Com~Tradição apresentam “Quando o Tempo se Quer Pousar”

Com~Tradição“Não se faz ideia, no meio artístico, quantas cantoras de jazz ou clássicas estão apaixonadas pelo fado e canção portuguesa. (...) Os cantautores portugueses são de uma qualidade elevadíssima. Basta ouvir “Por este Rio Acima” do Fausto, a poesia revolucionaria do Zeca Afonso, as letras do Jorge Palma ou Rui Reininho que faziam nos anos 80 com que miúdos de 9 anos soubessem de cor poesias lindas... “vim para devolver as cidades aos intoxicados da terra, será nos gabinetes que se ditará a nova Guerra”. Os novos cantores portugueses, Miguel Araújo, António Zambujo, Samuel Úria, são exemplos de grande qualidade. Comparando com a cultura Belga, Holandesa ou Francesa, Portugal não fica nada atrás!! Falo de Música e literatura, não falo de Dança ou cinema que conheço menos. Digamos que em termos de produção de conteúdos, Portugal não deixa nada a desejar. Talvez haja alguma coisa a fazer na questão de apoios institucionais a novos projetos. As salas Portuguesas podiam programar muita música Portuguesa e considerar a possibilidade de que os artistas são profissionais e precisam de uma remuneração digna para os seus concertos”.

Muito obrigado por partilharem o vosso trabalho com os nossos leitores. Podem falar-nos um pouco sobre a origem deste projeto? Como foi que tudo começou?
O nosso grupo surgiu dum encontro inesperado entre algumas pessoas que têm raízes comuns e foram viver para fora por diferentes razões. A Cantora, Nicole, é de Miranda do Douro e nasceu em França indo muito cedo para Bruxelas. Nas suas memórias está o folclore e a música tradicional de trás os montes, assim como as interpretações da Amália que ouvia nas viagens intermináveis Bruxelas-Miranda enquanto a mesma cassete dava voltas e voltas. Eu sou o compositor e guitarrista. Fui para Bruxelas estudar contrabaixo na área do Jazz e world music. Entretanto a distância do nosso país aproximou-me das canções em Português, dos nossos cantautores que adoro: Jorge Palma, Fausto, Zeca, Sergio Godinho... Os cantautores Brasileiros: Chico, Djavan,... Quando nos juntamos animamos noites de Fado em Saint Gilles... por coincidência voltámos agora a organizar e vamos tocar hoje (dia da entrevista) no restaurante Castiço na primeira noite de fado... dizia então que nessas noites de fado, mergulhei nessa forma de canção portuguesa mas sem ter a pretensão de interpretar a “levada” da viola da mesma forma que os violas que nasceram em alfama o fazem. Seguramente iria soar pouco natural. Deixei então que as minhas linhas musicais: o jazz, bossa nova, Chorinho, música luso africana, blues, ditassem a forma de acompanhar. Quando o projeto começou a ficar mais sério e que convites para tocar em festivais, academias, centros culturais, começaram a surgir, coincidiu com a minha vontade de fazer canções que logicamente se inspiram no fado, mas abrangem toda esta panóplia de paixões. Penso que é um projeto que tem a sua origem em Bruxelas e reflete o lado fantástico de Bruxelas. É deveras subtil. Os meus amigos que vivem em Portugal perguntam: o que estás a fazer numa terra tão chuvosa. Mas a beleza de Bruxelas está no facto de ser um “cruzamento” de culturas. Cada cultura tem pelo menos um representante. Se quiser conhecer um flautista indiano, um karateka de uma região específica do japão profundo, um pescador dos confins da Noruega... há sempre um elemento de cada canto do mundo. Essa universalidade interessa-me e interessa-me dar às músicas de Contradição uma raiz forte que se perceba que elas vêm de Portugal mas que foram regadas com essas águas universais.

