Drumtupete Jazz Demolition. Hugo Danin, Sérgio Carolino e Gileno Santana em entrevista.
Quando se juntam uma tuba, um trompete e uma bateria, o que se pode esperar? Foi a esta pergunta que quisemos dar resposta em Aveiro, aproveitando a deslocação dos Drumtupete Jazz Demolition a essa cidade no âmbito da segunda edição do Dia do Ritmo. Vieram para romper com conceitos e preconceitos enraizados no mundo do espetáculo e estão dispostos a tudo para fazer a sua música. "Nós vamos tocar quando nos apetecer, às horas que nos apetecer, com as condições que nos apetecer e mais, se não nos deixarem tocar, nós vamos tocar para o meio da rua porque não precisamos de amplificação. Ao contrário de outros projetos onde estamos inseridos por razões profissionais e de necessidade, o que é normal porque somos músicos e dependemos disso, este é daqueles projetos em que nós vamos fazer os possíveis e os impossíveis por nos divertirmos imenso. Queremos dar às pessoas aquilo que de melhor temos, ou seja, a honestidade sonora que temos para deitar cá para fora".
De quem é que partiu esta ideia de juntar uma tuba, uma bateria e um trompete?
(Hugo Danin) A ideia partiu de mim. Mas nada acontece por acaso. Esta ideia só surge porque eu sabia com o que é que podia contar, quer no caso do Sérgio, quer no caso do Gileno. Eu e o Sérgio Carolino já tocámos em vários projetos juntos e agora também estou no quinteto do Gileno. Houve uma coisa que eu fui aprendendo com eles os dois: "Por mais diferentes que os nossos instrumentos sejam, nós raciocinamos a música da mesma maneira". Assim, este projeto teria que viver de três premissas fundamentais. Muito boa disposição, um "balancete" inacreditável e, por fim, teríamos que estar a ouvir exatamente as mesmas coisas. É evidente que o Gileno e o Sérgio ouvem música que eu não ouço. Mas eu tinha a certeza absoluta de que nós tivemos um processo de aprendizagem extremamente eclético. Eu sabia que se colocasse um tema de heavy metal para o Gileno, ele ia adorar e o mesmo se passaria com o Sérgio porque no fundo, aquilo que fazemos com os nossos instrumentos individualmente é desafiar a competência do próprio. Não só a nossa capacidade, como a do próprio instrumento. Isto é uma sonoridade completamente estranha... Um trompete, uma bateria e um sousafone... portanto agora é só escolher os temas! Quando nós nos juntámos não precisámos de muito tempo para perceber que a coisa iria funcionar.
Vocês têm como ponto de partida alguns standards ou compõem temas originais?
(Sérgio Carolino) Para já, para colocar o trio a funcionar tivemos que fazer "fast food" (risos). Tivemos que nos juntar, escolher uns temas, fazer os arranjos com muito groove... Ou seja, tivemos que nos por a tocar para que as pessoas nos comecem a conhecer. É óbvio que queremos gravar um disco e fazer um bom vídeo promocional e começar, aos poucos, a escrever temas nossos, não esquecendo temas como alguns que já estamos a tocar de Jimi Hendrix, do Miles Davis e de outros mais, incluindo também alguns clássicos como por exemplo dos Eurythmics, dos ABBA... Voltando à questão inicial, queria ainda dizer que já conheço o Gileno há muito tempo, ainda ele era muito novinho mas já com muito talento, acabado de chegar a Portugal. Ele queria aprender jazz. Naquela altura ainda estava tudo a começar. Não havia escolas de jazz... Havia o Hot Clube... Depois ele veio para o Porto. Já acompanho o percurso do Gileno há muito tempo portanto. Já fui um dos conselheiros... Quando me pediram para arranjar novos talentos para apresentar a um projeto eu fui um dos que logo disse que o Gileno era uma boa aposta. Fico feliz porque todos aqueles acerca dos quais eu disse que seriam jovens talentosos têm hoje uma carreira notável na área da música. Falo do Mário Costa, do Gileno, da Susana Santos Silva... Portanto, assim que o Hugo me falou deste projeto, como eu já tinha tocado com ele noutros, disse-lhe que sim, que era algo que estava disposto a fazer. São projetos onde, sobretudo, as pessoas querem aprender, onde haja bom ambiente e onde haja uma relação de amizade pois sem isso não se torna possível, e onde as pessoas não tenham preconceitos de tocar aquilo que lhe vier à cabeça. Isto é algo do género: "Um mata, outro esfola e o outro ainda vem por trás e passa aquilo tudo numa grelha fazendo aqui um cozinhado interessante" (risos). Eu gosto deste tipo de abordagem.
