se enquanto humanos e ensina também a pôr o máximo de nós no mínimo que fazemos. É um grande músico. É uma honra poder receber os seus ensinamentos e pertencer à classe de clarinetes da ESMAE pois o nível dos seus alunos, quer da classe do professor Saiote quer da classe do professor Nuno Pinto, é muito alto.

O que sonha para o seu futuro?
Gostaria um dia de poder ingressar numa orquestra profissional, de preferência em Portugal. Também gostaria de poder ter uma carreira como solista, fazendo muitos recitais e concertos com formações de música de câmara. Dar aulas é uma opção que não posso descartar, pois é praticamente certo que vou ter que o fazer. Também é uma coisa que me agrada, e muito, poder partilhar ensinamentos, vivências. É uma grande responsabilidade ser professor de instrumento, pois é um tipo de ensino em que há uma proximidade maior entre o professor e o aluno, possibilitando assim um intercâmbio de ideias e experiências que é bastante enriquecedor para ambos os lados. Uma experiência no estrangeiro também era algo que gostaria de fazer, pois gostaria de viver numa outra realidade que não Portugal. Enfim, gostava de poder viver confortavelmente através da música, o que nos dias de hoje, infelizmente, começa mesmo a ser um sonho.

Quais os principais conselhos que daria a um jovem que se encontra agora a dar os primeiros passos no estudo do clarinete?
O maior conselho que posso dar é nunca desistir, nunca baixar os braços! Lutar sempre pelos objetivos, etapa a etapa. Com trabalho e persistência, acredito que as coisas acabarão por aparecer. Principalmente, gostando do que se faz.

Muito obrigado por este tempo que nos dedicou. Portugal é, na sua opinião, um dos grandes centros mundiais do clarinete?
É e não é ao mesmo tempo. É, na medida em que ao longo dos últimos anos temos tido excelentes resultados por parte dos clarinetistas portugueses no estrangeiro e também cá dentro. Também cada vez mais há uma maior procura das escolas portuguesas por parte de alunos estrangeiros, existindo cada vez mais estudantes a quererem vir estudar para cá, quer como concurso local ou ao abrigo do programa Erasmus. Ou seja, a escola de clarinete em Portugal é uma referência e isso é um facto. Temos tido regularmente grandes eventos no nosso país como por exemplo o “Meeting de Loures”, o festival “Clarinet Talents”, a “Academia Ibero-Americana” onde podemos encontrar nomes sonantes do clarinete a nível mundial. Isto é uma coisa que há muitos anos atrás não seria de todo possível realizar no nosso país. Portugal está na rota da elite mundial a nível do ensino do instrumento. Agora, não podemos considerar na totalidade um dos maiores centros mundiais de clarinete porque temos pouquíssimas oportunidades de trabalho. Isto é um facto. Deviam, as pessoas com responsabilidades institucionais para isso, investir mais na cultura e possibilitar uma maior oferta de emprego aos nossos jovens, algo que os prendesse aqui e que não os fizesse querer sair do país em busca de oportunidades de trabalho. Podemos estar a perder aos poucos os nossos maiores talentos, o que me entristece um pouco e com certeza a todos os portugueses. Mais uma vez, agradeço o convite para a realização desta entrevista. Espero que continuem o vosso excelente trabalho. Votos de muito sucesso.

Tiago Bento e o seu clarinete na rota do sucesso

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