Com~TradiçãoVão fazer em breve alguns concertos cá em Portugal. Sentem alguma ansiedade?
Vamos fazer uma tour de divulgação do projeto pelas Fnac de Porto e de Lisboa e tocamos em 3 cidades. Em Lisboa, no Centro Cultural da Malaposta, Aveiro no Atelier/Galeria Biscoito e no Porto na Casa da Beira Alta onde já fiz um concerto a solo no ano passado. É que a minha mãe vive em Armamar, exatamente na linha que separa o Douro e a Beira Alta. Tenho muitas memórias daí também. A ansiedade que sentimos é pelo facto de termos um grande desejo de que o trabalho seja conhecido do nosso país. É o mesmo fenómeno dos emigrantes que voltam no mês de julho ou agosto e querem contar à família e amigos como está a correr a vida lá por fora. Há aqui um sentimento de ansiedade latente também. Será que as pessoas vão apreciar as histórias, vão acolher bem o nosso regresso?... Bom, eu acho que sentimos o mesmo. Será que as pessoas vão gostar do que andamos a fazer e a mostrar como cultura portuguesa por essa europa fora? Será que as letras tocam o coração dos portugueses? Os belgas gostam mas não entendem o que dizemos...

Quem são então os músicos que compõem os Com~Tradição? Falem-nos um pouco de cada um de vocês. Tiveram percursos muito diferentes uns dos outros?
Como já me apresentei e falei bastante da Nicole, vou falar agora do terceiro elemento. Começo então pelo Sebastien Taminieau. É um violinista, contrabaixista, belga. Conhecemo-nos noutro projeto os Diab Quintet, onde ele toca violino e eu Contrabaixo. O Sebastien vem do folk/world music e da música clássica. É uma pessoa curiosa – a mais bela virtude belga - e quando encontrei a cantora, não conhecendo nenhum guitarra Portuguesa em Bruxelas lembrei-me de propor ao Sebastien encontrar uma linguagem no violino que servisse a música portuguesa . Para ser sincero, nunca lhe disse para ouvir horas de guitarra portuguesa pois a linguagem a desenvolver tem de ser natural para ele. Ele, como é apaixonado e curioso, lançou-se a ouvir e foi adaptando. O Sebastien toca bem contrabaixo com arco e pizzicato, pudemos então variar os arranjos e como eu toco viola, contrabaixo e bansuri, uma flauta indiana, pudemos criar 12 atmosferas diferentes. Umas músicas com contrabaixo e viola, outras com violino e viola, outras, com violino e contrabaixo, etc...

Com~Tradição, Quando o Tempo se Quer Pousar“Quando o Tempo se Quer Pousar” foi editado em primeiro lugar na Bélgica e só agora chega a Portugal. Como estão a ser as primeiras reações ao vosso trabalho? Falem-nos um pouco do percurso que deu origem a este disco...
Na sequência do nosso encontro numa festa de escola secundária onde eu e a Nicole dávamos aulas de música e holandês/inglês respetivamente, surge a ideia de formar um grupo e animar noites de Fado num restaurante de Saint Gilles, o bairro mais português de Bruxelas. Ao longo de dois anos tocamos cada mês e digamos que ao fim do primeiro Ano, comecei a ter ideias para escrever canções. O Sebastien e a Nicole gostaram das letras e das músicas. Como tínhamos concertos todos os meses, pudemos experimentar, testar, alterar. Foi um bom laboratório para conceber este trabalho. É um processo muito mais humano do que fazer todas as músicas, gravar e só depois mostrar ao público. Depois das canções prontas, fui apresentar o projeto à Embaixada de Portugal e foi muito bem Acolhido. Houve então uma ajuda significativa da Embaixada de Portugal em Bruxelas e do Instituto Camões que nos permitiu produzir o disco. Como eu já estou em Bruxelas há 9 anos, consegui apresentar o projeto em 3 festivais e numa série de centros culturais. Agora que o projeto já está confirmado e, passo a expressão “a rolar” aqui na Bélgica, surge esta necessidade interior de mostrar o trabalho aí em Portugal. Fizemos já alguns concertos no verão passado: Museu de Lamego/Convento de Salzedas, Festival Cais do Fado, e agora este ano continuamos a divulgação com uma mostra mais abrangente via Rádios, uma série de concertos em Lisboa, Aveiro e Porto e uma tour nas lojas Fnac. O nosso maior desejo é que a música chegue ao maior número de pessoas. É para isso que a fazemos.

