Leo Cavalcanti. O músico que conquista o Brasil, passa por Portugal.
O músico brasileiro Leo Cavalcanti, de passagem por Portugal, aceitou responder às perguntas do Portal do Conhecimento Musical. Mas nem só dos concertos que fará no MusicBox e na Madeira se falou. Os seus discos e o momento que a música brasileira vive foram também tema de conversa numa entrevista na qual ficámos a conhecer melhor o jovem artista. Foi a propósito desse momento da música brasileira que nos disse: “Acho que é um momento de grande volume de produções autorais e de grande variedade, onde as pessoas estão realmente buscando desenvolver suas próprias linguagens musicais, sem querer se enquadrar em caixas. Acho isso maravilhoso, e me identifico. Muitas sementes de coisas novas. É uma grande renovação. Mas não vejo isso como um movimento ideológico unido, com um discurso e uma homogeneidade. Vejo como um fenómeno inevitável e sincrónico de renovação e de ampliação do espectro de expressividade da música popular”.
Leo Cavalcanti, muito obrigado por dedicar um pouco do seu tempo aos nossos leitores. No dia 30 passará por Portugal com um espetáculo no Musicbox. Come será esse espetáculo?
Bom, antes de tudo gostaria de dizer que estou muito feliz e emocionado de trazer meu show a Portugal. É uma grande honra tocar nessa terra que amo e que temos essa inevitável, bela e múltipla conexão. O Concerto Voz e Violão traz o repertório de meus 2 discos, Religar e Despertador, além de músicas inéditas. Esse show traz a essência do meu trabalho, tanto de compositor quanto de intérprete. Estou experimentando uma grande força realizando esse show, porque estou despido de qualquer alegoria: sou eu e a canção, em sua força bruta. É o melhor cartão-de-visita para meu trabalho. Para mim faz todo o sentido.
Através das entrevistas que temos realizado e das notícias que vamos recebendo verificamos que há uma “nova geração” de músicos a emergir do Brasil. Podemos dizer que há um novo movimento musical, uma nova corrente ideológico-musical?
Acho que é um momento de grande volume de produções autorais e de grande variedade, onde as pessoas estão realmente buscando desenvolver suas próprias linguagens musicais, sem querer se enquadrar em caixas. Acho isso maravilhoso, e me identifico. Muitas sementes de coisas novas. É uma grande renovação. Mas não vejo isso como um movimento ideológico unido, com um discurso e uma homogeneidade. Vejo como um fenómeno inevitável e sincrónico de renovação e de ampliação do espectro de expressividade da música popular.
Em 2014 editou o álbum “Despertador”. O facto de este ter conquistado a admiração pública de nomes como Caetano Veloso e Adriana Calcanhoto foi para o Leo um sinal de que trilhava o caminho certo?
O reconhecimento deles veio com o disco Religar. É uma honra absoluta porque admiro esses artistas profundamente. Não posso mesurar suas grandezas que parecem não parar de crescer! Mas utilizo isso como estímulo, e não como um título. Sei que tenho tanto a trilhar... Amo profundamente fazer música cada vez mais. E tenho fome de criar e de me explorar em tantos caminhos distintos dentro da música.
O que trouxe de novo este trabalho (Despertador)?
O Despertador é um álbum com uma sonoridade mais homogénea que o Religar. O Religar é um disco de samples, de recortes digitais, e que tem minha mão de produtor e arranjador musical. O Despertador teve um processo de criação mais colaborativo, onde eu fiquei mais permeável enquanto produtor, o que me fez muito bem. Ele tem uma unidade sonora maior, pois foi gravado praticamente todo ao vivo. Tem a presença de sintetizadores, que trazem um forte elemento eletrónico e espacial à sonoridade. O Religar é heterodoxo...cada faixa tem um universo muito próprio. Além de ser mais conectado com percussão e com a sonoridade do meu violão. O Despertador também tem uma unidade temática ainda mais forte que o religar. Realmente, o “Despertar” da verdade mais íntima está presente em todas as músicas. É até curioso porque nesse disco não há canção de amor romântico. Eu só percebi depois de vê-las juntas. Gosto de reconhecer isso. Pois o amor que está sendo dito ali é um amor que transcende o romantismo.