Está portanto em cima da mesa a possibilidade de fazer um disco dos Drumtupete Jazz Demolition...
(Sérgio Carolino) Na minha perspetiva, o disco é uma maneira de nós ensaiarmos. Hoje em dia o disco tem o valor que tem... Mas quando fizermos o disco sei que vamos estar a tocar melhor. De certeza que nessa fase o projeto estará mais sólido. No fim de gravarmos um disco, após termos repetido tantas vezes a mesma coisa, aquilo vai ficar ensaiado para o resto da vida (risos).
Independentemente de cada um de vocês se encontrar em mil e um projetos, vão querer levar o Drumtupete para a estrada, não é? Este espetáculo aqui em Aveiro é a vossa primeira aparição em público?
(Gileno Santana) Este concerto aqui em Aveiro é o segundo que fazemos. O primeiro foi em paredes, foi do tipo: "Vamos lá ver como isto soa". Neste nosso projeto não há pautas. É só ouvir e tocar. Assim que o Hugo me convidou, aceitei de imediato pois já há muito tempo que queria tocar também com o Sérgio. O Sérgio é uma daquelas pessoas às quais eu tenho uma forte ligação. São coisas difíceis de explicar. É uma ligação que vem desde os meus primeiros tempos em Portugal.
Desde aquele início que nos contou em março na Casa da Música...
Sim. Exatamente. O Sérgio é um daqueles anjos de que falei. Mais tarde conheci o Hugo Danin num contexto de bandas e logo o convidei para o meu quinteto. Assim que falámos pela primeira vez sobre este projeto eu pensei que seria uma combinação explosiva, daí que o nome seja "Drumtupete Jazz Demolition". Isto foi mesmo "juntar a fome com a vontade de comer". Nós os três estávamos dispostos a arrancar com este projeto porque os três partilhamos as mesmas ideias musicais. Portugal tem uma coisa boa e que é o facto de ainda haver muita coisa por explorar. Lembro projetos como o TGB que é um projeto singular. Penso que este nosso projeto irá ter a mesma projeção porque é algo único. Em Portugal, talvez ainda ninguém tenha ouvido tuba, trompete e bateria. (Sérgio Carolino) Isto não é um trio de jazz. Eu próprio não sou músico de jazz, apenas toco algumas coisas parecidas com jazz. Sou um improvisador. O Hugo Danin é uma pessoa que vem de várias áreas, o Gileno também aborda várias áreas... Mas a ideia não era fazer um trio de jazz. Mas vamos à questão de colocar o grupo na estrada. Isto é tudo muito bonito na secretária e quando se grava um disco. Mas, eu sei por experiência própria, - tenho ganho inclusivamente prémios com discos que tenho feito no estrangeiro – que colocar um projeto destes na estrada em Portugal, e até mesmo no estrangeiro, não é fácil. O maior desafio que nós temos neste trio nem é tocar e gravar. O maior desafio será conseguir que as pessoas ouçam e comprem este projeto. Isto está muito complicado. Vender projetos deste género torna-se muito difícil. Por exemplo os TGB, que é capaz de ser dos grupos mais vendáveis em várias áreas, até nos festivais de música contemporânea poderia ser vendido, e nós tocamos uma ou duas vezes por ano! E só tocamos porque conhecemos os diretores artísticos deste festival ou daquele cineteatro. Quando não conhecemos, nem nos dão resposta. Somos um grupo premiado e toda a gente conhece o Alexandre Frazão e o Mário Delgado, até porque são dos melhores músicos que temos no nosso país e mesmo assim não conseguimos vender o espetáculo.