Pensam que o facto deste vosso trabalho ser apoiado pela Embaixada de Portugal em Bruxelas e pelo Instituto Camões lhe atribui uma maior credibilidade e prestígio?
Bom, o facto é que nos abriu já várias portas. Não é só o apoio financeiro ao GDC, mas a embaixada recomendou o nosso projeto a várias entidades e já tocámos no parlamento de Bruxelas, em Antuérpia, na Universidade Livre de Bruxelas, Na Associação Portuguesa dos Emigrantes na Bélgica...ou seja, em paralelo com os festivais e oportunidades que nós enquanto grupo encontramos, começa a ser um grupo com visibilidade na cena de World Music Belga. Bastante gente nos segue e é sensível à nossa musicalidade. O desafio agora é desenvolver um trabalho na mesma direção aí em Portugal. Para já estamos sozinhos a dinamizar esses contactos e essa procura de concertos. Trabalhamos com uma assessora de imprensa que fez a inserção do CD nas rádios. Organizou uma tour pelas Fnac e agora é a vez do público e da Imprensa se manifestarem e nos dizerem o que acham dos Com~Tradição.

Com~TradiçãoComo vêm a cultura portuguesa atualmente? Quem vê de longe tem um perceção muito diferente?
Portugal tem um património ao nível da canção que é invejável e invejado por muitos. Não se faz ideia, no meio artístico, quantas cantoras de jazz ou clássicas estão apaixonadas pelo fado e canção portuguesa. Na próxima segunda-feira tenho uma reunião com uma cantora polaca que canta fado com uma expressividade enorme e com uma dicção perfeita por exemplo. Os cantautores portugueses são de uma qualidade elevadíssima. Basta ouvir “Por este Rio Acima” do Fausto, a poesia revolucionaria do Zeca Afonso, as letras do Jorge Palma ou Rui Reininho que faziam nos anos 80 com que miúdos de 9 anos soubessem de cor poesias lindas... “vim para devolver as cidades aos intoxicados da terra, será nos gabinetes que se ditará a nova Guerra” . Os novos cantores portugueses, Miguel Araújo, António Zambujo, Samuel Úria, são exemplos de grande qualidade. Comparando com a cultura Belga, Holandesa ou Francesa, Portugal não fica nada atrás!! Falo de Música e literatura, não falo de Dança ou cinema que conheço menos. Digamos que em termos de produção de conteúdos, Portugal não deixa nada a desejar. Talvez haja alguma coisa a fazer na questão de apoios institucionais a novos projetos. As salas Portuguesas podiam programar muita música Portuguesa e considerar a possibilidade de que os artistas são profissionais e precisam de uma remuneração digna para os seus concertos. Essa é a dificuldade que têm tido os Com~Tradição em Portugal.

E como nos vêm os estrangeiros? Vão tendo alguns feedbacks?
Na Bélgica, tocamos no Festival d’art de Huy, Festival Jazz at Home Mechelen, Kleurfeestival Gerardsbergen, em associações para a divulgação da cultura Portuguesa na Flandres, no circuito de world Music de Bruxelas, nomeadamente o Cercle des Voyageurs e o Art Base. Na universidade Livre de Bruxelas, na APEB, no Parlamento de Bruxelas... Têm sido muitas as oportunidades de nos promovermos. Hoje temos Concerto numa noite de Fado aqui em Saint Gilles... ainda que nós não sejamos um grupo de fado mas de canção Portuguesa... O público Belga gosta muito das nuances do grupo. Os feedbacks têm sido muito positivos e dão-nos força para começar a pensar num segundo disco. O que seria ainda mais claro para nós se as reações em Portugal forem boas!

Muito obrigado por esta belíssima partilha com que nos brindaram. Onde podemos ouvir-vos em breve? Quais os próximos concertos?
Obrigado e aqui vão as datas da tour em Portugal! Esperamos encontrar – vos, bem como aos vossos leitores e ouvintes num dos nossos concertos.

17 de julho - Centro Cultural da Malaposta
19 de julho - 17:00 – Fnac de Almada
20 de julho – 18:30 - Fnac Chiado - Lisboa
21 de julho – 21:00 - Fnac Colombo - Lisboa
23 de julho –22:00 Galeria Atelier Biscoito - Aveiro
24 de julho – 18:00 – Fnac de Stª Catarina – 22:00 - Concerto Porto Casa da Beira Alta – Porto
25 de julho – 18:00 - Fnac MarShopping - 22:00 - FNAC GaiaShopping
26 de julho – 17:00 – Fnac – Norte Shopping

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