É um músico que aposta na reflexividade e esta está implícita naquilo que nos canta. Sente que é maior a reflexão do compositor ou, por outro lado, sente que é um provocador e agitador de mentes preguiçosas? Sente no público que este reflete sobre as suas palavras?
Acho que os dois. Compor é um instrumento terapêutico pra mim. Mas gosto de trazer essas reflexões para o universal, ou seja, salientar o aspeto universal delas. Não tenho interesse de falar sobre “mim”, particularmente. Então utilizo para falar de algo que é comum a todos nós. E sim, sinto que ela é provocadora. Existe ali algo que chamo de “romantismo espiritual”, algo que busca a beira e a essência das coisas. Que quer ver as coisas de frente. Não é uma música que não mexa. O público reage profundamente, e cada vez mais recebo feedback de quanto a minha música é presente e marca a vida das pessoas, como é sincrônico com seus processos individuais. Isso ao mesmo tempo me espanta e me estimula. Há quem também reaja com certa defensiva a elas, porque muitas delas tocam em certas “feridas”. Gosto muito de observar as reacções de ambos. São muito interessantes os efeitos opostos que elas provocam.
Quais as suas principais influências musicais? Quais os músicos que mais admira?
Nasci em São Paulo, uma das maiores megalópoles do mundo. Minha formação musical foi muito eclética, o que está naturalmente presente na música que faço. Bebo da fonte da música brasileira de todos os tempos, mas tem de Michael Jackson a Ravi Shankar no meu trabalho. De Beatles a João Gilberto. Tudo o que ouvi, sinto que está bem presente no que faço.
É várias vezes elogiado pela extensão da sua voz e pela irrepreensível afinação. Como foi a sua formação musical?
Meu pai (Péricles Cavalcanti, cantor e compositor) me mostrou o mundo da música popular que hoje vejo ser a base do meu trabalho. Além de vê-lo compor e tocar, e de ir a muitos shows desde pequeno. Com 9 anos ganhei dele um violãozinho. Ele me passou alguns acordes mas eu comecei a descobrir em mim uma relação bem intuitiva com a música, com o meu ouvido. Comecei a tirar canções por mim mesmo, a abrir vozes, a sonhar em querer cantar. Entrei em contacto com a percussão e comecei a tocar profissionalmente aos 13 anos. Fiz algumas aulas de música, mas nada que tenha sido muito extenso. Sempre me quis concentrar mais no aspeto intuitivo da música que faço.
A 5 de outubro vai também apresentar-se na Madeira, no Festival Concertos L que acontece na Estalagem Ponta do Sol. O espetáculo será idêntico ao que apresentará no Musicbox?
Sim, quase idêntico, mas o de Lisboa terá a participação do Tomás Cunha Ferreira, da banda Os Quais, maravilhosa banda daqui de Portugal. Esse encontro será muito lindo.
O que lhe proporciona o ambiente de gravação em estúdio e, em oposição, quais as vantagens do palco para o Leo Cavalcanti? Tira vantagens destes dois ambientes tão díspares?
Eu amo os dois. Sou um “bicho de estúdio” e gosto de produzir por dias a fio... porque também sou produtor e arranjador das coisas que faço – isso faz parte da minha forma de pensar e compor música. É o lugar pra criar. Mas o palco é o do manifestar. Portanto, é muito sagrado para mim. É onde canalizo todo meu sonho e beleza. Tem uma força ali que é incontrolável. Me sinto um canal de algo muito maior que eu. E isso me faz muito bem.
Mais uma vez, muito obrigado por este espaço que cedeu aos nossos leitores. Há novos projetos para breve que possa revelar?
Estou pensando no próximo trabalho, que certamente terá a ver com o Concerto Voz e Violão. Estou no momento de entender qual direção. Mas uma coisa é certa: música feita com o coração, sempre. E por fim, agradeço esse espaço. Espero vê-los no show!
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