Tomás Pimentel. O trompetista em entrevista.

Tomás PimentelO trompetista que revê a sua voz no fliscorne aceitou partilhar com os nossos leitores a sua carreira e o seu pensamento relativamente à música em Portugal. «Pode-se dizer que sou um apaixonado pela sonoridade do fliscorne, até porque o considero como o “meu instrumento”, a “minha voz”. É com a sua sonoridade que me identifico mais». Relativamente aos sucessos que os nossos sopros têm obtido por esse mundo fora disse-nos: «Penso que a tradição dos sopros em Portugal vem das bandas filarmónicas, só que hoje em dia os músicos têm acesso - ou tiveram nos últimos anos, não tenho noção em que medida a crise veio afetar esse acesso - a ensino especializado com muito bons professores, coisa que não acontecia tanto há 20 ou 30 anos atrás».

Obrigado por partilhar com os nossos leitores um pouco da sua vida e da sua carreira. Embora seja trompetista, o primeiro instrumento que aprendeu não foi o trompete. Como foi a sua aprendizagem musical? Quando aparece o trompete na sua vida?
Eu comecei por estudar piano, ainda muito pequeno (5-6 anos de idade), com a minha Avó e depois com uma professora amiga da minha Mãe - Sharon La Rocca Miranda. O marido desta professora, Gil Miranda, dava-me aulas de Formação Musical, que incluíam a parte teórica, treino auditivo, treino e leitura rítmica, etc... Anos mais tarde, pouco depois do 25 de Abril, os dois tiveram de ir viver para os Estados Unidos e eu resolvi, então com 14 anos, inscrever-me no Conservatório Nacional de Lisboa para frequentar a disciplina de trompete e continuar os estudos musicais, deixando de lado o estudo do Piano. Nesta altura já tinha já feito os exames do 4º ano de Piano e do 4º ano de Formação Musical como aluno externo.

A Educação Musical e a Composição foram áreas pelas quais se apaixonou mais tarde? O que viu em cada uma delas?
O gosto pela Educação Musical nasceu quando dava aulas na Escola de Jazz do Hot Clube no início dos anos 80. O gosto pela Composição surgiu no seguimento de uma encomenda para compor música para um filme de um amigo do meu irmão mais velho, Leandro Ferreira. A partir daí comecei a compor para o grupo do qual fazia parte, o Sexteto de Jazz de Lisboa.

Tomás PimentelNa Escola de Música do Conservatório Nacional em Lisboa houve professores que o tenham marcado efetivamente?
Os professores que me marcaram no Conservatório foram o meu professor de trompete, José Augusto Carneiro, os vários professores de Composição, Maria de Lurdes Martins, Christopher Bochman, Elisa Lamas...

E noutros percursos formativos? Recorda-se de nomes que ainda hoje se reflitam na forma como toca e como encara a música?
O José Eduardo foi muito importante na minha curta formação como músico de Jazz. Frequentei também Workshops com Clark Terry e Terence Blanchard.

José Afonso, Júlio Pereira, Fausto, José Mário Branco e Sérgio Godinho são alguns dos nomes da música portuguesa que já acompanhou. Considera que a sua versatilidade e adaptabilidade a projetos tão díspares advém do facto de ter estudado em escolas tão diferentes entre si como são o Conservatório e o Hot Clube?
Tem com certeza a ver com isso mas também com a música que ouvia em casa desde muito pequeno.

Habituámo-nos a vê-lo tocar em programas de televisão como músico residente. Gosta de fazer este tipo de trabalho? Nestes casos os reportórios têm que ser assimilados muito rapidamente, não é?
Era um tipo de trabalho que eu fazia por razões económicas, o que não impedia que me esforçasse sempre por tirar prazer dessa atividade. É fundamental nesse tipo de trabalho ter boa leitura à primeira vista e perceber como deve soar aquilo que está escrito.

Recorre muitas vezes ao fliscorne. É um “apaixonado” pela sonoridade deste instrumento?
Pode-se dizer que sou um apaixonado pela sonoridade do fliscorne, até porque o considero como o “meu instrumento”, a “minha voz”. É com a sua sonoridade que me identifico mais.

Por que razão os trompetistas não recorrem a este instrumento com maior frequência visto ter uma sonoridade tão doce e tão redonda? Na prática a digitação é a mesma...
Talvez não recorram tanto porque por vezes não é fácil em termos de embocadura mudar de um instrumento para outro na mesma atuação. A forma de soprar é diferente. Por outro lado, há trompetistas que conseguem ter um som doce e aveludado no próprio trompete, normalmente recorrendo a bocais mais largos e com a bacia mais funda.

Tomás PimentelTambém abraça a carreira docente. É importante para si estar em contacto com os seus alunos? É uma oportunidade de refletir sobre a sua praxis enquanto músico?
É muito importante para mim dar aulas, assim como para a maior parte dos músicos que conheço, exatamente pela razão que aponta na pergunta.

Sente que o panorama musical português mudou muito desde aqueles tempos em que começou a tocar?
Sinto que o panorama musical português mudou imenso nos últimos anos. Encontramos hoje em dia imensos músicos em todos os instrumentos e nas diferentes áreas musicais com uma qualidade e uma formação de excelência.

Visto que também está ligado ao ensino, pode dar-nos a sua opinião relativamente à evolução do ensino musical em Portugal?
O ensino da música em Portugal também evoluiu imenso, com a criação de imensas escolas profissionais e, mais recentemente, com a criação de cursos superiores em várias escolas do país na área do Jazz.

Os músicos portugueses estão a “conquistar mundo” nos sopros. A que pensa dever-se tamanho sucesso?
Penso que a tradição dos sopros em Portugal vem das bandas filarmónicas, só que hoje em dia os músicos têm acesso - ou tiveram nos últimos anos, não tenho noção em que medida a crise veio afetar esse acesso - a ensino especializado com muito bons professores, coisa que não acontecia tanto há 20 ou 30 anos atrás.

Editou em 1994 um disco em nome próprio. Pensa fazê-lo mais vezes?
Espero poder fazer mais discos em nome próprio, só dependerá da minha iniciativa ou falta dela.

Muito obrigado por ter proporcionado aos nossos leitores esta viagem pela sua carreira e pelo mundo musical português. Onde poderemos ouvi-lo em breve?
Podem ouvir-me no dia 5 de setembro em Tavira com o Vitorino, no dia 6 de setembro na Festa do Avante com o Sexteto de Jazz de Lisboa (com o Ricardo Toscano a tocar no lugar que era ocupado pelo Jorge Reis, músico insubstituível e único).
Podem ainda ouvir-me no dia 17 de setembro às 19:00 com a Orquestra de Jazz do Hot Clube de Portugal na Ribeira das Naus, em Lisboa, integrada no ciclo “A Arte da Big Band”.

Tomás Pimentel. O trompetista em entrevista.

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