Vocês têm algum tipo de agenciamento?
(Todos em uníssono) Zero! (Hugo Danin) Não penso que neste momento faça sentido até porque o projeto nasce de uma vontade minha, embora eu soubesse que eles iam aceitar, e o que nós se calhar vamos fazer é dar um pontapé nestas coisas todas que o Sérgio está a dizer. Nós vamos tocar quando nos apetecer, às horas que nos apetecer, com as condições que nos apetecer e mais, se não nos deixarem tocar, nós vamos tocar para o meio da rua porque não precisamos de amplificação. Ao contrário de outros projetos onde estamos inseridos por razões profissionais e de necessidade, o que é normal porque somos músicos e dependemos disso, este é daqueles projetos em que nós vamos fazer os possíveis e os impossíveis por nos divertirmos imenso. Queremos dar às pessoas aquilo que de melhor temos, ou seja, a honestidade sonora que temos para deitar cá para fora. (Sérgio Carolino) As pessoas que nos ouçam tocar sentirão isso. Nós nem queremos saber se está público ou não. Com ou sem público daremos o nosso melhor. O público funcionará como elemento galvanizador da banda. (Hugo Danin) Para mim 1 é igual a 1000.
Portanto, os projetos para o futuro passam pelo amadurecimento da vossa sonoridade enquanto trio e gravar o vosso disco... Tem havido outras propostas para se apresentarem em público.
(Hugo Danin) Têm. O mais complicado é conseguir datas em que todos possamos. Quando aparece uma data eu ligo para eles e quando um pode, o outro não pode, depois vem uma data em que sou eu que não posso... (risos). (Sérgio Carolino) Isto é complicado porque eu tenho coisas marcadas no estrangeiro com um ano de antecedência. Em Portugal não sei se vou tocar para a semana. Eu toco na Orquestra Sinfónica do Porto e tenho direito a tirar umas semanas devido ao contrato que tenho mas, tirando isso, eu tenho que ter a minha agenda organizada e se me convidam com um ano de antecedência para o estrangeiro, eu tenho que aceitar pois não posso estar um ano à espera para ver se tenho espetáculos em Portugal. Para mim é mais fácil tocar em Tóquio do que em Lisboa. Todos os anos toco em Tóquio e não toco em Lisboa. Portanto, não posso estar à espera de tocar em Portugal, ou que alguém me convide para tocar em Portugal. Eu só sirvo para ganhar prémios em Portugal. É o prémio SPA, são as boas críticas no Público... Mas para tocar, só toco nos sítios onde conheço os diretores artísticos. Logo, quando nos perguntas se nos vamos fazer à estrada... Nós vamos tocando e tu vais ouvindo falar de nós. (Gileno Santana) Como três cabeças pensam melhor do que uma, nós vamos tocando cada um na sua área e vamos tentando ter ideias para contrariar o sistema do qual temos vindo a falar e certamente iremos conseguir. (Hugo Danin) Isto nasceu de uma forma diferente do habitual. O grupo nasceu no FaceBook. Juntei os três no mesmo Chat e perguntei "Pessoal vamos fazer isto?". Um arranjou logo quem fizesse o logótipo que está incrível, outro começou logo a arranjar um sítio para irmos tocar, portanto, naturalmente é esta a maior força que três pessoas entusiasmadas podem ter. Este disco que por aí virá vai ser a materialização dos nossos momentos de trabalho a sério e vai partir tudo!
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